Domingo V do Tempo Comum

6 de Fevereiro de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro de Isaías                                                                                 Is 6, 1-2a.3-8

«Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros».

 

Salmo Responsorial                                                                                           Salmo 137 (138)

Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios                   1 Cor 15, 1-11

«Pela graça de Deus sou aquilo que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil».

 

Aclamação ao Evangelho           Mt 4, 19

Aleluia.

Vinde comigo, diz o Senhor,

e farei de vós pescadores de homens.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas              Lc 5, 1-11

«Estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus»

«Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca».

«Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens».

 

Viver a Palavra

São muitos os que acompanham Jesus e vêm ao Seu encontro e, com toda a certeza, levados pelas mais diversas motivações. A fama de Jesus facilmente se difundia mesmo na ausência das redes sociais e dos mais sofisticados meios de comunicação social. Ao longe e ao largo se iam difundindo os Seus milagres, as Suas palavras cheias de autoridade, o amor dito em gestos concretos que fazia de cada encontro um lugar transformador.

Muitos vão ao encontro de Jesus levados pela curiosidade, para ver, com os seus próprios olhos, os milagres e prodígios que realiza. Outros para escutar as palavras cheias de autoridade que saem dos Seus lábios. Muitos, com certeza, motivados pela esperança de serem curados das suas doenças e sofrimentos. Tantos outros, procurando um sentido para a Sua vida. São diferentes as motivações que fazem aquela multidão aglomerar-se em torno de Jesus. Contudo, hoje, somos nós, os que nos reunimos com Jesus. Dois mil anos depois, como as multidões de outrora, vamos ao Seu encontro. Mas, porque nos queremos encontrar com Jesus? Vamos ao Seu encontro levados pela curiosidade ou para acolher a Sua Palavra e nos deixarmos interpelar pelo Seu amor?

Aqueles que se encontram de verdade com Jesus e se deixam moldar pela Sua Palavra transformam de verdade as suas vidas: as noites mais sombrias e estéreis tornam-se manhãs luminosas e cheias da alegria abundante que nasce do encontro com Ele. Assim aconteceu com Pedro, que tendo andado na pesca toda à noite não tinha pescado nada. Porém, Jesus convida-o a lançar as redes: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Pedro, mesmo sabendo do insucesso daquela noite, ousa lançar as redes, acolhendo o desafio de Jesus e, assim, foi surpreendido pela abundância do peixe que parecia romper a rede. Na verdade, quando a nossa fragilidade e pequenez se abrem à misericórdia e à bondade de Deus, acolhendo os seus desafios, a nossa vida torna-se um lugar fecundo. O nosso pouco com Deus pode tornar-se muito, mas, ao invés, o nosso muito sem Deus serve para muito pouco. Por isso, Pedro, diante desta pesca abundante, sente-se indigno de estar na presença de Jesus: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Este sentimento de fragilidade, pequenez e indignidade está já presente na primeira leitura, quando Isaías contemplando a glória de Deus afirma: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros». Com Jesus, a nossa frágil humanidade não é um obstáculo à graça de Deus mas o lugar privilegiado onde ela actua para manifestar a obra divina. Por isso, também Paulo, o Apóstolo das Gentes, apesar de sentir como «abortivo» e o menor dos apóstolos, afirma desassombradamente: «Pela graça de Deus sou aquilo que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil».    

Com Jesus aprendemos que o medo deve dar lugar à confiança – «Não temas!» – pois o maior milagre não é a pesca abundante, mas Jesus que não se deixa intimidar pelas nossas desilusões, fragilidades ou pecados e nos confia uma missão: «daqui em diante serás pescador de homens». O olhar que Jesus nos dirige vê para lá das aparências e debilidades e abre-nos a porta da esperança, porque, na semente lançada no nosso coração, Jesus consegue ver a árvore que pode nascer e florir com a Sua graça.

 

Homiliário patrístico

Do Sermão de São Leão Magno, papa, sobre as Bem-aventuranças (Séc. V)

Depois do Senhor, os Apóstolos foram os primeiros a dar-nos o exemplo desta magnânima pobreza. À voz do divino Mestre deixaram tudo o que tinham; num momento, passaram de pescadores de peixes a pescadores de homens e conseguiram que muitos, imitando a sua fé, seguissem o mesmo caminho. Com efeito, entre aqueles primeiros filhos da Igreja, todos os crentes tinham um só coração e uma só alma; deixavam todas as suas posses e haveres para abraçarem generosamente a mais perfeita pobreza e enriquecerem-se de bens eternos; assim aprendiam da pregação apostólica a encontrar a sua alegria em não ter nada neste mundo e tudo possuir em Cristo.

Por isso, quando o apóstolo São Pedro subia para o templo e o coxo lhe pediu esmola, disse-lhe: Não tenho ouro nem prata; mas dou-te o que tenho: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda. Que há de mais sublime que esta humildade? Que há de mais rico que esta pobreza? Não tem a força do dinheiro, mas concede os dons da natureza.

Aquele a quem sua mãe deu à luz enfermo de nascimento, a palavra de Pedro o tornou são; e aquele que não pôde dar a imagem de César gravada numa moeda ao homem que lhe pedia esmola, restaurou nele a imagem de Cristo dando-lhe a saúde.

E este tesouro não enriqueceu apenas aquele homem que recuperou a possibilidade de andar, mas também os cinco mil homens que, ante esta cura milagrosa, acreditaram na pregação do Apóstolo. Assim aquele pobre, que não tinha nada que dar a um pedinte, distribuiu tão abundantemente a graça divina que não só restituiu o vigor aos pés de um coxo, mas também a saúde da alma a tantos milhares de crentes: encontrou-os sem forças na infidelidade judaica e restituiu-lhes a agilidade para seguirem a Cristo.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O V Domingo do Tempo Comum é o Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa, recordando-nos a importância da Igreja ao serviço da formação académica em várias áreas do saber. Este Domingo pode ser uma boa oportunidade para falar da importância das instituições eclesiásticas na renovação do tecido social cristão, na formação humanística dos cidadãos, sublinhando a missão da Igreja nas áreas da ciência e da investigação, acentuando a nossa responsabilidade na transformação do mundo e da sociedade. A Igreja como lugar de anúncio do Evangelho deve ser capaz de actuar nos vários âmbitos da sociedade e inculturar a fé no mundo da ciência e da cultura, sobretudo através de fiéis leigos conscientes da sua missão de discípulos missionários.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura apresenta uma alternância entre as descrições da visão de Isaías e o discurso directo presente no texto. Por isso, o leitor deve ter um especial cuidado quer no tom empregue durante as descrições, quer no discurso directo que apresenta inclusive as aclamações dos Serafins. A segunda leitura, tal como nos acostumamos no epistolário paulino, apresenta longas frases com diversas orações. Deste modo, a leitura requer uma boa preparação nas pausas a fazer, na articulação das diversas orações, para que a mensagem seja claramente compreendida.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Vinde, prostremo-nos em terra – A. Cartageno (BS [Bendizei o Senhor 2021], 342); Salmo Responsorial: Na presença dos anjos eu vos louvarei, Senhor (Sl 137 (138) – M. Luís (SRML, p. 290-291); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Vinde comigo, diz o Senhor – M. Faria (CN 52); Ofertório: A Vós, Deus e Senhor  – D. Julien (CN 575); Comunhão: Vinde comigo  – C. Silva (CN 1000); Pós-Comunhão: Demos graças ao Senhor – A. Cartageno (CEC II,27); Final: Ao Deus do Universo – J. Santos (CN 209).