Preparar o Advento?

Foto. Rui Saraiva

O Advento é a chegada ou a espera ou a preparação. Na primeira parte, desde o primeiro domingo até ao dia 16 de dezembro, predomina o acento escatológico, projetando-nos na espera da última vinda do Senhor no fim dos tempos. Deste modo, a virtude da esperança cristã, que sustenta esta tensão permanente, purifica-se e é exercida.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Os prefácios resumem admiravelmente a espiritualidade típica deste tempo: o I e o IA falam-nos das duas vindas de Cristo e de Cristo, Senhor e Juiz da História. Finalmente, na segunda parte, a partir do dia 17 de dezembro, na chamada semana santa” do Natal, os nossos sentidos são orientados, pela liturgia, para a preparação imediata do Natal, a qual é reforçada pelos prefácios II e IIA: a dupla espera de Cristo e Maria, nova Eva.

Depois de um longo tempo comum, o Advento chega com uma nova e rica mensagem. Esta alteração do ritmo ordinário não deixa de ser agradável e esperada, não só quebrando a monotonia do curso “per annum”, mas injetando-lhe um novo impulso e espiritualidade.

Mas preparar o Advento? Sim e não. Pois que este tempo não é mais que a preparação de uma Vinda. Ele é a Preparação: “Preparai os caminhos do Senhor”. Mas, para que o seja, eficazmente hoje, na comunidade, alguns devê-lo-ão preparar cuidadosamente: os padres e diáconos, os acólitos, os leitores, o Coro e os cantores, sacristão, zeladoras, etc.

Primeiramente, a equipa paroquial de liturgia, se existe, reunir-se-á para programar o Advento, tomando como referência necessária e suficiente o Missal (incluindo a sua parte normativa: Instrução geral e Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário) o Leccionário e a Liturgia das Horas: apontará as principais linhas de ação e atribuirá tarefas concretas. Considerará que a sua principal tarefa será conseguir que toda a comunidade atinja aquela atitude espiritual de espera e esperança proposta pelo Advento. Depois, cada grupo procurará concretizar, no seu próprio âmbito, o que foi proposto a nível paroquial.

Um elemento significativo será a Coroa de Advento que já se tornou “tradicional” entre nós nas igrejas e nas casas. Trata-se de uma roda, de dimensão variável (de acordo com as dimensões do espaço – igreja ou casa, sala de reunião ou de catequese) – revestida de verdes e com quatro círios ou velas que se vão acendendo, progressivamente, em cada domingo e que nos propõem uma caminhada de luz que aponta a Parusia e o Natal. Deverá ser colocada num lugar bem visível na igreja e, nas casas, numa sala que concite a família para a reunião de oração. Em vez de uma roda – com um simbolismo inerente –, poderá ensaiar-se uma forma linear, um tronco por exemplo, com as quatro velas. Há outros elementos significativos que podem ser utilizados: uma imagem da Virgem com o Menino, uma imagem de João Baptista, um presépio que lentamente se vai construindo ao longo do Advento e que apenas se completa no Natal. Convém, entretanto não multiplicar símbolos e imagens, pois que acabam por se neutralizar mutuamente.

Os leitores terão na devida conta de que, com o Advento, se inicia um outro ciclo de leituras: em 2021-22 será o ano C. Não será inoportuno que o grupo se reúna previamente para o estudo das grandes linhas do Leccionário no Advento. Atenção à proclamação das primeiras leituras dominicais, ricas de poesia e prenhes de esperança. Há que escolher as vozes mais adequadas e preparar bem a proclamação, de modo a evitar a toada tristonha e “choradinha” que obscurece e contradiz a mensagem a proclamar.

O Coro terá um trabalho aturado para preparar o canto e precisa, sem dúvida, de grandes vésperas. Com o fim do Tempo Comum e a entrada do Advento impõe-se uma mudança completa de repertório, tanto do ordinário (aconselhável) como do próprio (indispensável). Talvez seja necessário ir preparando, mesmo durante os últimos domingos do Tempo Comum, alguns cânticos com a Assembleia. Na própria oração eucarística sugerimos a aclamação de anamnese «Mistério admirável…» com a respetiva resposta. Hoje já se dispõe de repertórios ricos e variados, conforme as capacidades técnicas dos diferentes coros e assembleias, começando pela proposta mais universal do Cantoral Nacional.

O Senhor que veio a primeira vez na humildade do presépio e que virá novamente como Juiz e Senhor universal, vem quotidianamente e faz-nos sentir a sua presença de múltiplos modos. Mas de uma forma mais densa e enriquecedora na celebração litúrgica. Preparemos a celebração do Advento para viver em Advento na alegria desta vinda e desta esperança.