
Por M. Correia Fernandes
1. Eis o pórtico de um novo ano deste semanário diocesano, que mantém a sua vitalidade, apesar das dificuldades que tem que enfrentar: os dramas da pandemia e suas inevitáveis sequelas, a crise de leitura que afeta a sociedade hodierna e da qual se ressentem todas as publicações, e sobretudo a crise da presença humanizada dos cidadãos no convívio social, e designadamente daqueles que sendo cristãos se vão deixando envolver pela indiferença comunitária, mesmo que não percam o sentido de uma religiosidade inerente a todos os humanos, mesmo os que se dizem indiferentes.
Entrar assim em novo ano não pode deixar de ser motivo de inquietação, que queremos se torne inquietação positiva e criativa. Esperamos continuar a trabalhar para estar próximos dos assinantes e leitores. Por isso, permitam-nos fazer alguns apelos: 1) angariem novos assinantes para o semanário diocesano: trata-se de uma valorização social e eclesial; 2) efetuem a tempo o pagamento dos assinaturas, já que grande parte delas terminam no final do ano: ano novo, assinatura nova e assinatura paga, já que esperamos manter o preço da assinatura, apesar da ameaça real de considerável aumento do preço do papel e de outros custos de produção; 3) que não existam na nossa diocese paróquias que não assinam a Voz Portucalense, promovendo a sua formativa presença e leitura pelos membros de cada comunidade; 4) continuamos a manter a atualização das notícias por via digital, através do nosso site, que chegam geralmente mais cedo, mas a leitura pela via escrita é outra coisa!
Somos confrontados com o desaparecimento de algumas publicações, designadamente o Notícias de Beja, que anuncia a suspensão da sua publicação, o que induz o nosso lamento e a nossa solidariedade (ver texto de Fernando Milheiro). Felizmente a maioria das dioceses continuam a publicação dos seus semanários, que acompanham também com edições pela via digital. Auguramos que este esforço sirva para fomentar e desenvolver toda a dinâmica proposta pelo papa Francisco para o exercício da sinodalidade.
De resto, retomamos a grande dimensão deste semanário, desde as “Linhas de ideário” da sua primeira publicação, em 1970: “interessar-se pelo melhor andamento da coisa pública é prestar um serviço à comunidade”. Mantemos a convicção de que nada do que é humano nos é estranho, mas que temos a intenção constante e renovada de estabelecer uma seleção de temas e pontos de vista a partir de uma visão estruturalmente humanista, valorizando sempre a dimensão ética da pessoa e da sociedade, na escolha e no tratamento dos acontecimentos e dos assuntos abordados. Lembrávamos e lembramos de novo os critérios da verdade, da honestidade intelectual e moral e do equilíbrio humanista, tornando os nossos escritos com fontes de reflexão para os destinatários e leitores. Manteremos a atenção aos acontecimentos eclesiais, abertos às múltiplas expressões políticas, enquanto partilhem a arte mui nobre e difícil de construir uma sociedade mais justa, colaborando na busca das melhores orientações para a coisa pública como serviço à comunidade, sem ambição de evidências pessoais. Orienta-nos o ideal cristão na sua profundidade do humano; interessa-nos a verdade dos factos, mas sobretudo a verdade de cada pessoa.
Entrando de novo em clima eleitoral, fazemos votos para que a elevação das reflexões e das propostas faça superar a agressividade de tantas palavras ditas e escritas. Auguramos que o novo ato eleitoral seja nobre e sério e produza soluções governativas que alentam o país e os cidadãos.
2.O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz, evidencia mais uma vez a sua capacidade de orientar as respostas cristãs para os dados e problemas concretos dos países e povos, através das três dimensões que propõe: o diálogo entre gerações, a educação como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento e o trabalho como plena realização da dignidade humana.
Dialogar significa ao mesmo tempo ouvir, propor, confrontar e adaptar as opiniões e as propostas às necessidades e disponibilidades. Talvez tenha sido a falta deste espírito que nos conduziu às inesperadas eleições. Mas falta também na sociedade a dimensão educativa em ordem ao pleno desenvolvimento humano: lamenta o Papa que se desvalorize o investimento em educação em confronto com outras, como as despesas militares ou financeiras. Por outro lado, a valorização do trabalho como forma de realização da pessoa e do bem comum que conduz à construção da paz, edificando a justiça e a solidariedade nas diferentes comunidades como caminho para a erradicação da pobreza.
Desejamos e esperamos que este ano seja também um ”Ano Mundial da Paz”.