Mensagem (142): Plano inclinado

Morte «boa», «doce», como sugere o termo “eutanásia”? Era bom, era. Melhor que isso, só mesmo que se matasse… a morte.

Porém, a realidade é mais crua: humanamente falando, a morte constitui a repugnância máxima. Todos ficam chocados com ela. Quando alguém diz querê-la, não é para lhe «provar o gosto»: exprime o seu desespero confrangedor motivado pela solidão, quebra das relações íntimas, abandono criminoso, dor acutilante de nunca sentir um afago.

Não é a dor física que leva ao desânimo, pois essa é facilmente superada pelas modernas técnicas de analgia e cuidados paliativos. O que passa todos os limites é o saber-se que muitos «adoram» o cão e o gato, mas nunca visitam a mãe ou o avô. O insuportável é a ausência dos afetos, a fragilidade das relações, o grassar da cultura do «descarte».

É aí que aparecem os portadores de soluções fáceis, propondo que se eliminem os dramas eliminando a pessoa. Mas isso será humano?

A submissão ao facilitismo representa sempre uma abdicação perante a sensatez. Pior: começa por ser um «mal que se tolera» e, de abaixamento em abaixamento, chega ao «mal que se impõe». Até ser tido como um «bem». É o plano inclinado onde se forma a bola de neve que nunca se saber onde vai parar. Se é que vai mesmo parar.

Veja-se isto. Há não muito tempo, no Parlamento Federal da Bélgica, o «grande tema» era que se aproveitasse o aniversário da despenalização do aborto, para um “novo avanço”: que o aborto se pudesse praticar em qualquer circunstância e idade do feto e, assim, pura e simplesmente deixar de ser referido no Código Penal. E que se inserisse no âmbito dos “tratamentos médicos destinados a preservar a saúde da mulher”. Como tal, dos atos terapêuticos louváveis e obrigatórios. Ainda que praticado segundos antes de o bebé começar a mostrar a cabecita, no parto.

Repare-se: de ato «mau» despenalizado, passou a ato regulado; depois, a «normal»; agora, deseja-se desregulado; e já se argumenta que é um simples ato terapêutico. Como tal, ato bom. E a seguir? Certamente terá de ser algo de natureza obrigatória. Como as vacinas.

O problema da eutanásia reside aqui: a curto prazo, a «nova» mentalidade da «eliminação permitida» passará a «eliminação exigida». E a sociedade que, mais ou menos, ainda se vai comprometendo com as fragilidades, qualquer dia tentará bani-las, banindo as pessoas.

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