
Podemos distinguir uma dupla perspetiva no Advento: uma existencial e outra cultual ou litúrgica. Ambas as perspetivas se completam e enriquecem mutuamente e são indissociáveis.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
A espera cultual que se consuma na celebração litúrgica do Natal, transforma-se em esperança escatológica projetada para a Parusia final. A espera é única, porque a vinda do Senhor, aparentemente dupla e fracionada, é também única.
Advento e Esperança escatológica – A liturgia do Advento abre com a monumental visão apocalíptica do fim dos tempos prolongando o horizonte já aberto no 33º Domingo do Tempo Comum. Assim, saindo dos limites da experiência cultual, invade a vida inteira do cristão, submergindo-a num ambiente de esperança escatológica. O clima criado é o da vigilante expectativa, porque o Senhor vem quando menos pensemos. A certeza da sua vinda deve, contudo, encher-nos de alegria, de um desejo anelante: Vem, Senhor Jesus! Maranatha!
Advento e compromisso – A nossa esperança é sustentada e alimentada por uma espera ativa que não permite cruzar os braços ou deixá-los caídos. Aos nossos ouvidos ecoa a advertência: Preparai os caminhos do Senhor. E isso exige de nós o esforço de transformar este mundo “de selvagem em humano e de humano em divino, quer dizer, segundo o Coração de Deus” (Pio XII). A «reserva escatológica» não permite identificar o progresso humano com o reino de Deus (GS 39). Contudo, o discípulo de Cristo não espera a vinda do Senhor na fuga do mundo, nem se pode refugiar em qualquer ghetto ou paraíso religioso. Pelo contrário, está chamado a um intenso empenhamento na transformação das estruturas temporais que prepare e apresse a vinda do Reino de Cristo.
O Advento entre a 1ª e a 2ª vindas de Cristo – Vivemos o paradoxo do já e do ainda não. Cristo está presente no meio de nós, mas a Sua presença ainda não é total e definitiva. Quer ao nível pessoal, quer ao nível social, há zonas, ainda não penetradas pela luz de Cristo. Mas devemos estar alerta, porque Aquele que veio (Natal) e virá (Parusia), «vem agora ao nosso encontro em cada homem e em cada tempo, para que O recebamos na fé e na caridade» (Prefácio do Advento I/A).
Atualização da vinda do Senhor e Esperança – A nossa espera não é fantasia. Aberta à Parusia, concentra-se e atualiza-se, de modo especial, na Festa do Natal. A celebração do Natal que se prepara (o mesmo se diga de cada eucaristia) é a garantia de que Ele vem porque é a memória (acontecimento vivo em mistério) da Sua vinda histórica e antecipação da Sua 2ª vinda.
O mistério de Cristo no tempo: até que Ele venha – A espera de Cristo efetuada no âmbito do mistério do culto não é plena, nem definitiva, pois está aberta à Parusia final. Até lá, importa repetir a experiência da Sua vinda ao nível do mistério e da vida. Este contínuo esperar e experimentar os efeitos da Sua vinda e da Sua presença, vai formando e amadurecendo a imagem de Cristo em nós. Não se trata da repetição, à imagem de um movimento circular que sempre retorna ao ponto zero, mas de uma repetição em espiral, em que cada volta supõe sempre um maior grau de elevação e de profundidade. Deste modo, cada ano, a celebração litúrgica do Advento constitui, para nós, um verdadeiro acontecimento novo e irrepetível (o mistério, oferecido e vivido na totalidade, é captado na parcialidade do tempo).
Os modelos da espera messiânica – A Igreja assume e dá conteúdo à espera da humanidade. Nesse sentido, propõe modelos dessa intensa espera e esperança messiânica:
Os Profetas – principalmente Isaías. Mas, no Ano C em que vamos entrar, os pedagogos da esperança e arautos do Messias serão outros profetas: Jeremias, Baruc, Sofonias, Miqueias;
João Baptista – o precursor, convidando a preparar a vinda do Senhor e apontando já a sua presença eficaz;
Maria – a Mãe, na qual culmina toda a riqueza acumulada da espera messiânica. Maria tem um lugar muito especial neste ciclo do Advento e Natal: o tempo litúrgico mariano, por excelência.