Discernimento e sinodalidade

Por Joaquim Armindo

O discernimento, no estilo sinodal, não é alguma coisa que parta de uma única pessoa, por mais “graduada” que ela seja. O discernimento apoia-se num processo amplo com “base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito”, é o que refere o ponto nono do documento preparatório do próximo Sínodo dos Bispos. Seriam eles próprios a decidir qual o caminho que o Espírito escolhe, se não fosse chamado, também, o Povo de Deus, a dar o seu parecer. Mas uma vez que foi chamado, aí estará para também serem acolhidas todas as suas opiniões, para a “base de um consenso”; diríamos que este consenso não deixará nunca de ser dos bispos, porque a reunião é sinodal no respeitante a eles próprios. Mas já que nos colocaram em mãos o “nosso parecer” é necessário saber quais os “procedimentos” e “métodos” utilizados para que esse parecer possa ser profícuo. E bem pergunta o documento: “Como promovemos a participação na tomada de decisões, no seio de comunidades hierarquicamente estruturadas? Com que instrumentos promovemos a transparência e a tomada de responsabilidade?” A resposta a estas perguntas promoverá ou não o caminho da Igreja Sinodal, toda uma Igreja em Sínodo, ultrapassando corpo que é o “Sínodo dos Bispos”, que com toda a legitimidade existe, mas não é o “Sínodo da Igreja”.

É imperativo uma formação da “pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades”, afirma o documento, que vimos citando, o que significa formar em sinodalidade, a esta matéria nunca nos devemos esquecer de Paulo Freire, quando no seu livro “Pedagogia do Oprimido”, refere que “ninguém ensina ninguém, antes ensinamo-nos uns aos outros”, é esta a máxima que deverá presidir à formação desde os mais aos menos eruditos, mais, serão estes mesmos que ensinarão com acuidade aqueles que se julgam donos da verdade e do saber. O “caminhar juntos” pressupõe isto mesmo, caminhar na educação de todos por todos, não existe ensino se não existe diálogo, mas um monólogo. Só no diálogo conseguiremos o “exercício da autoridade”.

As variegadas culturas onde cada grupo, cada comunidade, estão inseridos, são o “impacto no nosso estilo de Igreja”. Se não existir escuta, compreensão da cultura de cada grupo e comunidade, não saberemos transmitir para o Sínodo dos Bispos, aquilo que sentimos e somos ou fomos. É o ouvir de cada um e de cada uma pessoa que constitui a serenidade para um diálogo sinodal precioso. Se impusermos pessoas e fórmulas designativas de como é a sinodalidade e o diálogo, estaremos a falhar naquilo que os bispos pretendem: partir com as nossas decisões e opiniões.