A oração não é magia

Na Festa do Batismo de Jesus, em Roma, o seu bispo papa Francisco, referiu-se à oração da seguinte forma: “A oração não é uma rota de fuga, um rito mágico ou uma repetição de cantilenas aprendidas de cor; Orar é a maneira de deixar Deus agir em nós.”, uma frase que nos faz refletir sobre a oração.

Por Joaquim Armindo

Esta “rota de fuga”, “rito mágico” e “repetição de cantilenas”, são fortes expressões para quem pensa na oração como uma não-atuação para que a sua consciência seja tranquilizada como um não-fazer. Pensa-se tantas vezes que orar é como “pedir” para que Deus faça aquilo que nós queremos e não o que for da sua vontade. Aquando da partilha dos pães e dos peixes pela multidão faminta, no monte ou na planície, os seus companheiros perguntaram a Jesus onde iriam buscar os meios necessários para a sua alimentação, e a resposta foi clara e concludente: “Dai-lhes vós de comer”. Há um pedido – oração – e uma resposta “isso é convosco”, Eu estou aqui para agir em vós e através de vós.

E prossegue Francisco: “A oração abre o céu, dá oxigênio à vida, respira mesmo no meio da angústia, e nos faz ver as coisas de forma mais ampla”, e nos permite “ter a mesma experiência de Jesus na Jordânia: nos faz sentir filhos amados do Pai”, porque “Jesus está alinhado com os pecadores que receberiam o batismo de João. Ele compartilha o destino de nós pecadores, ele desce em nossa direção: ele desce para o rio como na história ferida da humanidade, ele mergulha em nossas águas para curá-los”, então não vamos “negligenciar a oração” como fuga, magia ou repetição repetida de “cantilenas”, ela é um poderoso meio para a nossa reflexão com Deus, mas este não tem outras mãos e outros pés senão os nossos.

Jesus também orava, a todo o tempo da sua vida e até subia aos montes só para estar com o Pai, sabendo, porém, que a missão era dele, não de outros, mas necessitava de se alimentar do “oxigénio” da mão de Deus. Orar é procurar esse ímpeto para alimentar a resolução das nossas ações, porque essas são nossas, não de outros. Como refere Andrés Torres Queiruga, no seu livro, “Recuperar la creacón”: “a oração por parte de Jesus constitui sempre e fundamentalmente uma chamada à confiança” e é esta confiança que procuramos com a oração, confiança nesse “oxigénio” que nos falta para o caminho de deixar Deus agir em nós, nos dar força para seguir em frente, não uma “fuga” tantas vezes procurada por nós: “Agora Ele que faça”!