Mensagem (149): Evolução

Há poucos dias, o Presidente francês, Emmanuel Macron, escreveu um texto na revista L’Espress sobre fé e razão. Um facto notável. Primeiro, porque o Presidente da República da laicidade pura e dura ousa enfrentar este tema. Depois porque, não sendo ele um teólogo, exprime-se melhor que muitos destes e que a totalidade dos «opinion makers» do ranço.

Parte desta base, hoje compartilhada no mundo da fé cristã: entre fé e ciência não existe oposição e é “desejável” que se aproximem cada vez mais, porque “a aspiração à razão e a necessidade de transcendência coexistem em cada um de nós”. Mais: “A crença […], muitas vezes, anda de mãos dadas com a valorização da outra parte”.

Sim, a história testemunha que as grandes intuições científicas que lançaram as bases para o prodigioso saber e técnica do presente souberam conviver com a mais elevada mística e alimentar-se e fortalecer-se mutuamente. Desde a genética à aeronáutica, da química às ondas hertzianas, da física ao âmbito das modernas engenharias.

Houve incompreensões mútuas? Sim, claro. Da parte da fé, essa lamentável visão redutora foi mais típica de algumas pessoas, embora influentes, do que da Igreja «oficial». Do lado da racionalidade, não foi menor a busca de tudo o que pudesse constituir oportunidade de farpas à sua «concorrente».

Mas há uma diferença: hoje, a fé reconhece o imenso valor da inteligência; da parte de alguns cultores desta, parece subsistir uma certa nostalgia do tempo em que posições dos religiosos davam azo a «desancar» na fé. O que só mostra uma coisa: os que eram tidos como atrasados, evoluíram; e muitos que obtinham as palmas pela sua «modernidade», afinal, ou regrediram ou nunca foram tão modernos como isso.

O problema da relação fé/ciência está ultrapassado: a fé usa uma hermenêutica distinta da ciência e esta é, de algum modo, participação no ser omnisciente de Deus. Quanto à intencionalidade e possíveis aplicações das descobertas, isso é outra coisa: um problema moral.

Com Macron, também eu afirmo: “Pode haver continuidade entre Deus e a ciência, entre a religião e a razão. Olhemos para a nossa Europa: a igualdade em direitos humanos não tem a sua génese na igualdade das pessoas diante de Deus, defendida pelo cristianismo?”.

Que a fé não se amesquinhe e que a ciência não extravase as suas competências, eis um bom lema para o futuro.

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