Um diálogo sincero pressupõe uma atitude que ambas as partes em diálogo partam dum mesmo ponto, não é possível esse diálogo sincero se alguma das partes partirem duma posição de poder e, como refere o bispo de Roma e papa Francisco, na sua mensagem do Dia Mundial da Paz, “de uma base de confiança entre os interlocutores”. Se alguém parte de uma posição de assumida submissão ao outro não existe uma “confiança recíproca”, porque não é possível vencer qualquer crise, seja que ela se dê na sociedade, por exemplo, com a crise pandémica, ou com sobremaneira de ser mais que o outro, porque parte de um significativo posto de comando, que cheira a prepotência, como tantas vezes se passa na igreja, mercê de um clericalismo sobre o laicado. Se é verdade que “os grandes desafios sociais e os processos de pacificação não podem prescindir do diálogo entre os guardiões da memória – os idosos – e aqueles que fazem avançar a história – os jovens -; tal como não é possível prescindir da disponibilidade de cada um dar espaço ao outro, nem pretender ocupar inteiramente a cena preocupando-se com os seus interesses imediatos como se não houvesse passado nem futuro”.
A base de uma confiança recíproca pressupõe também que se fale a verdade, a verdade deve ser dita em todas as circunstâncias e escondê-la só servirá para deformar o diálogo. Às vezes dizem-nos que “nem sempre se pode falar a verdade”, mas isso será uma falácia, para um diálogo comum; por mais que “doa”, só falando com verdade poderemos encetar um diálogo útil e promissor. Escondê-la por motivos estratégicos e táticos é submeter o diálogo a um não-diálogo, uma paz a uma não-paz, a uma paz podre que só atira o diálogo para as profundezas da hipocrisia e a falta de humildade; quem é humilde não esconde a verdade, e se o faz é porque o poderio da hipocrisia predomina sobre a evidência da verdade.
Jesus nunca deixou de falar a verdade, nem a escondeu, sempre a disse, quer fossem judeus ou gentios, a todos abarcou com a verdade, por isso mesmo é acusado e morre. Nem os seus companheiros e companheiras – aqueles menos – deixaram de o ouvir, muitas vezes com medo, mas Ele não enganou ninguém. Eles temiam e achavam que algumas coisas se deviam esconder, era a tática a funcionar. Ele não tomou esse caminho, mas o do diálogo sincero e direto, mesmo que tal se virasse contra Ele. São estes diálogos sinceros que a humanidade necessita de ver na Igreja, e não poderes a “queimar” o diálogo sincero, verdadeiro e frontal.