Domingo VI do Tempo Comum

Foto: João Lopes Cardoso

13 de Fevereiro de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro de Jeremias                                                                                         Jer 17, 5-8

«Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança».

 

Salmo Responsorial            Salmo 1

Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios                   1 Cor 15, 12.16-20

«Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram».

 

Aclamação ao Evangelho           Lc 6, 23ab

Aleluia.

Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor,

porque é grande no Céu a vossa recompensa.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas              Lc 6, 17.20-26

«Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos, e deteve-Se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão».

«Erguendo então os olhos para os discípulos, disse: Bem-aventurados vós…».

«Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa».

 

Viver a Palavra

Como cristãos somos chamados a inscrever a nossa existência num horizonte de fé e de esperança que nos projecta para lá da auto-suficiência do presente e nos faz entrar na lógica da confiança naquele que tudo sustenta e que transforma as nossas vidas em lugares fecundos, com raízes voltadas para a corrente e uma folhagem verde, onde se podem entrever saborosos e abundantes frutos.

O profeta Isaías confirma esta certeza, convidando-nos a abandonar a nossa lógica falível de confiança unicamente nas nossas forças para nos abandonarmos nas mãos Daquele que nunca nos abandona: «Maldito quem confia no homem. (…) Bendito quem confia no Senhor».

Somos herdeiros da vida nova que brota da Páscoa de Cristo e, interpelados por S. Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, reconhecemos que não é vã a nossa fé, porque sabemos que a nossa esperança não se esgota no tempo presente. A nossa vida está inscrita nesse horizonte de vida e eternidade para onde a ressurreição de Cristo nos projecta.

Por isso, somos felizes! Somos bem-aventurados! Somos convocados para viver a lei nova do amor, já não inscrita em tábuas de pedra, mas gravada no coração renovado e transformado pela força vivificante da ressurreição de Cristo. Já não se trata de uma lei apofática, que nos recorda aquilo que não devemos fazer, mas uma lei nova que Jesus proclama na planície, uma lei de máximos, que nos faz olhar a medida alta da santidade, o caminho exigente de quem se disponibiliza para o acontecer de Deus.

No Evangelho de Lucas, Jesus proclama quatro bem-aventuranças: «bem-aventurados vós, os pobres», «bem-aventurados vós que agora tendes fome», «bem-aventurados vós que agora chorais», e «bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem» e contrapões a estas bem-aventuranças quatro advertências: «ai de vós, os ricos», «ai de vós, que agora estais saciados», «ai de vós que rides agora» e «ai de vós quando todos os homens vos elogiarem».

Uma vez mais estamos diante desta passagem da nossa lógica humana de auto-suficiência para a confiança no Deus que enriquece a nossa pobreza, sacia a nossa fome, enxuga as nossas lágrimas e derrama sobre nós o amor que vence o ódio e a violência.

As bem-aventuranças são o como afirma o Papa Francisco: «o bilhete de identidade do cristão» e, por isso, continua o Santo Padre: «se um de nós se questionar sobre “como fazer para chegar a ser um bom cristão?”, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia-a-dia da nossa vida. A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinónimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade» (GE 63-64).

Na verdade, só Jesus é o Bem-aventurado por excelência. É Ele o pobre em Espírito que inaugura no tempo e na história o Reino de Deus. Ele que teve fome no deserto e sede no alto da Cruz, quer saciar a nossa fome e sede e oferece o Seu Corpo como alimento e o Seu Sangue como bebida verdadeira. É Ele que assume sobre si as nossas dores e, chorando connosco, enxuga as nossas lágrimas e anuncia o mistério da consolação. Ele, que foi odiado, rejeitado e insultado por amor do Reino dos Céus, fortalece a nossa caminhada na exigente tarefa de ser testemunha do Seu amor.

Por isso, coloquemos o nosso olhar em Jesus de Nazaré, Aquele que nos convida depositar as nossas vidas nas Suas mãos, para que a nossa existência possa fazer ecoar no mundo a melodia que cantámos no Salmo deste Domingo: «Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor».

 

Homiliário patrístico

Início do Sermão de São Leão Magno, papa,

sobre as Bem-aventuranças (Séc. V)

Irmãos caríssimos: Quando Nosso Senhor Jesus Cristo pregava o Evangelho do reino e percorria toda a Galileia curando as mais diversas enfermidades, a fama dos seus milagres divulgou-se por toda a Síria, e de toda a Judeia afluíam grandes multidões ao médico divino. Porque a ignorância humana é tão lenta para acreditar no que não vê e esperar o que não conhece, era necessário que aqueles que deviam ser confirmados nos ensinamentos divinos fossem estimulados com benefícios corporais e milagres visíveis; e assim, experimentando o poder benéfico do Senhor, não duvidariam da sua doutrina salvadora.

Então a doutrina de Cristo tornava-se manifesta pelas suas mesmas palavras; com elas o Senhor queria declarar os diversos graus que devem subir aqueles que desejam chegar à bem-aventurança eterna.

Bem-aventurados os pobres em espírito, diz o Senhor, porque deles é o reino dos Céus. A que espécie de pobres se referia a Verdade, talvez ficasse incerto se dissesse apenas: Bem-aventurados os pobres, sem nada acrescentar sobre o género de pobreza de que falava. Poder-se-ia pensar que, para merecer o reino dos Céus, bastaria apenas aquela indigência material que muitos padecem por triste e dura necessidade.

Mas ao dizer: Bem-avemturados os pobres em espírito, o Senhor manifesta que o reino dos Céus pertence àqueles que são pobres mais pela humildade interior do que pela carência de bens exteriores.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O VI Domingo do Tempo Comum é ocorre na véspera do dia 14 de Fevereiro, dia dos namorados. A Pastoral Familiar da paróquia pode convidar os namorados a participar de modo especial na celebração deste Domingo e valorizar-se a sua presença com uma oração rezada em conjunto ou uma especial bênção para os namorados/noivos. Recordo que a Exortação Amoris Laetitia convida «as comunidades cristãs a reconhecerem que é um bem para elas mesmas acompanhar o caminho de amor dos noivos» (AL 207). Além disso, este momento torna-se uma oportunidade para os casais de namorados cristãos olharem o tempo de namoro como tempo feliz de preparação para o sacramento do matrimónio num caminho comunitário.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura não apresenta nenhuma dificuldade aparente, contudo, a proclamação deve ter em conta a construção do texto em duas partes distintas que caracterizam duas atitudes: «Maldito quem confia no homem» e «Bendito quem confia no Senhor». Na segunda leitura deve haver uma especial atenção à longa frase interrogativa com que inicia a leitura. Deve evitar-se dar a entoação interrogativa apenas nas palavras finais da frase e acentuar a partícula interrogativa “porque” e o respectivo verbo “dizem”. O leitor deve estar atento às três frases condicionais e dar um especial ênfase à conclusão – «Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» – que sintetiza a mensagem de toda a leitura.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Sede a Rocha – M. Simões (CN 903); Salmo Responsorial: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor (Sl 1 – M. Luís (SRML, p. 292-293); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor – J. Roux (CN 54); Ofertório: Aquele que medita dia e noite – C. Silva (CN 219); Comunhão: Bem-aventurados – A. Cartageno (BS 96); Pós-Comunhão: Quem confiar no Senhor  – C. Silva (OC 254); Final: Louvai o nome do Senhor – A. Cartageno (CN 588).