Os sinos: convocam a assembleia e exprimem os sentimentos do povo

O Ritual Romano, no volume dedicado à Celebração das Bênçãos, dedica um capítulo à Bênção dos Sinos (III Parte, cap. XXX). E, logo nos Preliminares, justifica o rito:

«É costume antigo convocar o povo cristão e adverti-lo dos principais acontecimentos da comunidade local por meio de algum sinal ou som. O toque dos sinos exprime de algum modo os sentimentos do povo de Deus, quando exulta ou chora, quando dá graças ou suplica, quando se reúne e manifesta o mistério da sua unidade em Cristo» (Ritual Romano. Celebração das Bênçãos [= CB], n. 1984).

Por Secretariado Diocesano da Liturgia 

O uso de objetos metálicos para convocar a comunidade e assinalar a festa é muito anterior ao cristianismo. Entre as leituras sugeridas para esta celebração de bênção, o Ritual sugere Nm 10, 1-8.10. Trata-se da instrução dada por Deus ao povo, mediante Moisés, de fazer duas trombetas de prata, que serviriam para convocar a assembleia, para dar sinal de partida, para mobilizar para a guerra, para assinalar dias festivos, para acompanhar a oferenda de sacrifícios… «Serão para vós um memorial diante do vosso Deus» (Nm 10, 10). É assim com os sinos das nossas Igrejas.

Sabe-se da sua existência na China desde o terceiro milénio a.C. O seu uso propagou-se e chegou à Europa. Os romanos usavam-nos na vida social para anunciar a abertura do mercado, para sinalizar as horas principais do dia (tércia, sexta, noa)… Atribui-se a São Paulino de Nola († 431), cidade da região da Campânia (Nápoles), a associação do toque dos sinos ao culto cristão. Significativamente, «campana» é sinónimo de «sino» nas línguas italiana e castelhana. E chamamos «campainha» a um sininho. Deverá ter sido nos mosteiros que primeiro se demonstrou a sua utilidade na convocatória dos membros da comunidade para a oração das «horas canónicas», noturnas e diurnas, e para outros atos comunitários.

A partir do séc. VI aparecem as primeiras torres sineiras adossadas às Igrejas ou delas separadas, conjugando o sinal visual ao acústico. Santo Apolinário, em Ravena é dos exemplos mais antigos.  Gregório de Tours (561) já refere a sua existência e a sua construção generalizou-se a partir do Papa Estêvão II  (séc. VIII) que fez erigir uma torre sineira com 3 sinos junto à basílica de São Pedro. No segundo milénio, as torres-campanário tornam-se um elemento característico da arquitetura cristã, mas também da arquitetura civil, nos palácios dos municípios.

Os sinos desempenharam importantes funções tanto nas comunidades urbanas como no mundo rural: toque a rebate em caso de ataque inimigo, aviso de incêndio, toque de recolher, informações diversas (óbitos, batizados, casamentos), anúncio das festas do calendário religioso ou civil, informação horária… Mas a sua função principal na vida litúrgica é a de convocar a assembleia. E a Igreja é, precisamente, assembleia convocada em resposta a uma iniciativa divina. Por isso se diz que a voz do sino «é voz de Deus».

Esta função não perdeu o seu valor: anuncia a hora da Assembleia, avisa os retardatários e faltosos, é sinal para os impedidos (doentes), pondo-os em sintonia com a comunidade. Além disso, os sinos comunicam e exprimem as mensagens de dor e luto, esperança e consolação, alegria e festa. Ao longo do dia, lembram-nos a oração pessoal e são um sinal de espiritualidade no meio de uma sociedade consumista, agitada por valores efémeros, esvaída pelo afã do imediato. O toque dos sinos fala-nos da transcendência da vida e da direcção vertical da nossa história.

Numa das orações de bênção, o ministro pede a Deus: «abençoai este novo sino e fazei que todos os vossos fiéis, ao ouvirem o som da sua voz, elevem para Vós os seus corações e, participando nas alegrias e tristezas dos seus irmãos, acorram prontamente à igreja, para que aí possam sentir a presença de Cristo, escutar a vossa palavra e apresentar-Vos as suas súplicas» (CB, n.1047).

Uma frequente inscrição gravada no bronze dos sinos reza assim: «vivos voco, mortuos plango, fulgura frango» («Chamo os vivos, choro os mortos, quebro os relâmpagos»). E outra, ainda mais eloquente: «A minha voz é a voz da vida, chamo-vos para a celebração, vinde. Louvo o Deus verdadeiro, convoco o povo, reúno o clero, choro pelos defuntos, afugento a tempestade, dou brilho à festa».

Com o seu som penetrante e repousante, despretensioso e solene, os sinos prestam um serviço humilde e indispensável à comunidade cristã e a toda a sociedade.