Domingo II da Quaresma

Foto: João Lopes Cardoso

13 de Março de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Génesis                                                                               Gen 15, 5-12.17-18

«Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar».

 

Salmo Responsorial                                                                    Salmo 26 (27)

O Senhor é a minha luz e a minha salvação.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses                                 Filip 3, 17 – 4,1

«O Senhor Jesus Cristo transformará o nosso corpo miserável para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso».

 

Aclamação ao Evangelho

Louvor e glória a  Vós, Jesus Cristo, Senhor.

No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:

«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas              Lc 9, 28b-36

«Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar».

«Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O».

«Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto».

 

Viver a Palavra

A Liturgia da Palavra deste Domingo coloca-nos de olhos fixos em Jesus de Nazaré, o Filho Amado, o Eleito, que na intimidade da oração entra em comunhão com o Pai e nos revela o mistério de luz que irrompe na nossa vida quando nos abrimos ao diálogo de «amizade, estando muitas vezes e a sós com Quem sabemos que nos ama» (S. Teresa de Ávila,  Livro da Vida 8,5).

A Transfiguração de Jesus faz ecoar no coração dos discípulos escolhidos para subir ao monte as palavras que cantávamos no Salmo Responsorial: «O Senhor é a minha luz e a minha salvação». A vida de Jesus com os Seus gestos, as Suas Palavras, os Seus milagres e prodígios são o anúncio e realização do projecto salvífico do Pai que nas palavras dos Profetas e na Lei confiada ao Povo de Israel, prefigurava Aquele que em plenitude nos haveria de revelar a Lei nova do amor e realizar a profecia do Reino Novo que somos chamados a construir no aqui e agora do tempo e da história.

Jesus, que se faz presente nos desertos da nossa vida, conduz-nos com Ele ao monte, para passarmos da aridez do deserto à luz transfiguradora e transformadora do Seu amor: «Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar». O cimo do monte é o lugar onde o dia amanhece mais cedo e onde se pousa o último raio de Sol. O cimo do monte é sempre um lugar privilegiado de encontro com Deus: até geograficamente estamos mais perto do céu, esse lugar onde brilham as estrelas da promessa que Deus manifestou a Abraão e o fazem caminhar até à terra onde Deus o espera e onde Abraão é alcançado pelo amor e pela condescendência de Deus.

Por isso, precisamente aí, Jesus faz resplandecer a existência, reacende a esperança e faz luzir o amor. Com Pedro, João e Tiago, também nós somos convidados a subir ao monte. Baptizados em Cristo e ungidos pela força do Espírito Santo somos discípulos missionários, escolhidos pelo Pai, para saborear a beleza da intimidade com Ele e experimentar o estupor que inundou o coração destes três discípulos e que fez Pedro exclamar: «Mestre, como é bom estarmos aqui!».

Como deveria ser belo ver Jesus rezar, ver Jesus entrar em diálogo íntimo de amor com o Pai. Por isso, não nos espanta que numa outra ocasião, estando Jesus em oração, os discípulos lhe tenham pedido: «Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11,1).

Caminhar com Jesus, preparando a Sua Páscoa, é tomar consciência da urgente necessidade de uma vida orante que se faz escuta da Palavra do Pai. A verdadeira oração não é aquela que se faz até que Deus nos ouça, mas aquela que se realiza incessantemente até que possamos escutar a voz de Deus: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». A voz, que emana da nuvem e que nos recorda a necessidade de viver de olhos fixos em Jesus e de coração aberto e disponível para a Sua palavra, apresenta Jesus como o Filho Amado, o Eleito do Pai que nos revela que a paixão, o sofrimento e a morte não têm a última palavra e, por isso, a «morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém» de que falavam Moisés e Elias é caminho para a glória plena, total e definitiva da qual a Transfiguração é sinal e antecipação.

Deste modo, S. Paulo recorda-nos que «a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso», para nos ensinar a arte de ler os sofrimentos do tempo presente como lugares de passagem para a alegria plena e definitiva que só Jesus e o Seu amor nos podem oferecer.

A Quaresma é o tempo privilegiado e escolhido por Deus para contar as estrelas do Céu apontadas a Abraão, para renovar no coração a aliança de amor que Deus realiza, já não nos animais oferecidos em sacrifício, mas no Cordeiro imolado por nosso amor.

 

Homiliário patrístico

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Séc. V)

O Senhor manifesta a sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo faz resplandecer o seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que o seu rosto se torna brilhante como o sol, e as suas vestes brancas como a neve.

A principal finalidade desta transfiguração era fazer desaparecer do coração dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada, não perturbasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo. Mas, segundo um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido à esperança da Igreja, de modo que todo o Corpo de Cristo pudesse conhecer a transfiguração com que ele também seria enriquecido, e os seus membros pudessem contar com a promessa da participação daquela glória que primeiro resplandecera na Cabeça.

Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram a falar com o Senhor, a fim de que na presença daqueles cinco homens se cumprisse integralmente o que está escrito: Será digna de fé toda a palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas. Na verdade, as páginas de uma e outra Aliança confirmam-se mutuamente, e o esplendor da glória presente mostra, de maneira certa e manifesta, Aquele que as antigas figuras tinham prometido sob o véu do mistério; porque, como diz São João, a lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. N’Ele se cumpriram integralmente a promessa das figuras proféticas e o sentido dos preceitos da Lei; porque pela sua presença mostra a verdade das profecias, e pela sua graça torna possível a observância dos mandamentos.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. Neste Domingo, dia 13 de Março, celebra-se o 9.º aniversário da eleição do Papa Francisco. Conforme indica o directório litúrgico, onde se fizerem celebrações especiais, pode dizer-se a missa do aniversário da eleição do Papa. Em todas as missas, na oração universal, deve incluir-se uma intenção especial pelo Papa.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura narra a aliança que Deus estabelece com Abrão e deve ler-se Abrão e não Abraão. Além disso, a proclamação deste texto deve ter em atenção o diálogo estabelecido entre Deus e Abrão que é fundamental para uma correcta leitura. A Epístola de S. Paulo aos Filipenses está dividida em duas partes separadas pela conjunção adversativa “Mas”. Por isso, a proclamação desta leitura deve ter presente esta estrutura e deve ter uma especial atenção às frases longas com várias orações. A conclusão do texto – «Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor» – deve ser enfatizada pois apresenta a exortação final de Paulo aos filipenses.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Procurai a face do Senhor – M. Carneiro (RBP, p. 20-23); Salmo Responsorial: O Senhor é minha luz e salvação (Sl 26 (27)) – F. Santos (BML 50 | LS-C, p. 66); Aclamação ao Evangelho: Louvor a Vós | No meio da nuvem luminosa – F. Santos (BML 35); Ofertório: Na glória do teu rosto – F. Santos (CP III, p. 268 | LHC III, p. 219); Comunhão: Jesus tomou consigo – C. Silva (CN 562); Pós-Comunhão: Ao ouvirem a voz do Pai – F. Santos (CP III, p. 275 | LHC III, p. 235); Final: Ave, Regina caelorum – C. Gregroriano (CN 232).