No sábado, 6 de novembro, o Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, em iniciativa da Cátedra Poesia e Transcendência Sophia de Mello Breyner Andresen, dirigida por José Rui Teixeira, seu diretor e presidente do Conselho Científico, inaugurou um Memorial à poeta Sophia de Mello Breyner, constituído por uma árvore de camélias, flores dela preferidas entre tantas, uma estrutura em granito, com um verso inscrito: “Trazida ao espanto da luz”. A autoria do memorial é de Avelino Leite. É constituído por um círculo de granito que envolve a camélia agora ali plantada.
O Memorial de Sophia foi projetado no âmbito da celebração do centenário do nascimento da autora, ocorrido a 6 de novembro de 2019, sendo agora inaugurado na data dos seus 102 anos. Segundo a intenção, “pretende-se que seja um lugar de repouso e de contemplação, um convite para parar junto a um lugar de passagem: uma camélia dentro de um círculo. A árvore foi oferecida pelo Jardim Botânico do Porto (oriunda da casa-quinta onde Sophia nasceu e passou a infância), e constitui uma nova variedade, batizada com as palavras da poeta: “Trazida ao espanto da luz”.
A Presidente do Centro Regional do Porto da U. Católica, Isabel Braga da Cruz, justifica: “Sophia de Mello Breyner Andresen é uma figura única e incontornável da cultura portuguesa. Queremos que Sophia habite o campus da Católica no Porto e inspire a nossa missão de formar pessoas e de renovar o país e o mundo pela excelência do exemplo”.
O Memorial de Sophia foi inaugurado no sábado 6 de novembro (dia litúrgico de São Nuno de Santa Maria), pela Presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Braga da Cruz, contando com a presença da Diretora Regional de Cultura do Norte, Laura Castro, da Vice-Reitora da Universidade do Porto Maria de Fátima Neves, do Diretor do Jardim Botânico, Paulo Farinha Marques, da filha da Sophia, Isabel Sofia Andresen, e de Arnaldo Pinho, fundador da Cátedra Poesia e Transcendência. A apresentação foi feita por José Rui Teixeira, atual Diretor daquela Cátedra.
A Cátedra inspirada por Sophia
A inauguração deste momento surgiu integrada no II Colóquio Internacional TEOTOPIAS: “A violenta escuridão de se abeirar da luz”, realizado entre 4 e 6 de novembro, assinalando o cinquentenário do nascimento de Daniel Faria (o poeta que foi aluno da Universidade Católica e da Universidade do Porto). O neologismo “Teotopias” pode traduzir-se como “Lugares de Deus”, buscados nas análises e intervenções apresentadas naquele Colóquio, em que foi lembrada também a figura de Fernando Echevarría, recentemente falecido.
A Cátedra “Poesia e a Transcendência”, fundada em 2006, na Universidade Católica no Porto, fundada por Arnaldo Pinho (também presente nesta homenagem), assume um carácter multidisciplinar e intercultural, e com o objetivo de estudar as relações entre poesia e transcendência em autores portugueses e estrangeiros.
No dizer de José Rui Teixeira, diretor e presidente do Conselho Científico da Cátedra, esta iniciativa é especialmente significativa para a comunidade académica da Católica no Porto:
“A Cátedra de Sophia tornou-se uma referência no diálogo entre a Literatura e a Teologia e no estudo das relações entre poesia e transcendência. Organizou, coorganizou ou fez-se representar em quase cem iniciativas de natureza académica e cultural, desenvolveu e participou em projetos de investigação, coordenou cientificamente cursos e edições; e desenvolveu parcerias com outras cátedras e com centros de investigação na Europa e na América Latina”.
Numa Faculdade em que a cultura humanística se compagina com a cultura teológica e com as dinâmicas do Pensamento português (Recorde-se o notável Congresso de Pensadores Portuenses realizado em 2001, uma das iniciativas culturais mais relevantes da Capital Europeia da Cultura), a reflexão sobre a poesia e transcendência assume uma dimensão de que a poesia de Sophia de Mello Breyner constitui um modelo assinalável, como ficou demonstrado no texto que com que José Rui Teixeira ilustrou a cerimónia da inauguração.
Importa lembrar algumas das suas palavras de Sophia, conhecidas ou a conhecer: “A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder. E se é evidente que o Estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a ação do Estado se transforme em dirigismo”.
E sobre o valor da poesia, como “poiética”: “Para o poeta a poesia é uma forma de salvação sua e dos outros. E esta busca de salvação não pode ser alheia à busca de uma forma concreta e prática de justiça”.
CF