‘O Gaiato’ (18/12/2021) publicou uma crónica assinada pelo Padre Quim, de Benguela, que dizia: “Hoje, 6 de Dezembro de 2021, celebrámos com gratidão a Deus Pai pelo dom da vida – vocação – missão que concedeu ao nosso querido Padre Manuel António, cuja vida foi uma entrega total aos pobres e abandonados”.
Por João Alves Dias
Quem era o P. Manuel António?
No “Anuário da nossa Diocese, de 2010/11”, página 16, consta: “Pereira, Manuel António da Silva, Nasc.: 20/Jan/34 – Ord.: 04/Ago/57 – Ausente da Diocese – (Obra da Rua) Benguela”.
Conheci-o, era ele ainda aluno do Seminário da Sé, através do Elisário meu condiscípulo e seu conterrâneo de Santiago de Bougado. Nunca mais o esqueci e foi com surpresa que o vi ir para a Obra da Rua. Só agora, passados tantos anos, fiquei a saber como tal aconteceu. Quem mo disse foi o P. Júlio, responsável pela Casa do Gaiato de Paço de Sousa, no Prefácio do livro: “Padre Manuel António…”, há pouco editado, com uma seleção das suas crónicas:
“O primeiro encontro com Pai Américo marcou-o profundamente. Tinha vindo para Cête, nas férias, participar numas colónias de rapazes que aí decorriam. Estando a dois passos de Paço de Sousa deslocou-se lá e manifestou a Pai Américo o desejo de entregar a sua vida sacerdotal, que começaria em breve, à Obra da Rua. Seu Bispo, D. António Ferreira Gomes, no dia da ordenação, enviou-o para servir na Obra e sublinhou o gesto com manifestação do seu próprio desejo de que houvesse mais padres para, na Obra, servirem os pobres”.
No início de sessenta, parte para Angola como mais tarde recordava: ”Completam-se, hoje, quarenta anos. Foi em 2 de Novembro de 1963 que partimos de Lisboa para Angola. Chegámos no dia 14 a Luanda. No dia 16 ao Lobito e a Benguela. Viemos como passarinhos que se desprendem a primeira vez do ninho que os viu nascer e se fizeram ao largo. Como eles, confiando sempre na presença dos pais que não perdem de vista os filhos na aventura do primeiro voo, assim nos despedimos dos que ficaram.” E termina dizendo: “estes foram os sentimentos de há quarenta anos, expressos n’O Gaiato… E agora? Queremos ser capazes de admirar as grandes coisas que Deus fez, ao longo dos anos de vida da Obra da Rua, em Angola. Queremos ser capazes de reconhecer também as falhas de que nós somos autores. É Obra de Deus feita com instrumentos humanos.”
Nos princípios de 1964, iniciou-se a construção da Casa do Gaiato de Benguela para “valer a tantas crianças geradas fora do ambiente familiar” que, aí, “encontraram a autonomia no meio da sociedade”. Exemplo dessa integração é o senhor José de que falei na VP do pretérito dia 22 de setembro.
Com a independência do país e a interrupção da atividade da Obra do Gaiato, o P. Manuel António deixou Angola para aí regressar logo que foi possível, na década de noventa.
Deixo-vos com a sua última mensagem publicada n’O Gaiato de 7/11/2020: “Somos todos irmãos: Que o coração de cada um de nós acolha esta verdade sublime como luz para a nossa forma de vida”.
Quem quiser conhecer melhor a sua vida e pensamento pode solicitar o livro, que venho citando, “pelo telefone 255752285, pelo e-mail:geral@obradarua.pt ou directamente no site:wwwobradarua.pt”.
É um mergulho na intimidade dum Padre que fez da vida “uma entrega total aos pobres e abandonados”. Vale a pena. Uma boa leitura para as longas noites de inverno.