Construir um jardim

Deparei-me ao ler o livro “O pequeno caminho das grandes perguntas”, do Cardeal José Tolentino Mendonça, com uma crónica muito interessante, que tem o título desta crónica, “Construir um Jardim”, com uma frase final singular onde escreve: “Creio que a nossa vida ficará incompleta se, depois de termos construído hortas, casas, oficinas, templos, não tivermos construído um jardim”.

Por Joaquim Armindo 

Já todos percebemos da força das palavras empregues pelo Cardeal – Diácono como poeta, e aqui fica provada a sua reflexão em profundidade, ao escrever, com toda a naturalidade, a construção de um jardim, que não é uma “horta”, nem uma “casa, oficina ou templo”, mas um jardim, configurado pela noção das flores que nascem, crescem e morrem e vivem; é neste viver que está toda a faculdade da força da palavra. Os jardins são alguma coisa de muito precioso, e até, lê-se, isso no texto-poema mencionado, um arco colorido que cheira a primavera, como se um arco-íris esvoaçasse sobre as nossas cabeças e as cores formulassem a vida do ser. Ser íntimo, porque se trata de um jardim, onde se vêm as borboletas passando o néctar de umas flores para as outras. Por isso, vale a pena ser jardim, para voltar cada um e cada uma ao seu jardim, confinado com os outros jardins.

Estamos hoje, iniciado há dias, num percurso para o sínodo 2023, onde tantos conservam a esperança florida de uma volta inteira da Igreja, percebendo que o nosso cosmos, e nossa Terra, as pessoas, são seres que se interlaçam para florirem. Este acontecimento é um percurso de caminhantes que não acharam ainda, mas procuram os cândidos florir de mil ideias, para que todos e todas possamos viver em fraternidade. É necessário que os milhões de cristãos e cristãs se levantem, com todos os homens e mulheres de boa-vontade, inaugurando uma nova época: a de amar até os inimigos.

Quando penso no jardim do Cardeal Tolentino, penso nestes muitos jardins que estão à volta de cada um, para construirmos o jardim, que é o nosso, que é de nós todos. Para cheirar as begónias e amar os malmequeres. São estes jardins que atraem o colorido onde vivemos e são eles que destroem o não quereremos cuidar de nós e dos outros. Todos estes jardins darão um sínodo, que se quer respeitante da beleza dos pensamentos, das ideias e da reflexão. Se assim acontecer estes jardins serão uma construção nossa, sob o poder do Espírito do Senhor. Não queiramos matar os jardins, mas (re) construí-los no nosso ser e em todos os seres.