
A Laudato Sí, do Papa Francisco, “sobre o cuidado da casa comum”, vai fazer sete anos. É bom recordá-la. Trata-se de um documento marcante, só comparável à coragem de Leão XIII ousar tratar a questão operária (1891): foi a primeira encíclica pensada e «produzida» pelo atual Pontífice, pois a Lumen fidei também se deve a Bento XVI, e insere no âmago da teologia uma temática que não dispunha de uma área tutelar.
É verdade que a teologia moral já referia o assunto. Fazia-o a partir de dados científicos iluminados pela Revelação, mas sem possibilidade de apelo à solidez do Magistério. Fazia-o como lhe compete: observar o mundo e intentar uma resposta de fé às problemáticas com que se confronta. Porém, sem dispor da autoridade de um Papa e da solenidade de uma encíclica.
Para os crentes, de facto, o lugar da reflexão ecológica é a teologia. É na chamada Protologia que se descobre o mundo como produto bom de um Deus bom e a obrigação de fidelidade às razões pelas quais foi criado. A melhor garantia do compromisso com a natureza reside no assombro dessa teologia da criação que leva o crente exclamar: “Louvado seja Deus por tanto bem e tanta beleza”. Este deslumbramento gera o respeito; fora deste quadro poético, fica apenas o prosaico que faz da terra uma simples matéria-prima ou bem de consumo a explorar até à exaustão. Sofregamente.
Por outro lado, como já se intuía com os célebres três “R” –reciclar, reutilizar, reduzir- a ecologia é uma questão de comportamentos, de atitudes, de valores a privilegiar. Não tanto de técnicas, mas sim de condutas. E estas dizem respeito à moral. A dois níveis: corresponsabilidade pessoal para desagravar o problema e discernimento das situações com que se interliga, gerando o pecado estrutural.
O Papa Francisco acena a tudo isto. Mas desenvolve especialmente este último âmbito: o consumismo desenfreado que se apossou da humanidade e a consequente economia «sem alma» originam a degradação ambiental e as alterações climáticas. Estas, por sua vez, vão refletir-se, fundamentalmente, nos pobres, detentores de uma fragilidade acrescida em todos os âmbitos.
A salvaguarda da casa comum é, pois, uma espécie de artigo do Credo. Até porque, como dizia o Papa, “das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”.
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