Bispo do Porto: “Igreja, que dizes de ti mesma?”

Foto: João Lopes Cardoso

Citando as palavras de S. João XXIII, o bispo do Porto deu início ao Sínodo 2023 na sua fase diocesana no Porto. “Uma Igreja chamada a discernir o que tem de fazer para que seja mais Igreja” – declarou D. Manuel Linda que propôs algumas interrogações para o trabalho de consulta sinodal.

Foi com as palavras de S. João XXIII que o bispo do Porto deu início solene ao Sínodo 2023 na diocese do Porto: “Igreja, que dizes de ti mesma?”. Na catedral do Porto, D. Manuel Linda, na sua homilia afirmou que a Igreja “jamais poderá ser fermento” do Reino de Deus “se não se questionar sobre o seu presente”. “Uma Igreja chamada a discernir o que tem de fazer para que seja mais Igreja” – afirmou.

“As razões do próximo Sínodo entroncam aqui. Por isso, se os outros Sínodos foram sempre sobre uma determinada temática parcelar e se debruçaram sobre aspetos que, na maioria das vezes, diziam respeito à Igreja e ao mundo, este é diferente, pois não estuda setores, mas critérios e atitudes do seu próprio funcionamento” – declarou o bispo do Porto.

O próximo Sínodo dos bispos será em outubro de 2023 sobre o tema: “Por uma igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Tem uma fase diocesana em 2021/2022 e uma fase continental em 2022/2023.

O bispo do Porto recordou as três palavras-chave do Sínodo e revelou o seu desejo: “Desejo ardentemente que a nossa Diocese do Porto se situe dentro desta moldura geral e nunca a perca de vista. E que a leve até às últimas consequências. Para ser mais Diocese. Para ser mais Igreja” – frisou.

Destacamos aqui todas as interrogações que o bispo do Porto propôs para cada uma das palavras, como exemplo para a consulta sinodal:

Comunhão. O clero é constituído por “Pastores com cheiro a ovelha”? Os leigos conhecem os seus Pastores e exprimem-lhes simpatia? Relacionam-se mutuamente em clima de fraternidade ou ainda se vive uma «luta de classes» já morta e enterrada noutros domínios? Usam-se as redes sociais para fomentar o clericalismo e o anticlericalismo ou para solidificar o sentimento de pertença à mesma realidade? Como se faz a integração dos afastados? Nas paróquias, movimentos e obras sintonizamos mesmo com o plano pastoral diocesano? Os movimentos e correntes de espiritualidade constituem um enriquecimento de propostas comprovadas ao serviço de uma Igreja mais fiel à sua origem ou imaginam-se as únicas células válidas para todo o corpo?

Participação. Por intermédio da totalidade dos seus membros, a Igreja é mesmo esta casa de família edificada no meio dos seus filhos? Todos os cristãos participam na pastoral e vida da Igreja? Sentem-se envolvidos responsavelmente numa obra que é de todos? Somos uma Igreja de diálogo recíproco ou unidirecional de comando/obediência? Assumimos que os ministérios e os serviços, mesmo os ordenados, arrancam da condição de pertença ao mesmo povo e para serviço desse povo ou fraturamos esta base? A problemática vocacional diz respeito a cada um, às famílias e a todo o povo de Deus?

Missão. Pelo exemplo e pelo testemunho, preocupamo-nos com o crescimento da Igreja em qualidade e quantidade? Vivemos como nossos os êxitos e os dramas da Igreja? Aflige-nos ou não o sabermos que, em muitas zonas, a Igreja é perseguida e martirizada? Que contributo damos para minimizar esse sofrimento? Assumimos ou não a necessidade de uma conversão pastoral em chave missionária e ecuménica? Formamos ou não a fé para podermos intentar um diálogo cultural com setores que, quase sempre, agridem a Igreja por ignorância religiosa ou desconhecimento básico? Falamos da fé, mormente a nível da família, da paróquia e organismos eclesiais? «Damos a cara» pela Igreja?”

O bispo do Porto afirmou no final da sua homilia que o Sínodo é “um profundo exame de consciência, perante o Senhor e perante os irmãos na fé, realizado em contexto de oração, adoração e fervor. É isto mesmo que eu peço a todos e a cada um, particularmente no vosso contexto paroquial, familiar e de inserção no mundo”.

RS