O subsídio da diocese do Porto nas batalhas contra os turcos

Foto: Rui Saraiva

Novidades antigas.

Após breve do Papa Clemente XI, a pedir ajuda contra os Turcos e a autorização do Rei D. João V, as dioceses mobilizam-se. A diocese do Porto colabora prontamente. O Núncio informa o Secretário de Estado acerca da recolha realizada no Porto (AAV, Segretaria di Stato – Portogallo, caixa 205, n.p., 12-6-1716).

Por Carlos Moreira Azevedo*

Antes dos dados encontrados, um pouco de contexto. Em 1716 deslocou-se uma esquadra, que partiu a 7 de julho de Lisboa, mas não chegou a haver batalha. No entanto, a participação ordenada por D. João V conseguiu obter o titulo de Patriarca para o bispo de Lisboa. A 19 de Julho de 1717 ocorreria a batalha naval entre os aliados cristãos e a armada do Império Otomano, a sul da Grécia, perto do cabo Matapão que daria o nome à batalha. Agora, em 1717, a armada era composta pela República de Veneza, com auxílio de Estados Pontifícios, Ordem de Malta, Grão-ducado da Toscana e Portugal. Calhou à armada portuguesa papel fundamental na derrota dos turcos. Era comandada pelo almirante Lopo Furtado de Mendonça (Conde de Rio Grande) e constituída por sete naus de guerra e quatro naves auxiliares, de 526 canhões e cerca de 3840 homens. Partiu a 28 de abril de Lisboa e chegou a Corfu, onde reuniu com a restante armada cristã. Apesar da batalha ter vitória cristã, essa não foi muito significativa. Portugal sofreria cerca de 50 mortos e 150 feridos. Papel relevante assume a projeção da diplomacia externa de D. João V. A história conhece os detalhes desta estratégia real para demonstrar a importância de Portugal na Europa.

O que dou a conhecer é a colaboração da Diocese do Porto para esta luta contra os turcos:

Lista do que rendeu o subsidio com que contribue a Mitra, Cabbido, beneficiados e Clero do Bispado do Porto a sua santidade o SS.mo P. Clemente XI, na forma do Breve inserto na Pastoral pelo que consta dos recibos do Thesoureiro Thomas de Freitas, o seguinte:

A Mitra deste Bispado, três contos de reis –      3.000$000

O Rev.do Cabbido da Cathedral duzentos mil reis – 200$000

O Reverendo Cabido da Collegiada de Cedofeita dezanove mil e duzentos reis – 19$200

Dos bens da herança do defunto José Luís Motta que sua Ill.ma aplicou para este subsídio     600$000

Somma 3.819$200

 

Cidade

Renderao as seis igrejas e Clero da Cidade e suburbios, a saber: See, Victoria, S. Nicolao, S. Pedro de Miragya, S. Ildefonso e S. Marinha de Vila Nova de Gaya, entrando algumas esmolas particulares, […] 296$880

 

Comarca de Penafiel

Renderão cento e duas igrejas e Clero da Comarca de Penafiel […]          801$690

 

Comarca da Feira

Renderão outenta e duas igrejas e Clero da Comarca da Feira […]        539$290

 

Comarca de Sobre Tamega

Renderão sessenta igrejas e Clero da Comarca de Sobre Tamega […]    528$940

 

Comarca da Maya

Renderão sessenta e seis igrejas e Clero da Comarca da Maya […]      444$580

 

Soma tudo, conforme parece e salvo erro, seis contos quatrocentos trinta mil quinhentos e outenta reis, que fazem dezasseis mil cruzados e trinta mil quinhentos e outenta reis.

Por conta da Mitra se fizeram todas as despesas necessárias para a cobrança deste subsidio que importarão quantia que sua Ill.ma não quis se juntasse em conta, mas sim fosse o subsidio sem diminuição alguma e conforme as offertas que se fizerão.

A contribuição generosa, no total de 6.430$580 réis, que a diocese do Porto recolheu em 1716, esteve ao serviço de uma política joanina destinada a engrandecer o nome de Portugal na Europa, através de gastos de grande aparato no espírito da época, mas que já então se lamentava não se investisse no crescimento cultural da população e no bem comum, em ordem a melhores condições de vida.

*bispo e delegado do Conselho Pontifício da Cultura