Mensagem (143): Deus gosta das periferias

Recebi um simpático e-mail de alguém que me quis relatar a sua nova experiência num organismo paroquial de pastoral da caridade. Dizia-me: “Caridade é olhar o outro, escutar e ajudar. Um simples convite para tomar um café, foi dos maiores atos que pratiquei. Porque, nesse tempo, escutei/partilhei a angústia que pairava na mente da outra pessoa”.

Assim é. Precisamos de provocar encontros. Porque, quando as coisas correm mal, a casa torna-se o local do refúgio. O que acrescenta solidão ao drama: metidas no meio de quatro paredes, as pessoas passam a ter o silêncio como companhia, a desligar-se da realidade da vida, a atar-se com novos nós cada vez mais apertados e impossíveis de desfazer pelas próprias forças.

Nestes casos, só a ajuda externa é desatadora desses laços, condição para um regresso à «normalidade» da vida. Mas sem isso, as pessoas não se sentem pessoas, não experimentam o gosto de viver, não «lutam» por objetivos. E daí até às patologias psíquicas, às drogas, à rua ou ao suicídio, pode ir um passo muito curto.

O Papa Francisco alerta-nos continuamente para uma dupla necessidade: sermos uma Igreja em saída e ousar criatividade, ainda que isso nos levasse a sujar os sapatos na lama da realidade nua e crua da vida. Pois, aí está um campo de possibilidades imensas. Até porque as perspetivas não são animadoras: para além das fragilidades congénitas à natureza humana, é previsível que, nesta sociedade competitiva, nem todos consigam acompanhar o seu ritmo. Como é possível que, mercê dos laços despersonalizados, cada vez mais se conjugue velhice e doença com solidão e isolamento.

Constituindo uma dimensão estruturante, curiosamente, este género de pastoral não necessita de «técnicos» altamente formados, como outras áreas da evangelização. Bastam-lhe corações inquietos, recetores capacitados para captar as ondas de sofrimento dos afastados da vida e vontade generosa de disponibilizar tempo e ouvidos para que o outro saia de si e faça morada no coração de quem lhe dá oportunidade e acolhimento.

O Senhor Jesus «gosta» de se esconder na figura desses solitários. Ao dar-lhes tempo, é ao Filho de Deus que se dá tempo. Pois, como dizia a autora do tal e-mail, “Deus gosta das periferias”.

Pensemos nisso neste Dia do Pobre.

***