
Na noite de 29 de novembro de 2021, foram apresentados no auditório do Paço Episcopal os volumes Entre a Monarquia e a República: os tempos de D. António Barroso no centenário da sua morte (1918-2018), livro coordenado por Adélio Fernando Abreu e Luís Carlos Amaral, resultante das comunicações do colóquio com o mesmo título, que decorreu a 7 e 8 de junho de 2018 no Paço Episcopal do Porto; e D. António Barroso: memória e pensamento, publicado pela Fundação Voz Portucalense, 2021, com patrocínio da Câmara Municipal de Barcelos, edição coordenada por Amadeu Gomes de Araújo, que reúne várias intervenções proferidas desde 2012, em iniciativas organizadas pela referida Postulação.
Presidiu o Bispo D. Manuel Linda, com a apresentação do Vigário-Geral, Cón. António Coelho. O primeiro livro foi apresentado pelo Prof. Eugénio dos Santos e o segundo Pelo Prof. Luís Amaral.
Foi lembrada a figura na sua perspectiva histórica e a na multiplicidade da sua ação episcopal.
D. António Barroso foi um bispo providencial na época em que exerceu o seu ministério pois soube responder ao seu tempo com a luz do Evangelho. Tinha o dom de ser próximo no trato humano e firme nas decisões. Era alguém com os pés assentes na terra, que privilegiava o encontro com as pessoas, sendo admirado pelos próprios adversários. Num ambiente político que queria acentuar ainda mais o domínio sobre a Igreja que vinha dos tempos liberais, com ocupação dos espaços religiosos e outras imposições, D. António ousou afrontar o poder com a desobediência em defesa da liberdade da Igreja.
Estudou e orientou o Colégio das Missões, criado para apoio do Império português, mas desligou dessa linha colocando-o ao serviço da evangelização da Igreja. Nas Missões estuda as línguas locais, convive com os chefes indígenas e as autoridades, e percorre distâncias enormes apoiando o desenvolvimento das populações. Assim acontece em Angola, Moçambique e na Índia.
Chegado ao Porto encontra os bispos contra a República por causa da lei da Separação e afronta o Governo, reagindo às suas determinações de total dominação da Igreja. Ordena que seja lida a primeira Pastoral Coletiva do Episcopado, mostrando que a consciência está antes da lei, o que lhe custou humilhações públicas e diversos exílios.
O Bispo do Porto, desta forma, atua na linha de atitudes do Conde de Samodães e Associação Católica (1872), tendo a gente do Porto ao seu lado, mesmo nos tempos do exílio.
Luís Amaral, entre o conjunto de dezena e meia de textos de conferências pronunciadas em diversas circunstâncias, salientou a ação do Bispo em tempos de nova evangelização, a intervenção cristiva como missionário e os retalhos da vida do exílio na sua terra natal de Remelhe (Barcelos).
D. Manuel Linda exprimiu a sua grande admiração pelo Bispo, cujo báculo, oferecido pelo clero, continua a ser o do Bispo do Porto. Salientou que D. António Barroso é Homem de Deus e do seu povo, globalizador porque missionário, livre porque cristão e venerável porque não fugiu do mundo. E continua a ser uma referência da liberdade da Igreja e da sua missão ao serviço da pessoa, especialmente dos mais sacrificados. Muito tempo antes, assemelha-se bem ao Papa Francisco na firmeza e na proximidade aos mais pobres, cumprindo a sua missão.
CF/FM