Mensagem (145): Caminhos de conversão

Numa passagem evangélica, Jesus invetiva os «zelosos» “doutores da lei e fariseus hipócritas” que são capazes de atravessar “o mar e a terra para fazer um prosélito e, quando tal acontece”, geram um fanático, não um religioso (Mt 23, 15). Que os pagãos aderissem ao judaísmo, era desejável e meritório. Mas que o processo da conversão passasse pelo «cerco» e pela pressão psicológica, isso é que não pode entrar na dinâmica de uma fé que assenta na “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8, 21).

Este é o paradigma da vida cristã: nunca se impõe, mas apenas se propõe; não usa de habilidades de eficácia circunstancial, mas aponta somente para uma adesão íntima e abrangente. O que pode chegar ao martírio.

Como tal, a Igreja não possui «técnicas» de conversão dos jovens. Sabe que, na idade deles, tudo se orienta mais para a descoberta do mundo e dos bens que ele pode oferecer do que para o “olhar para o Alto” e embarcar num mistério de amor, porém invisível e fugidio aos sentidos. Mas também não ignora que o jovem é sensível a determinados valores. E estes podem constituir vias de aproximação à fé.

Uma delas é a da solidariedade, também chamada “caminho da justiça”. É cara aos jovens que contestam esta sociedade materialista e idealizam um mundo novo. Entusiasmam-se com a assistência aos pobres e «descartados», trocam as férias por ações de cooperação e dão corpo a ONG’s voltadas para o desenvolvimento e a ecologia. A Igreja encontra neles parceiros de sonho e de ideal. Por isso, é fácil que o jovem se entusiasme com o mesmo que entusiasma a Igreja: a fé.

Outra via é a da beleza. Os pós-modernos não toleram que se lhes diga o que devem fazer ou pensar. Mas empolgam-se com a expressão do inefável, do divino. A arte prega mais do que todos os compêndios de homilética. Mas a grande beleza é uma vida harmoniosa: uma pessoa dedicada totalmente a Deus e aos outros, com alegria e simplicidade, cativa e entusiasma. É mais testemunha do que mestre, para usar a expressão de Paulo VI.

Claro que isto são simples vias, acesso a um contacto transformante. Mas uma coisa é certa: o nosso Deus é «urbano». Ele está aí, na cidade dos homens, para fazer caminho com o jovem. Basta que se favoreça a aproximação mútua.

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