Portugal tem um problema de produtividade. Enquanto não o resolvermos, prevalecerá o lema: em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
Por Alberto Castro
Docente da Católica Porto Business School
Quando se procuram as razões profundas do nosso atraso, pois é disso que estamos a falar, quase sempre surge, nos lugares cimeiros, a baixa qualificação dos trabalhadores. Na verdade, não obstante uma recuperação significativa ocorrida no período democrático, há um lastro que ainda perdura. Estatisticamente, reflete-se nos escalões etários mais velhos e, qualitativamente, na pouca importância que continuou a ser concedida ao investimento em educação e que demorou tempo a ser invertido. A forma como a comunicação social continua a enfatizar fenómenos de sobrequalificação para o trabalho que se desempenha, ou os casos de desemprego entre licenciados, ignorando a baixíssima taxa de desemprego global entre esse grupo ou o ganho salarial obtido, em média, pelas pessoas mais qualificadas, não tem ajudado. Contudo, como se disse, há um processo de convergência, certamente mais demorado do que o que seria desejável, mas que parece inelutável.
No entanto, mais do que olhar para a base da pirâmide das organizações, será porventura mais profícuo olhar para o seu topo. Quando o fazemos o panorama não é muito animador, nem em termos de qualificações, nem da forma como essa elite, chamemos-lhe assim, dirige as instituições. Poderíamos dar vários exemplos, mas perdoar-me-ão que o defeito profissional leve a que me foque nas empresas. A miríade de micro e pequenas empresas existentes pesa o suficiente para que a estrutura de qualificações de patrões e trabalhadores sejam relativamente idênticas. Para além disso, alguns estudos internacionais sujeitos a um escrutínio rigoroso, têm demonstrado que os processos aplicados, mesmo nas nossas médias e grandes empresas, ficam a perder quando comparados com os países mais desenvolvidos. Pudéssemos nós ter nessas empresas os métodos e técnicas seguidas nessas outras geografias e, mesmo com as qualificações atuais, a produtividade melhoraria substancialmente. E essa é a pré-condição para que se possa subir, sustentadamente, o nosso nível de vida.
Esses métodos e técnicas estão, intimamente, associados ao estilo de liderança que se pratica. Não tendo as empresas em mente, a carta do Papa Francisco à Diocese de Roma, iniciando o caminho sinodal, contém ensinamentos que, no meu entender, nelas são aplicáveis. Diz ele, a certo ponto, falando do seu “rebanho”: “Eu sou capaz de caminhar, de me mover na frente, no meio e atrás ou estou apenas na cátedra (…)? Na frente para indicar a estrada, no meio para sentir o povo e atrás para ajudar quem se atrasa um pouco (…)”. “Pastores misturados, mas pastores, não rebanho: o rebanho sabe que somos pastores, o rebanho sabe a diferença.”. Pastores (líderes) caminhando juntos com o rebanho, recusando erigir, e refugiar-se, em monumentos hierárquicos que escondem o horizonte (e a incompetência, diria eu?).
O documento vale por si. Mas permite, na minha opinião, um espetro alargado de reflexões, incluindo a liderança empresarial.