Escutar, criar espaço, Sínodo 2023

“A obra de evangelização e a mensagem de salvação não podem ser compreendidas sem a constante abertura de Jesus ao mais amplo público possível.

Por Joaquim Armindo

Os Evangelhos se referem a isso como a multidão, composta por todas as pessoas que seguem Jesus ao longo do caminho e por todas as pessoas que Jesus chama para segui-lo. O Concílio Vaticano II destaca que “todos os seres humanos são chamados ao novo povo de Deus” (LG, 13). Deus está realmente trabalhando em todo o povo que reuniu. É por isso que “todo o corpo dos fiéis, ungidos como são pelo Espírito Santo, não pode errar em matéria de fé. Eles manifestam esta propriedade especial por meio do discernimento sobrenatural de todo o povo em matéria de fé, quando desde os Bispos até o último dos fiéis leigos, eles mostram concordância universal.” Este importante parágrafo do manual que acompanha o documento preparatório do Sínodo 2023, é o âmago de todo o caminhar sinodal, se o escutarmos devidamente. É de escuta que se trata, uma escuta não passiva, mas ativa, a fim de criar o espaço necessário à compreensão da catolicidade da igreja, ao trajar as vestes ecuménicas necessárias ao entendimento entre cristãos. Quando se afirma que é o conjunto dos fiéis na sua catolicidade que “não pode errar em matéria de fé”, e ser católico é isto, o que compreende todos os seres humanos cristãos ao entendimento do que é a igreja, afirmar o que é crido em todos os lugares e em todos os tempos. Por isso, o povo de Deus é convocado, todo ele, para afirmar o que sente. Neste sínodo, contudo, não se quer resumir à igreja católica-romana e pede-se que o ecumenismo seja pedra assente.

Esta escuta deverá, assim, criar o diálogo e a reflexão, a espaços onde todos e todas possam livremente, dizer o que “lhe vai na alma”, porque isso é sob orientação do Espírito Santo, que, para mim, fala mais por aqueles e aquelas que “não estão nas sacristias” e possuem o poder livre de falar, para que os ouçamos; abrir acessos e espaços independentemente de quem são e do que fazem. Por exemplo, seria muito bom e lógico que os sem-abrigo do Porto pudessem dizer o que é para si a igreja.

É necessário abrir-se à inclusão de todos – que não é integração -, ao não-direcionamento das respostas, o que pressupõe uma conscientização cultural, não dirigista, para uma igreja saída do sínodo que tenha escutado e criado espaços, com respeito pelos direitos, dignidade e opinião de cada pessoa que intervenha neste caminho sinodal.