“Tomar a palavra” é um dos pontos (núcleos) que consta do documento preparatório do Sínodo dos Bispos, de 2023; este convite feito aos cristãos e às cristãs, que pode, e deve, ser estendido a todos e todas as pessoas de outras tradições religiosas ou ateus, por parte do bispo de Roma e papa Francisco, para os bispos terem em consideração o ponto de vista de quem não é bispo, é expressivo na sua contextualização do “falar com coragem”, “liberdade, verdade e caridade”.
Por Joaquim Armindo
“Tomar a palavra” significa ser capaz de encontrar incompreensão, mas, também, de quem é “livre e autêntico”, e que não se refugia em “ambiguidades e oportunismos”. quem assim proceder na Igreja, mais o fará na sociedade, o que se traduz num compromisso autêntico com a verdade, verdade na relação de uns com os outros, verdade na comunicação social, sejam cristãos ou não. “Tomar a palavra” é tantas vezes um ato de coragem, aliás, como Jesus tomava no meio das multidões, mesmo sabendo ser procurado por quem o queria calar, matando-o. “Tomar a palavra”, falar na comunidade, e, agora, por um dever dum Sínodo que se irá realizar, não são atos de covardia, mas a única atitude que se espera de cada um de nós.
“Tomar a palavra” é, também, ouvir, duma forma expressiva, expectante daquilo que os outros dizem. E como poderemos “ouvir” os passos das “minorias, dos descartados e dos excluídos”, se não formos capazes de nos tornar “leigos” sem sabedorias, tantas vezes ocas, ou compadrios que nos levam a desprezar as opiniões sábias de quem é leigo, e muito mais dos excluídos, pela sociedade, igreja e por nós próprios. Escutar é ouvir, e é falar ativamente, será ir ao encontro de tantos e tantas que não suportam a igreja por aquilo que ela fez e faz. “Tomar a palavra” é uma atitude de ouvir os outros, de dar espaço para que possam não ter algum “medo” de falar, de afirmar as suas convicções, por muito que seja custoso ouvi-las. A nossa palavra ao “Tomarmos a palavra” não será profícua se não tiver o argumento necessário para o “tu” – sem ele não existiria o “eu” -, deixar escorrer a sua palavra, como a água em torrentes de precipício.
Será assim que nos tornamos “os companheiros de viagem”, um “lado a lado” desperto e dum caminho a percorrer. Nunca caminharemos juntos se, um que seja, não “Tomar a palavra”, for “deixado à margem”, quer sejam da igreja os dos “perímetros” da igreja que perceberam não ser ouvidos, nem puderem tomar a palavra. Orgulhosamente seremos nós, sós, a caminhar por um terreno sem regresso, porque nem ouvimos, nem deixamos “Tomar a palavra”, por muito “à vontade” que hipocritamente quisermos fazer crer que estão “à vontade”.