
D. Edgar Peña Parra, Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano esteve na Casa Diocesana de Vilar no Porto. Falou sobre o tema: “A Igreja e o futuro do mundo no pós-pandemia”. Sublinhou que a Igreja deve estar “à escuta de Deus e da realidade” num “processo sinodal” de “abertura face ao mundo”. Afirmou que “o Evangelho só é credível se for anunciado por pessoas que se amam”.
Por Rui Saraiva
De 18 a 20 de fevereiro está de visita à diocese do Porto, D. Edgar Peña Parra, Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano. Destaque principal para a conferência que teve lugar na Casa Diocesana de Vilar, na sexta-feira, dia 18. O tema foi “A Igreja e o futuro do mundo no pós-pandemia”.
Estiveram presentes nesta conferência o bispo do Porto, D. Manuel Linda e os bispos auxiliares, D. Pio Alves, D. Armando Domingues e D. Vitorino Soares. Especial destaque para a presença do Núncio Apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo.
O grande auditório da Casa de Vilar, recentemente dedicado à figura de D. Júlio Tavares Rebimbas, que edificou aquela estrutura diocesana, registou a presença de mais de 700 diocesanos nesta sessão pública.
Igreja em “processo sinodal”
Na sua comunicação, D. Edgar Peña Parra sublinhou que “a pandemia fez com que seja necessário repensar o modelo da Igreja a partir da realidade”. Salientou a importância do processo sinodal em curso.
“Estar à escuta de Deus e da realidade” – frisou o diplomata do Vaticano assinalando a necessidade de não se “perder um ar apaixonado sobre o mundo”. “Não nos deixemos levar pelo pessimismo” – apontou.
“Levar um olhar de bênção ao mundo” formulando esse ato através do “diálogo”. “Não é apenas uma lógica de convivência. Mas porque estamos convencidos da presença de Deus em toda a parte” – salientou.
O Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano acentuando a atitude da Igreja que deve ser de abertura face ao mundo, afirmou que “o fecho de fronteiras é uma atitude de pouca fé”, assim como “ter medo do que é diferente”.
“Uma igreja que retoma a sua vocação de ser sal e de ser luz” – disse o prelado. “Somos chamados a levedar a história e a iluminar os lugares” – acrescentou. “Chamados a olhar para os últimos, os pobres e os doentes” – declarou.
Na sua conferência, D. Edgar Peña Parra apresentou três grandes desafios que o Papa Francisco tem sublinhado no seu pontificado e que se aplicam ao presente e futuro da Igreja e do mundo no pós-pandemia: as relações, a misericórdia e a oração.
As relações
Desde logo, a necessidade de relações humanas – assinalou o diplomata da Santa Sé. “A Boa Nova é incompreensível sem as relações” – disse.
D. Edgar salientou que “o encontro é um acontecimento” e que a experiência eclesial deve ter lugar numa “igreja aberta” onde se viva “a experiência do amor de Deus”.
Assinalou ainda a importância da vivência da fé em comunidades abertas que fomentem o valor da proximidade e sejam verdadeiros “hospitais de campanha”, como propõe o Papa Francisco.
A misericórdia
Como segundo desafio, D. Edgar Peña Parra abordou o tema da misericórdia, tão importante no pontificado do Papa e em todo o seu percurso de vida.
O Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano lembrou a presença do tema da misericórdia nos quatro Evangelhos. “A misericórdia é a experiência de se saber amado. Experimentar em nós mesmos a experiência da salvação” – frisou.
“Ser Amado e perdoado por Deus” – disse D. Edgar recordando o episódio da mulher adúltera. “Jesus toma o partido da mulher, mas não esquece a verdade” – afirmou lembrando as palavras de Cristo à mulher: “Vai e não voltes a pecar”.
A oração
Finalmente, D. Edgar falou sobre a oração como terceiro grande desafio deste tempo que estamos a viver. “A oração como discernimento” – disse D. Edgar Peña Parra pedindo que não se confunda a oração com “bem-estar”.
Assinalou que através da oração deve-se promover uma “relação com Deus” para “discernir a Sua vontade”. “Na escuta da Palavra e na experiência de vida espiritual” – apontou.
“A oração é para conhecer a vontade de Deus. Não é apenas uma vivência psicológica” – afirmou o prelado.
Evangelho anunciado por pessoas que se amam
Na conclusão da sua conferência, o Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano esclareceu a diferença entre crise e conflito. Lembrou as palavras do Papa Francisco que nos diz que “a crise tem um fim positivo”. Pelo contrário, “o conflito cria uma lógica de culpados”. “Com o conflito perdemos a lógica da unidade” – frisou.
“O Evangelho só é credível se for anunciado por pessoas que se amam” – declarou D. Edgar Peña Parra, salientando a importância da vida em comunidade.
De referir que na apresentação do orador desta conferência, o bispo do Porto lembrou os três grandes valores da cidade e diocese do Porto: o trabalho, a liberdade e a devoção à Virgem Maria. “O contributo do Porto para a alma lusa” – assinalou.
Agradecendo muito a disponibilidade do Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano em vir ao Porto, D. Manuel Linda pediu aos seus diocesanos que a sinodalidade esteja bem presente na vida da diocese.
Em tempo de perguntas e respostas e a propósito de uma sobre a presença da Igreja nas escolas, D. Edgar Peña Parra frisou a importância das redes sociais. E salientou que as crises, como aquela que estamos a viver, são oportunidades. Neste particular, D. Manuel Linda referiu o sucesso do projeto Missão País junto da comunidade universitária.
Ainda na resposta a uma outra pergunta sobre a descristianização da Europa, D. Edgar Peña Parra lembrou o crescimento do número dos católicos a nível mundial, em particular na Ásia e África. Propôs que tudo deve passar pelo assumir individual da missão em cada cristão. Por exemplo, convidando amigos e conhecidos para a missa e para encontros. Possibilitando experiências de fé.