
23 de Janeiro de 2022
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Neemias Ne 8, 2-4a.5-6.8-10
«Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
Salmo Responsorial Salmo 18 B (19)
As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 12, 12-30
«Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte».
Aclamação ao Evangelho Lc 4, 18
Aleluia.
O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres,
a proclamar aos cativos a redenção.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 1,1-4; 4,14-21
«Jesus voltou da Galileia, com a força do Espírito, e a sua fama propagou-se por toda a região».
«Segundo o seu costume, entrou na sinagoga a um sábado e levantou-Se para fazer a leitura».
«Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir».
Viver a Palavra
«Em virtude desta revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (Dei Verbum, n. 2). Na verdade, sempre que lemos a Palavra de Deus, a escutamos em grupo ou em comunidade, é o próprio Deus que sendo eterno, omnipotente, omnisciente se aproxima de nós, acompanha-nos com a Sua solicitude paterna e nos fala como amigos. Como seria diferente a nossa vida cristã e a vida das nossas comunidades se tomássemos verdadeiramente consciência desta maravilha do amor de Deus, que tendo criado cada homem e cada mulher por amor, não abandona a obra das Suas mãos mas a acompanha com a Sua palavra e com os Seus gestos, pois a revelação que Deus faz de si próprio se opera por meio de palavras e gestos intimamente ligados entre si.
Por isso, cantámos no Salmo deste Domingo: «as vossas palavras, Senhor, são espírito e vida». Esta Palavra que escutámos é espírito e vida, pois é o anúncio da nossa salvação. Muito mais do que o modo como nós nos devemos comportar, a Palavra proclamada revela-nos o modo como Deus se relaciona connosco: Deus, todo-poderoso e eterno, envia ao mundo o Seu Filho Jesus, que na plenitude do Espírito Santo vem para «anunciar a boa nova aos pobres», «proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos», «restituir a liberdade aos oprimidos», «proclamar o ano da graça do Senhor».
Ao escutar a Liturgia da Palavra deste Domingo, somos convidados a pensar que lugar tem a Palavra de Deus na nossa vida e quanto tempo da nossa oração quotidiana dedicamos à leitura e meditação da Palavra de Deus. Como lemos no Livro de Neemias, a proclamação solene do Livro da Lei era escutada com toda a atenção e o encontro com a Palavra dirigida por Deus ao Seu Povo era fonte de alegria e de festa: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza».
O encontro com Jesus, verdadeiramente presente na Palavra proclamada, gera em nós a alegria e transforma o nosso coração para fazer da nossa vida verdadeiro lugar de festa. Apesar de diferentes nos dons que possuímos, nas qualidades que desenvolvemos, nos ministérios e serviços que nos estão confiados, animados pela força do Espírito Santo e convocados pela Palavra do Mestre, somos chamados a edificar o único Corpo de Cristo. Como discípulos missionários, unidos na única missão da Igreja experimentamos a beleza da unidade na diversidade que é obra do Espírito Santo que como afirma o Papa Francisco é «Aquele grande Artista, Aquele grande Mestre da unidade nas diferenças».
Contudo, a escuta da Palavra deve colocar-nos de olhos postos em Jesus de Nazaré, Aquele que naquele Sábado, como era Seu costume, entrou na Sinagoga e se levantou para fazer a leitura. Enrolado o livro, abre-se na vida de Jesus de Nazaré plena e definitivamente a revelação do Pai. Revestido da força do Espírito Santo, Jesus anuncia o Seu programa de vida: anunciar a boa nova, proclamar a redenção, restituir a liberdade e proclamar o ano da graça do Senhor. Jesus vem ao encontro da humanidade pobre, prisioneira, cega e oprimida e não fica indiferente às nossas dores. Também nós, que pelo Baptismo e Confirmação fomos revestidos da força do Espírito Santo somos chamados a encontrar no programa de vida de Jesus as coordenadas do nosso agir, para que no hoje da nossa existência possa ecoar, através dos nossos gestos, a mais bela melodia do amor.
Homiliário patrístico
Do Comentário de São Cirilo de Alexandria, bispo,
sobre o Evangelho de São João (Séc. V)
Tendo o Criador do universo decidido restaurar todas as coisas em Cristo, dentro da mais admirável e perfeita ordem, e restituir à natureza humana a sua condição original, prometeu que, juntamente com os restantes bens, lhe concederia também o Espírito Santo, já que de outro modo não poderia o homem ser reintegrado na pacífica e estável posse dos bens recebidos. E quando o tempo de tão grande munificência e liberdade trouxe ao mundo o Unigénito feito carne, como homem nascido de mulher, segundo as divinas Escrituras, novamente Deus Pai nos concedeu o Espírito, sendo Cristo o primeiro a recebê-l’O como primícias da natureza renovada. Isto testemunhou João Baptista quando disse: Vi o Espírito descer do céu e permanecer sobre Ele.
Portanto, o Unigénito recebe o Espírito Santo não para Si mesmo – pois é d’Ele e está n’Ele e por meio d’Ele é comunicado, como anteriormente dissemos – mas para renovar o homem e lhe restituir a sua integridade original, já que, pelo facto de Se ter feito homem, recapitulava em Si toda a natureza humana. Por conseguinte, se queremos usar da recta razão e acreditar nos testemunhos da Escritura, compreendemos que Cristo não recebeu o Espírito para Si, mas antes para nós em Si, pois é por Ele que recebemos todos os bens.
Indicações litúrgico-pastorais
- A Liturgia da Palavra deste Domingo é um forte apelo à reflexão sobre a corresponsabilidade de todos os baptizados, na certeza de que a unidade se constrói na diversidade de dons, ministérios e serviços que concorrem para a edificação do único Corpo de Cristo. Pelo baptismo, cada cristão torna-se um discípulo missionário que se coloca ao serviço da edificação do Povo Santo de Deus, sabendo que a nossa comunhão e unidade se constituem como testemunho missionário da beleza de viver em Igreja. Por isso, a reflexão e meditação da Liturgia deste Domingo poderá ser acompanhada do convite à participação de todos na vida da Igreja na totalidade dos seus âmbitos, não só nos ministérios e serviços da comunidade paroquial mas também no testemunho cristão no mundo, lugar fundamental de corresponsabilidade e missão.
- Para os leitores: a primeira leitura é marcada pela narrativa da proclamação do Livro da Lei pelo sacerdote Esdras. A proclamação desta leitura deve ser marcada pelo tom narrativo de quem conta este dia feliz do Povo de Israel. Devem ter uma atenção especial na leitura das aclamações do Povo, da exortação conjunta de Neemias, Esdras e os levitas e a exortação final de Neemias. Todas elas são marcadas pelo louvor e alegria da presença de Deus no meio do Seu Povo. A segunda leitura tem como mensagem fundamental a unidade do Corpo de Cristo na variedade dos seus membros e na proclamação desta leitura a transmissão desta mensagem é fundamental. Para isso, pede-se um especial cuidado nas frases longas com diversas orações, de modo particular, nas frases interrogativas e nas hipotéticas intervenções de cada um dos membros.
Sugestões de cânticos
Entrada: Cantai ao Senhor um cântico novo – F. Santos (CN 274); Salmo Responsorial: As vossas palavras, Senhor (Sl 18B (19) – M. Luís (SRML, p. 286-287); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres – M. Simões (CN 53); Ofertório: O Espírito do Senhor – M Luís (CN 685); Comunhão: Aproximai-vos do Senhor – F. Silva (CEC II, p. 19-20 | ENPL, XI | NCT, p. 375 | NRMS, 115); Pós-Comunhão: O Espírito do Senhor – M Luís (CN 670); Final: Louvai o Senhor, louvai – J. Santos (CN 591).