Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José Domingo dentro da Oitava do Natal

26 de Dezembro de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Primeiro Livro de Samuel                                                     1 Sam 1, 20-22.24-28

«Eis o menino por quem orei: o Senhor ouviu a minha súplica»

 

Salmo Responsorial                                                                                           Salmo 83 (84)

Felizes os que moram na vossa casa, Senhor.

 

Leitura da Primeira Epístola de São João                                                         1 Jo 3, 1-2.21-24

«Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus»

 

Aclamação ao Evangelho                       cf. Actos 16, 14b

Aleluia.

Abri, Senhor, o nosso coração,

para recebermos as palavras do vosso Filho.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas               Lc 2, 41-52

«Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».

«Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?».

«Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens»

 

Viver a Palavra

A celebração do Natal do Senhor coloca-nos de olhos postos no Presépio de Belém contemplando Deus que se faz homem na fragilidade e na debilidade da nossa natureza, mas também na beleza e na ternura de um recém-nascido que se faz sinal e presença do amor de Deus no coração da humanidade.

Contemplando este Menino que nasce para nós, contemplamos Maria e José. Maria que no Seu sim total e disponível acolheu o projecto do Altíssimo e José que com total confiança acolheu o sonho de Deus e aceitou ser guarda e protector do Menino e de Sua Mãe. Deste modo, no Domingo dentro da Oitava do Natal somos convidados a dar graças pelo dom da família de Nazaré como modelo de vida familiar. Queremos aprender com Maria, José e o Menino, para que também cada um de nós e cada família se tornem um lugar de acolhimento dos projectos e sonhos de Deus.

Apontar a Família de Nazaré como modelo de vida familiar não pode ser de modo nenhum a apresentação de um modelo idílico e inalcançável de vida conjugal, pois como recorda o Papa Francisco na sua exortação apostólica sobre a família, muitas vezes «apresentámos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstracto, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efectivas das famílias tais como são. Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na graça, não fez com que o matrimónio fosse mais desejável e atraente; muito pelo contrário» (AL 36). Deste modo, eliminando qualquer visão idílica da Família de Nazaré, devemos tomar consciência que através de uma história humaníssima, marcada também por sofrimentos e cansaços, se desenvolve a humanidade livre e libertadora do amor de Jesus.

Tal como nos recorda a Liturgia da Palavra deste Domingo e, de modo particular o texto evangélico, a Família de Nazaré não é para nós um modelo de vida familiar porque a sua vida foi isenta de dificuldades e desafios, mas porque, não obstante todos os desafios e dificuldades, foram fiéis ao desígnio de Deus. Por isso, celebrar a festa da Sagrada Família é a ocasião privilegiada para agradecer a Deus o dom da vida familiar como lugar quotidiano da procura da vontade de Deus.

A família cristã, enquanto Igreja Doméstica, é lugar privilegiado para o encontro com Deus e os irmãos, lugar onde aprendemos a amar e a cuidar, a acolher Jesus e a levá-Lo aos outros. Por isso, no coração da vida familiar deve estar presente o gesto agradecida de Ana que tendo concebido e dado à luz o seu filho Samuel o confia ao Senhor: «eu o ofereço para que seja consagrado ao Senhor todos os dias da sua vida». Na verdade, a vida é um dom a agradecer e a consagrar ao Senhor como lugar de serviço a Deus e aos irmãos.

Este mesmo dinamismo que deve caracterizar a família cristã está presente no Evangelho na peregrinação anual a Jerusalém pela festa da Páscoa. Esta imagem da família peregrina recorda-nos que a família é um lugar permanente de peregrinação em duas direcções: rumo a Jerusalém, isto é, para as coisas de Deus e, em seguida, rumo a Nazaré, símbolo da vida quotidiana e da atenção aos outros.

Deste modo, a Igreja, Família de famílias, tem a exigente tarefa de ser Mãe e Mestra. Mãe que a todos acompanha, integra e acolhe e Mestra exigente que aponta o caminho da vida familiar como lugar de realização e felicidade contemplando o modelo do lar de Nazaré.

 

Homiliário patrístico

Orígenes (séc. III)

Sermão sobre o Evangelho de São Lucas

“Angustiados procuramos Jesus”

Quando Jesus completou doze anos, Ele permaneceu em Jerusalém. Os seus pais, que não sabiam onde estava, procuraram-no solicitamente e não O encontraram. Procuram-no entre os parentes na caravana, entre os conhecidos e não O localizaram. Jesus é, então, procurado pelos seus pais. Não encontram Jesus entre os parentes e consanguíneos, nem O encontram entre os que corporalmente lhe estão unidos.

Jesus não pode ser encontrado numa grande caravana. Repara onde encontram aqueles que O procuram, para que também tu buscando-O possas encontrá-lo como José e Maria. Ao irem à sua procura, diz o Evangelho, encontraram-no no templo; e não simplesmente no templo, mas no meio dos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Tu também, busca a Jesus no templo, busca-O na Igreja, busca-O junto aos mestres que existem no templo e não saem dele. Se desta forma O procuras, o encontrarás.

Também hoje Jesus está presente, interroga-nos e escuta-nos quando falamos. Todos, diz o Evangelho, ficavam assombrados. De que se assombram? Não das suas perguntas, por serem admiráveis, mas das suas respostas. Algumas vezes é Jesus quem pergunta, outras, é Ele quem responde. Portanto, para que também nós possamos escutá-Lo, e Ele possa apresentar-nos as Suas respostas, roguemos-Lhe e procuremo-Lo no meio das fadigas e dores e então poderemos encontrar O que procuramos.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. «Nós, pastores, devemos animar as famílias a crescerem na fé. Para isso, é bom incentivar a confissão frequente, a direcção espiritual, a participação em retiros. Mas há que convidar também a criar espaços semanais de oração familiar, porque «a família que reza unida permanece unida» (AL 227). A celebração da Festa da Sagrada Família é uma oportunidade para os pastores, juntamente com os agentes pastorais ligados à família, acolherem este desafio do Papa Francisco de animarem as famílias a crescer na fé. Nesta celebração pode fazer-se a bênção das famílias, rezarem uma oração por todas as famílias ou, porventura, uma consagração de todas as famílias à Sagrada Família de Nazaré. A criatividade pastoral deverá ajudar a fazer deste momento um lugar de acolhimento para a todos, cumprindo o desafio de acompanhar, discernir e integrar as situações fragilidade.
  2. Para os leitores: a primeira leitura narra o nascimento de Samuel e a consagração que Ana faz do seu filho ao Senhor. Deste modo, a proclamação deste texto deve ter atenção ao seu tom narrativo e sobretudo uma cuidada articulação das várias frases em discurso directo. Na segunda leitura deve haver uma especial atenção nas frases mais curtas que aparecem no interior do texto, cuidando da sua articulação com o todo da leitura. Pede-se cuidado com a expressão «uns aos outros».

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Os pastores vieram – F. Santos (BML 54| CEC I, p. 69-70); Salmo Responsorial: Felizes aqueles que reconhecem o Senhor (Sl 127) – F. Lapa (https://ocantonaliturgia.pt/obras/598/Felizes-aqueles-que-reconhecem-o-Senhor-F-Lapa); Aclamação ao Evangelho: Aleluia, Reine em vossos corações – J. Roux (Guião 2011 – XXXVII ENPL); Ofertório: És príncipe – M. Luís (NCT 71); Comunhão: Toma o Menino e sua Mãe – F. Valente (BML 94); Final: Adeste Fideles – harm. David Willcocks (ver também NRMS 31; IC, p. 119 e NCT 85).