
Sabemos bem quem é a Senhora do Advento. E também sabemos porque é modelo de uma Igreja que espera o seu Senhor. O que podemos é não refletir sobre as implicações, para a nossa pertença religiosa, desta noiva de José, Mãe de Jesus e Mulher que se coloca decididamente do lado de Deus.
Maria de Nazaré não é um sonho imaginário e abstrato: é a jovem que, como tantas outras, abra o seu coração ao amor. A começar pelo amor de enamoramento. Por isso, corresponde ao interesse de José para contraírem família. E ficam noivos.
É aqui que se insere o plano divino: seria numa família, em tudo igual às outras, que o Salvador haveria de encarnar. Claro que os acontecimentos vão fazer com que o amor humano se transcenda e se torne divino, místico, espiritual. De qualquer forma, tudo começa pelo amor humano. E bem humano!
Nessa história de salvação, a mesma Senhora dá à luz o Filho de Deus. Sabemos que todas as mães gostam de falar com os seus bebés, mesmo sem eles entenderem palavras. Mas a comunicação mais profunda é a contemplativa: fixar a nova criatura enquanto ela, porventura, está a dormir ao colo. E é com a proteção desta ternura e deste enlevo que a vida se solidifica e cresce.
No início disto, está a anunciação do Anjo. Quando ele garante que o Espírito de Deus desceria sobre ela e conceberia, está a fazer a afirmação implícita de que ela mesma se tornaria templo do Espírito Santo. Esta morada divina está toda voltada para Deus. Jamais foi tocada pelo pecado que suja, que macula. Por isso a designamos como Imaculada Conceição.
Eis, plasmado em Maria, o tripé onde tem de assentar a Igreja e cada um dos seus membros: tem de arrancar do amor, amor humano, familiar e místico, sem separações nem arrumos em compartimentos-estanque; há de caraterizar-se pela ternura, seja esta a contemplação do mistério de Deus, seja a que se devota ao irmão e à sociedade em geral; tem de ser mais do Espírito para ser menos matéria, mais santa para se tornar menos maculada.
O Natal é a contemplação do nascimento de Jesus? Óbvio. Mas sem esquecer Aquela que lhe deu vida e que «dá vida» à Igreja. É que, se “temos Mãe”, como proclamava, em Fátima, o Papa Francisco, temos um específico ADN que d’Ela herdamos. E as proteínas dessa carga genética chamam-se amor, ternura e graça ou santidade.
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