Mensagem (146): Modernidade

Desde há dois séculos, a política, a publicidade e a cultura dominante refugiam-se num chavão mental tão inoperante como ideológico: modernização, modernidade, contemporaneidade, entendidas como progresso, desenvolvimento, corte com o passado. Porém, excluindo o óbvio melhoramento da economia e funcionalidade dos produtos e tecnologias, quase sempre essa perceção remete para algo que já existiu e se verificou ser indigno da natureza humana.

O problema é que esta ideologia tende a falsificar todos os âmbitos nos quais nos movemos. Incluindo a fé e a religião. E quando se mistura com a ignorância, o simplismo e a preguiça de pensar, quase sempre se traduz em infantilismos ridículos e deploráveis. Mas os «grandes» mostram-nos uma outra dimensão: a de serem pessoas de todos os tempos, atuais, porque o foram exemplarmente do seu.

É o caso de D. António Barroso. Pensemos em três âmbitos que bem o caraterizam. Um é a nova forma de entender a missionação, naquela altura, mais uma atitude mental de «civilizar» e colonizar do que propriamente a de pregar e respeitar a dignidade pessoal. O intrépido Bispo do Porto situou-se neste segundo domínio, não obstante as incompreensões de alguns. É moderno porque fez da pessoa o centro de gravidade, tal como Jesus Cristo e a Igreja o fazem há dois mil anos.

Depois, embora no respeito pelos que estavam constituídos em autoridade, não lhes sacrificou a dignidade da sua consciência. Aliás, como a plêiade de mártires de todos os tempos. Sofreu, foi vexado e exilado. Mas salvou o núcleo originário de onde haveriam de arrancar os direitos humanos, tal como consta na Declaração de 1948.

Outro dado é a sua preocupação com os pobres. No Porto, de forma mais explícita ou subentendida, ainda hoje, vários organismos assistenciais se reclamam do seu legado. Não veio para a rua como revolucionário de pacotilha. Mas «concedeu» ao pobre o direito de se interligar com a sociedade e com a Igreja. Como faz o Papa Francisco. E o pobre foi, é e será sempre a outra face do rosto do Senhor.

Quando uma ou outra pessoa imagina que só sai do anonimato pela porta obtusa da insensatez e por uma pseudomodernidade ridícula, o exemplo deste homem e cristão mostra que é atual quem cultiva o fino humanismo de sempre e é burlesco quem se veste com as roupagens da moda alienante. Até porque, muitas vezes, só as crianças descobrem que o rei vai nu.

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