Domingo XXXII do Tempo Comum

Foto: João Lopes Cardoso

7 de Novembro de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Primeiro Livro dos Reis                                                                    1 Reis 17,10-16

«Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou, nem se esvaziou a almotolia do azeite».

 

Salmo Responsorial                                Salmo 145 (146)

Ó minha alma, louva o Senhor.

 

Leitura da Epístola aos Hebreus                                                                         Hebr 9,24-28

«Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos,

para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo».

 

Aclamação ao Evangelho           Mt 5,3

Bem-aventurados os pobres em espírito,

porque deles é o reino dos Céus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos                        Mc 12,38-44

«Acautelai-vos dos escribas».

«Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros».

«Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha».

 

Viver a Palavra

Quando tudo parece perdido Deus irrompe na nossa vida, oferecendo um novo horizonte de esperança. Surpreendendo a nossa fragilidade, ensina-nos que a nossa pequenez quando oferecida totalmente como dom, se torna lugar de anúncio alegre e feliz de que a vida só se torna verdadeiramente vida quando entregue sem medida. Na verdade, foi assim com a viúva que depositou tudo quanto possuía na arca do tesouro e foi também assim com a viúva de Sarepta que se preparava para tomar a última refeição com o seu filho, mas visitada pelo profeta Elias e dando tudo quanto lhe restava, não lhe faltou a farinha na panela, nem o azeite na almotolia.

Deste modo, a Liturgia da Palavra deste Domingo, coloca no nosso horizonte Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, que se oferece todo e de uma vez para sempre e nos convoca para a entrega total das nossas vidas, advertindo-nos para o perigo de dar apenas o supérfluo, o que nos sobra ou o que não nos interessa.

Sentindo ainda ecoar no nosso coração o desafio de Jesus no Domingo passado, recordamos o convite permanente a viver a partir de um amor a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento, para que amando assim a Deus, possamos amar o que Ele ama, possamos amar os irmãos que connosco trilham a estrada da vida. Jesus reclama a nossa vida toda, para que oferecida ao serviço de Deus e dos irmãos, a sintamos cada vez mais como nossa.

Por isso, Jesus começa por nos advertir para o perigo de uma prática religiosa que vive apenas para a visibilidade das acções, ao jeito dos escribas. No fundo, o horizonte da vida de quem vive assim a sua fé é mais ateu do que cristão, pois a referência decisiva para eles é o olhar dos homens e não o de Deus. No contexto actual, numa sociedade que vive tanto do parecer e do aparecer, onde as redes sociais se tornam lugar de exposição do que fazemos e vivemos, está muito presente o perigo de expor aquilo que deveria ser vivido no recolhimento, na discrição e no silêncio. Aprendamos com Jesus e com a viúva do Evangelho, a exigente arte de dar testemunho na simplicidade do coração e na entrega total da vida.

A viúva, que deposita tudo quanto possui na arca do tesouro, testemunha que na nossa vida cristã e na entrega da vida que ela exige, não está em causa uma questão de quantidade, mas de totalidade. Quem não dá tudo, por muito que possa dar, dá ainda muito pouco. Jesus ensina-nos que quem dá apenas o supérfluo deixa a vida intacta, ao contrário do dom de si que transforma a vida para sempre. Mas não deixemos que este desafio e estas palavras fiquem apenas na poética da entrega e do amor. Pensemos no concreto do nosso quotidiano: o que estamos dispostos a dar? O que nos sobra ou o que nos faz falta? Por exemplo, quando oferecemos roupa para uma qualquer campanha de solidariedade, damos o que não nos serve ou já não está em bom estado ou a peça de roupa nova que mais gostamos?

Será este modo concreto de pensar a vida e o quotidiano que marcará a diferença. É esta mudança do coração e da vida que faz irromper no tempo e na história uma nova lógica de ser e de estar, que se traduz num novo modo de servir e amar ao jeito do Mestre que, oferecendo-se todo e até ao fim, nos abriu as portas da felicidade que tem sabor de eternidade.

 

Homiliário patrístico

São Paulino de Nola (séc. V)

Carta 34,2-4

Tens algo – diz o apóstolo – que não tenhas recebido? Portanto, amadíssimos, não sejamos avaros dos nossos bens como se eles nos pertencessem, mas negociemos com eles como um empréstimo. Recordemos aquela viúva, que esquecendo-se de si mesma e preocupada unicamente com os pobres, pensando somente no futuro, deu tudo o que tinha para viver, como o testemunha o próprio juiz. Os outros – diz – lançaram daquilo que tinham de sobra; porém esta, mais pobre talvez do que muitos pobres – já que toda a sua fortuna se reduzia a duas moedas –, mas em seu coração mais admirável que todos os ricos, coloca a sua esperança somente nas riquezas da eterna recompensa e ambicionando para si somente os tesouros celestiais, renunciou a todos os bens que procedem da terra e à terra retornam.

Lançou o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o imortal. Aquela pobrezinha não menosprezou os meios previstos e estabelecidos por Deus em vista da consecução do prémio futuro; por isso o legislador também não se esqueceu dela e o árbitro do mundo antecipou a sua sentença: no Evangelho ele elogia aquela que coroará no juízo.

Negociemos, portanto, com o Senhor com os próprios dons do Senhor; nada possuímos que dele não tenhamos recebido, sem cuja vontade nem sequer existiríamos. Congratulemo-nos por sermos comprados a grande preço, ao preço do sangue do próprio Senhor, deixando por isso mesmo de sermos pessoas vis e venais, já que a liberdade que consiste em sermos livres da justiça é mais vil que a própria escravidão. Aquele que assim é livre, é escravo do pecado e prisioneiro da morte. Restituamos, pois, ao Senhor os seus dons; demos a ele, que recebe na pessoa de cada pobre; demos, insisto, com alegria, para receber dele a plenitude da alegria, como ele mesmo disse.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O mês de Novembro é tradicionalmente conhecido como «mês das almas». A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Todos os Fiéis defuntos que abrem este mês marcam o horizonte que deve caracterizar a piedade popular e a devoção que caracteriza este tempo: a partida dos nossos entes queridos e a santidade como participação na bem-aventurança celeste. Ao longo deste mês, quer na pregação, quer nos exercícios de piedade e devoção, bem como na proposta de momentos de oração/formação, pode ajudar-se os fiéis a viver este mês com uma renovada esperança e com novo ardor, valorizando a «força evangelizadora da piedade popular» (Papa Francisco).

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, é necessário ter em atenção o diálogo entre Elias e a viúva, com especial cuidado nas intervenções em discurso directo. Deve evitar-se quer o tom demasiado dramático, quer uma leitura indistinta do discurso directo e indirecto. As palavras Sarepta e almotolia devem pronunciar-se re.p.ta (lendo o p) e al.mu.tu.li.a. A segunda leitura possui frases longas e com diversas orações. Deve fazer-se uma preparação acurada, indicando pausas e respirações, para uma proclamação mais articulada do texto.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada:  Eu vos invoco, Senhor – A. Cartageno (CEC II, p. 129-130); Salmo Responsorial: Ó minha alma, louva o Senhor (Sl 145) – M. Luís (SRML, p. 240-241); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Bem-aventurados os pobres em espírito –  M. Simões (CN 53); Ofertório: Tomai, Senhor, e recebei – J. Santos (CN 966); Comunhão: O Cordeiro de Deus é o nosso pastor – C. Silva (OC, p. 167-168| CEC II, p. 121-122| XXV ENPL, p. 49); Pós-Comunhão: Laudate omnes gentes – J.Berthier (CN 571); Final: Grandes e admiráveis são as vossas obras – F. Santos (CN 520).