Bispo do Porto apela à paz sublinhando os temas da liberdade religiosa e do acolhimento aos refugiados

“Esta paz também exige muito de nós: remover do nosso coração e das estruturas do pensamento todo o ódio que cega e o individualismo que conduz ao desinteresse social” – alertou D. Manuel Linda.

No dia 1 de janeiro o bispo do Porto celebrou Missa na Catedral, na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. Na sua homilia, D. Manuel Linda recordou a Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial da Paz que se celebra no primeiro dia do ano.

Sublinhou expressões do Santo Padre como “arquitetura da paz” e “artesanato da paz” e assinalou os três âmbitos de atuação propostos pelo Papa: “diálogo entre gerações, educação e trabalho”. A estes o bispo do Porto juntou ainda dois outros âmbitos de atuação para a construção da paz: “a liberdade religiosa e o acolhimento dos migrantes e refugiados”.

A propósito dos migrantes e refugiados, D. Manuel Linda lembrou que “a Europa e as Américas têm na sua génese contínuas correntes migratórias” e frisou que “ignorar isto e fechar acintosamente as portas a quem chega à procura das migalhas que caem da nossa mesa, é gerar ressentimentos, lutar contra o sentido da história e acumular tensões que podem vir a ser destrutivas”.

Sobre a liberdade religiosa, o bispo do Porto, analisou o “panorama mundial” considerando que “não é animador” para o cristianismo. “No Ocidente, em nome de uma liberdade de pensamento e de expressão na qual cabe tudo, agride-se a fé, denigrem-se as referências religiosas e amesquinha-se a Igreja. Em grande parte do mundo, destroem-se os templos e os símbolos dos cristãos, sujeitam-se estes ao martírio e ao medo, excluem-se do dinamismo social e tudo se faz, ainda que com luva branca, para afastar a sua presença das áreas onde o cristianismo nasceu, se difundiu e se consolidou. O que está a acontecer na Índia, reavivado neste Natal, é elucidativo: ao mais alto nível, acicatam-se os ânimos hindus, favorece-se a destruição e a perseguição e paralisa-se a ação das religiosas da Madre Teresa porque –imagine-se!- pelo seu exemplo de fé e dedicação alguns se convertem ao cristianismo. Mas, como se trata de uma das maiores nações do mundo, ninguém esboça uma condenação, ninguém ousa apelar ao bom senso” – afirmou.

Entretanto, ao nível de uma reflexão pessoal de discernimento sobre a construção da paz, o bispo do Porto alertou que “esta paz também exige muito de nós: remover do nosso coração e das estruturas do pensamento todo o ódio que cega e o individualismo que conduz ao desinteresse social”.

D. Manuel Linda afirmou na sua homilia que “é muito significativo que comecemos este novo ano civil sob a ternura e a carícia da Santíssima Virgem”. “Foi ela quem nos trouxe o Salvador, quem situou bem no centro da humanidade Aquele que vem fazer de cada um de nós, à sua semelhança, filhos do seu eterno Pai” – recordou.

“Que todos os homens e todas as mulheres, ao longo deste novo ano de 2022, sejamos dignos da sublime honra de termos sido tornados filhos de Deus e demonstremos na boa relação social os vínculos da fraternidade, a condição mais básica do ser pessoa à face da terra” – declarou o bispo do Porto como augúrio para o novo ano.

RS