Mensagem (156): Cobiça

Quando, na «doutrina», a catequista nos obrigava a trautear os “Mandamentos da Lei de Deus”, chegar ao décimo constituía uma espécie de libertação. E o “não cobiçar as coisas alheias” era pronunciado com voz mais alta e pausada, como que para dar solenidade a um difícil interrogatório que se ultrapassava com êxito. Na nossa cabecita de uns sete ou oito anos, estava completamente ausente o mundo conceptual que se escondia por detrás do verbo «cobiçar»…

Como todos os mandamentos que se referem às relações humanas, também este não se compreende fora do núcleo significativo dos dois primeiros: relação do homem com um Deus que não admite a adoração de outros deuses nem se deixa aprisionar em qualquer estátua ou idolatria construídas por mão humana. É para onde aponta a admoestação solene que antecede o Decálogo: “Eu sou o Senhor, o teu Deus” (Ex 20, 2).

O preceito vinca bem dois dados: que a propriedade do próximo é inviolável e, por isso, encontra no mandamento uma tutela segura; que não só se proíbe o furto como a apetência de furtar. Ou, por extensão, o desejo desordenado, doentio, imoral dos bens materiais, por vezes conseguidos à custa dos outros.

Sim, quando alguém se deixa mover pela ganância insaciável, quase sempre se apropria do que é do próximo. Se toma para si coisas tidas como de outrem, ninguém tem dúvidas de considerar esse ato como furto ou roubo. E é sancionável pela lei. Mas há situações de grande subtileza e não tão claras. Por exemplo, no mundo da economia, é possível que a ganância conduza à exploração pura e dura. Claro que não se lhe vai chamar assim. A modernidade, que é especialista em modificar o sentido das palavras, até é capaz de a designar por «ambição» por parte do investidor. Mas ambição de… exploração.

Cortar com este mandamento é deixar de pertencer ao “povo de Deus” ou de ter o Senhor por seu Deus. Porque é um virar-se para a idolatria da adoração de falsos deuses, o principal dos quais é o dinheiro. Por isso, o mandamento funciona como norma ética de convivência entre pessoas, mas também como relação fiducial de quem adora o Deus libertador da escravidão do Egipto e de todas as escravidões dos ídolos originados no coração. É por isso que Jesus pôde sintetizar todos os Mandamentos em apenas dois: amar a Deus e amar o próximo.

Pensemos nisto nesta quaresma.

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