
19 de Dezembro de 2021
Indicação das leituras
Leitura da Profecia de Miqueias Miq 5, 1-4a
«Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz»
Salmo Responsorial Salmo 79 (80)
Senhor, nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.
Leitura da Epístola aos Hebreus Hebr 10, 5-10
«Eis-me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade»
Aclamação ao Evangelho Mt 1, 38
Eis a escrava do Senhor:
faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 1, 39-45
«Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre».
«Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
Viver a Palavra
Deus Criador e Senhor de todas as coisas, que em Cristo se faz homem, escolhendo a nossa humanidade frágil e limitada como lugar da revelação do Seu amor infinito, revela-nos a nova lógica do Reino, onde aquilo que é pequeno, que é pobre e que não se impõe se torna lugar de anúncio alegre e feliz da força de Deus. A Liturgia da Palavra deste IV Domingo do Tempo de Advento constitui-se como um belo testemunho desta certeza e, assim, a pequena aldeia de Belém é o lugar escolhido para o nascimento do Messias (Profecia de Miqueias), o seio da Virgem Maria torna-se morada e habitação do Filho do Altíssimo (Evangelho de S. Lucas) e o corpo humano é o lugar de manifestação de Deus entre os homens (Epístola aos Hebreus).
Como nos recorda S. Paulo no seu epistolário, Deus escolhe os pequenos e o que é fraco aos olhos do mundo, para precisamente aí manifestar a Sua grandeza. Deste modo, também nós próprios, não obstante as nossas limitações e fragilidades, nos sentimos incluídos no grande projecto de amor e felicidade que Deus tem para a humanidade.
Em Jesus Cristo e na força reveladora da Sua Incarnação não podemos olhar para a nossa condição humana limitada e frágil como um impedimento para nos aproximarmos de Deus e dos irmãos. Quando assumida e integrada, a nossa pequenez e debilidade tornam-se lugar permanente de apelo à conversão, um desafio para em cada dia ser mais e melhor, um convite a crescer e progredir na santidade que faz das nossas vidas irradiação da beleza, da bondade e da ternura de Deus.
Olhar assim a nossa fragilidade e pequenez é também um apelo a perceber como Deus se revela no nosso quotidiano, na simplicidade dos gestos e na discrição de tantas vidas disponíveis para o serviço do Evangelho. Por isso, exercitemos o nosso olhar e aprendamos a olhar para o mundo e para os homens e mulheres que connosco se cruzam nos trilhos do tempo e da história e saibamos encontrar no quotidiano da nossa vida a presença terna e próxima de Deus que cuida de nós, que nos toma pela mão e nos aponta o caminho da santidade.
Vencendo a nossa tentação tão humana de olhar apenas para aquilo que os outros fazem de mal, procuremos como Isabel louvar o Senhor por tudo aquilo que Ele faz de bom e de belo através daqueles que se cruzam connosco. Ao ver Maria, Isabel exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre» e nestas palavras Isabel manifesta como quando nos abrimos à presença do Espírito Santo podemos contemplar as maravilhas que Deus opera no coração da história.
Como Maria, que habitada pelo Verbo de Deus, não fica indiferente ao mundo à sua volta e sabendo que a sua parenta Isabel que é de idade avançada se encontra grávida, coloca-se «apressadamente» a caminho, também nós devemos aprender esta arte de ir apressadamente ao encontro de quem precisa da nossa ajuda, da nossa presença e da nossa solicitude. Como recordava o Papa Francisco aos jovens, comentando este texto evangélico, muitas vezes, na vida, perdemos muito tempo a questionar-nos «quem sou eu?» sem colocarmos aquela que é a pergunta mais decisiva para a descoberta da nossa identidade: «para quem sou eu?». A resposta a esta pergunta há-de ajudar-nos a descobrir a nossa verdadeira identidade, pois no serviço aos irmãos, concretizamos a graça da nossa filiação divina e proclamamos, com a vida, as palavras da epístola aos Hebreus: «Eis-Me aqui: Eu venho para fazer a tua vontade».
Homiliário patrístico
Da Exposição de Santo Ambrósio, bispo,
sobre o Evangelho de São Lucas, (Séc. IV)
Depois de anunciar à Virgem Maria os mistérios recônditos de Deus, o Anjo quis fortificar a sua fé com um exemplo e anunciou-lhe a maternidade de uma mulher idosa e estéril, como prova de que tudo o que agrada a Deus é possível.
Quando ouviu isto, Maria tomou o caminho das montanhas, não por falta de fé na profecia, nem por falta de confiança na mensagem, nem por falta de certeza na realidade do exemplo, mas guiada pelo júbilo de ver cumprida a promessa, levada pela vontade de prestar um serviço, movida pelo impulso interior da sua alegria.
Cheia já totalmente de Deus, para onde havia de se dirigir senão para as alturas? A graça do Espírito Santo ignora a lentidão. Depressa se manifestam os benefícios da chegada de Maria e da presença do Senhor, pois logo que Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou de alegria no seu seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Repara como cada palavra está escolhida com perfeita precisão e propriedade: Isabel foi a primeira a escutar a voz, mas João foi o primeiro a pressentir a graça. Aquela escutou segundo a ordem da natureza; este exultou em virtude do mistério. Ela apreendeu a chegada de Maria; este, a do Senhor. A mulher ouviu a voz da mulher; o menino sentiu a presença do Filho. Aquelas proclamam a graça de Deus, estes realizam-na interiormente, iniciando no seio de suas mães o mistério de piedade. E por um duplo milagre, as mães profetizam sob a inspiração de seus filhos.
Indicações litúrgico-pastorais
- No IV Domingo do Tempo de Advento estamos já na iminência da celebração do Natal do Senhor e são muitas as coisas a preparar e ultimar para a celebração familiar desta quadra natalícia. Este Domingo é uma oportunidade para convidar cada família a fazer da Ceia de Natal um verdadeiro lugar de vivência cristã, de modo particular pela oração em família. Por isso, deve convidar-se cada família a valorizar este momento de oração, no início da Ceia Natalícia, acendendo uma vela ou valorizando as figuras do Presépio. Cada comunidade pode preparar uma proposta de oração para ser distribuída nas celebrações deste Domingo.
- Para os leitores: A primeira leitura é constituída essencialmente pela palavra dirigida pelo Senhor ao Povo de Israel. Deste modo, deve ter-se em atenção a introdução ao discurso directo do Senhor Deus, que deve ser lido com o tom adequado de quem anuncia uma mensagem de esperança e salvação. Na segunda leitura, deve haver um especial cuidado com as introduções ao discurso directo: «eu disse»; «primeiro disse» e «depois acrescenta».
Sugestões de cânticos
Entrada: Desça o orvalho – J. Santos (IC, p. 72 | NRMS, 15); Acender da Vela da Coroa de Advento: O Senhor dará a coroa da justiça – F. Santos (SDLP); Salmo Responsorial: Senhor, nosso Deus (salmo 79) – M. Luís (SRML, p. 182-183); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eis a escrava do Senhor – B. Ferreira (https://ocantonaliturgia.pt/); Ofertório: Vinde, ó Virgem, até nós – A. Cartageno (CN 1006); Comunhão: A Virgem conceberá – F. Santos (NCT 42 | CN 162); Pós-Comunhão: Sois feliz, ó Virgem Maria – C. Silva (CN 282); Final: Como Maria disse sim a Deus – C. Silva (OC 72).