Quaresma: caminhada universal da Igreja

Foto: João Lopes Cardoso

Por Secretariado Diocesano da Liturgia 

Eis-nos chegados ao santo tempo da quaresma! Nos primeiros domingos do Tempo Comum, a Liturgia da Igreja propôs-nos o Evangelizador e o Evangelho vivo – Jesus – a anunciar o Reino de Deus e convidando à conversão. Entramos, agora, na primeira fase do ciclo pascal que consiste em seguir a Cristo no deserto para, como novo Povo de Deus, refazermos com Ele o êxodo «desde o Nilo ao Jordão», prosseguindo, depois, até ao Pentecostes da nova Aliança.

O Diretório sobre a piedade popular e a Liturgia, de 17 de dezembro de 2001 (ler em  EDREL 5649-5939), fornece-nos uma descrição sintética deste tempo litúrgico: «A Quaresma é um tempo que precede e dispõe para a celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais frequente às «armas da penitência cristã»:  a oração, o jejum e a esmola (cf. Mt 6, 1-6.16-18)» (n.º 124 = EDREL 5772). Neste sumário estão sintetizados os principais elementos que fazem da Quaresma um «tempo favorável» e, conforme a linguagem das orações, um «sacramento salvífico»:

– A Quaresma “precede e dispõe para a celebração da Páscoa”: é «caminhada», para além e independentemente das várias dinâmicas pastorais e catequéticas assim chamadas, com que, na melhor das hipóteses, se pretende fazer a sua pedagogia. Mas não se esqueça a caminhada fundamental e universal proposta no Missal, Leccionário e Rituais (principalmente da Iniciação cristã e da Penitência). Bom símbolo desta caminhada são as procissões das estações quaresmais, novamente sugeridas no novo Missal (p. 186)

Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão: a genuína conversão cristã exprime-se, certamente, em práticas que se tornaram tradicionais; mas é suscitada e permanentemente alimentada pela escuta da Palavra de Deus. Importa, por isso, valorizar os vários Leccionários litúrgicos (dominical, ferial e do Ofício de Leituras da LH) com a sua rica programação da escuta eclesial da Palavra da Vida. É tão importante respeitá-los que, neste tempo de graça, a sua interrupção pelo Leccionário Santoral deve ser uma exceção. Por isso, os domingos da Quaresma têm precedência sobre todas as solenidades do Calendário e as férias gozam de precedência em relação a todas as Memórias (que passam a facultativas).

Tempo de preparação e de memória do Batismo: já o II Concílio do Vaticano destacou a característica batismal da Quaresma e os livros litúrgicos sublinham a importância de nela se percorrerem as principais etapas do itinerário da Iniciação cristã. Entretanto, todos os batizados são convidados a renovar na Páscoa as promessas do Batismo pelo que esta dimensão há de estar presente e ter destaque, mesmo na ausência de catecúmenos eleitos a admitir aos sacramentos pascais.

Tempo de reconciliação com Deus e com os irmãos: a Quaresma é caracterizada igualmente pelo itinerário penitencial que tem, como momento culminante, o regresso à candura e pureza batismal pela celebração do Sacramento da Reconciliação. Ainda que hoje tenha desaparecido do discurso eclesiástico a urgência da «desobriga» pelo cumprimento do preceito canónico da confissão e comunhão eucarística ao menos uma vez por ano e pela Páscoa, contudo a Quaresma continua a ser «tempo favorável» para os batizados celebrarem este Sacramento do Perdão. E as agendas dos presbíteros, ao menos neste tempo, oferecem aos fiéis com maior largueza a ocasião de se reconciliarem.

– Tempo de recurso mais frequente às «armas da penitência cristã»:  a oração, o jejum e a esmola: a penitência só pode ser celebrada se antes for vivida. Terá, portanto, de se tornar «hábito» e, finalmente, «virtude». E aqui recobram importância as práticas tradicionais, porventura revitalizadas e inseridas num caminho de conversão: de si, a Deus e aos irmãos.