O Advento conduz à beleza do Natal

Aí está o “Natal” nas ruas. Todos os anos é assim e não depende muito de nós fazer com que seja diferente. Nem a introdução de novas campanhas de consumo – «sextas-feiras negras»?! –, altera a dinâmica, apenas mitigada por preocupações relacionadas com o perdurar da pandemia.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia 

Para o calendário comercial o «natal» é a grande estação: iluminação das ruas, arranjo das montras, melodias que percorrem o ar… Os cristãos vivem neste mundo, são também o produto desta “civilização”. Têm, porém, a responsabilidade de a temperar com a cultura da fé e com o culto segundo a fé (e não apenas segundo o sentimento humano e religioso).

Quando para o mundo é Natal, para nós é Advento; quando para nós já é Natal, para o mundo é “reveillon”, é “passagem”. Ora a nossa “passagem” é a Páscoa! A razão do desencontro talvez esteja em que o nosso mundo desaprendeu de celebrar sabendo apenas “divertir-se”. Somos cada vez mais meros consumidores e cada vez menos autênticos celebrantes. Ora a diversão – objeto da “indústria” e do comércio – é um “produto” indispensável para assegurar a continuidade dos ciclos da produção e do consumo. Bem diferente é a essência da celebração (e do jogo): implica rotura com essa lógica de vida, porque vive da abertura ao Mistério. Ora o “Mistério” é o indisponível, soberano e gratuito. Não é produto nem manufatura: apenas pode ser acolhido, tal como se manifestou na História, e a Igreja o anuncia e celebra. Quem diz acolhimento, diz disponibilidade, diz espera, diz preparação. Poderá haver Natal sem Advento?

Agora é hora de celebrar o Natal “em Advento, ou então reduziremos o Natal a mais uma comemoração aniversária (ou nem isso: para muitos é apenas a festa residual dos bons sentimentos…). Salvar a festa e a celebração: pode ser este o nosso contributo de cristãos para o mundo mais humano em que o mistério do Homem e de Deus tenha o seu lar.

Recebendo em audiência os participantes na iniciativa “Christmas contest” (22/11/2021), o Papa Francisco anotava que «também neste ano as luzes [do Natal] serão discretas devido à pandemia que ainda pesa sobre o nosso tempo. Com mais razão, por isso, somos chamados a interrogarmo-nos e a não perder a esperança. A festa do nascimento de Cristo não destoa em relação à provação que estamos a viver, porque é por excelência a festa da compaixão, a festa da ternura. A sua beleza é humilde e repleta de calor humano».

Fazemos nossas as sugestões do Papa Francisco:

– «A beleza do Natal transparece na partilha de pequenos gestos de amor concreto. Não é alienante, não é superficial, não é evasiva; pelo contrário, alarga o coração, abre-o à gratuitidade, ao dom de si, e pode gerar também dinâmicas culturais, sociais e educativas».

– Há que ter a coragem «de colocar a pessoa no centro» e de «pôr-se ao serviço da comunidade» (Mensagem para o lançamento do pacto Educativo, 12 de setembro de 2019).

– «O mundo em que vivemos precisa da beleza para não cair no desespero» (Paulo VI, Mensagem aos artistas, 8 de dezembro de 1965, nº 4). Mas de que beleza? – interroga Francisco. E responde: «Não a falsa, feita de aparência e de riqueza terrena, que é vazia e geradora de vazio. Não. Mas a de um Deus que se fez carne, a dos rostos, a beleza das histórias; a das criaturas que formam a nossa casa comum e que – como nos ensina São Francisco – participam no louvor do Altíssimo».

O Advento prepara-nos para esta beleza autêntica do Natal: na simplicidade, na austeridade, na renúncia ao supérfluo, na partilha fraterna. É certo que o Advento já não figura entre os tempos penitenciais da Igreja que o define como tempo de alegre expectativa. Contudo, não deixa de ressoar nele o brado de João Batista que nos convida a preparar os caminhos do Senhor com metanoia (penitência/conversão, mudança de mentalidade…) e consequentes propósitos de emenda. Com todas as cautelas recomendadas, não deixemos de propor e proporcionar às nossas comunidade a celebração do sacramento da Penitência.