Prosseguindo no Ordinário da Missa anotamos pequenas mudanças nos prefácios, isto é, na parte inicial variável da Oração eucarística.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
O texto é sempre ladeado da música, entendendo-se como «normal» o canto do prefácio. Houve um trabalho de sistematização dos protocolos iniciais e finais. Nos protocolos iniciais ou, quando é o caso, no próprio corpo do prefácio, a menção à mediação de Cristo deixa de ser «por Cristo nosso Senhor» e passa a ser «por nosso Senhor Jesus Cristo»: evita-se assim inserir a meio de um texto eucológico a fórmula da conclusão breve das orações, induzindo os menos atentos a «Amens» fora do sítio…
Na última linha do «protocolo final» [transição para o Santo], o texto passa a ser: «dizendo (cantando) numa só voz:» (no Missal de 1992 dizia-se sempre «cantando…»). Motivo: fidelidade ao original latino e para evitar a incongruência de, muitas vezes, a assembleia desmentir o presidente (e o próprio sacerdote se desmentir a si mesmo) porque não canta mas recita a aclamação angélica. Tenha-se em conta a norma geral do n. 38 da IGMR: «Nas rubricas e normas que se seguem, as palavras “dizer” ou “proferir” devem ser entendidas como referentes quer ao canto quer à simples recitação». Pode-se «dizer» a cantar mas não é nada óbvio que se possa cantar falando… Para que ninguém pense que se está a desincentivar o canto – a música, ao lado, é prova do contrário –, optou-se por manter o «cantando» entre parêntesis.
Após o Prefácio X dos Domingos do Tempo Comum, incluem-se no Ordinário da Missa os Prefácios I, II e III da Santíssima Eucaristia que no Missal Anterior eram mais difíceis de localizar na secção das Missas «ad diversa». No Ordinário da Missa só se apresentam 4 prefácios da Virgem Santa Maria (contra 5 do Missal cessante) mas dá-se a indicação para outros 3, oportunamente localizados na secção Santoral. Como novidade, há um novo Prefácio dos Santos Mártires.
Nas orações eucarísticas passa a haver indicações claras para as intervenções dos possíveis concelebrantes (MRP 641 ss).
Deve referir-se também uma inovação significativa (teologicamente relevante) no canto das orações eucarísticas: o anterior Missal apenas oferecia a escrita musical da Narração da Instituição e da Anamnese com a oblação. Ficava sem canto a epiclese, tanto na parte precedente (sobre os dons) como na consequente (sobre os comungantes). No fundo era a homologação musical da tese que atribuía poder consecratório apenas às Palavras do Senhor, não tomando em consideração o valor da epiclese. Na linha do Catecismo da Igreja Católica e das posições teológicas cada vez mais consensuais, agora o «momento da consagração» não é tão concentrado numa espécie de fórmula. Aliás, a IGMR, que manda ajoelhar à consagração (IGMR 43), diz que o diácono deve permanecer habitualmente de joelhos «desde a epiclese até à ostensão do cálice» (IGMR 179) e o mesmo deve fazer o Bispo na Eucaristia em que presida sem celebrar (cf. Cerimonial dos Bispos, 182). Faz sentido, portanto, que todo este coração da Oração Eucarística seja valorizado e posto em destaque mediante o canto.
Outra mudança a que teremos de nos habituar diz respeito ao término da doxologia final da OE (p. 655): em vez de «…agora e para sempre» passa a dizer-se ou cantar-se «… por todos os séculos dos séculos». Para além de uma mais evidente fidelidade ao latim, é uma questão de coerência e consistência com a conclusão das orações coletas do mesmo Missal. Não é que «agora e para sempre» estivesse mal, a não ser para os critérios rígidos e literalistas de Liturgiam Authenticam. Mas a verdade, também, é que uma maior familiaridade com a cultura e a linguagem bíblica torna hoje mais aceitável o uso do semitismo «séculos dos séculos», que, significativamente, vemos acolhido nas diversas línguas modernas neolatinas: «per tutti i secoli dei secoli», «por los siglos de los siglos», «pour les siècles des siècles»…
Esta alteração na doxologia final da OE traz consigo uma modificação da música que retoma a situação anterior a 1992 a partir de «toda a honra e toda a glória». A par de um «tom simples» o Missal apresenta também a notação musical de um «tom solene», ambos decalcados no original latino. Consequentemente, também muda a melodia oficial para o «Amen». O Cantoral Nacional n. 106 já prevê um desenvolvimento mais festivo para o canto desse amen tão importante, com uma tríplice repetição.