Instituto Recreatório do Carmo desconhecido serviço de crianças e jovens no Porto (1906-1910)

Foto: Rui Saraiva

Novidades antigas.

O Arquivo Vaticano conserva um exemplar do opúsculo dedicado ao Instituto recreatório do Carmo, fundado pelo P. António Manuel da Silva Pinto Abreu.

Por Carlos Moreira Azevedo*

Nasceu em Mesão Frio em 1888 e faleceu em Cinfães em 1948. Estudou teologia em Lamego e ordenou-se em 1890. Passados dois anos veio para o Porto e foi capelão da Ordem Terceira de S. Francisco, depois vigário da Ordem dos carmelitas. Aí fundou a 23 de dezembro de 1906, com apoio do bispo, o Instituto Recreatório do Carmo, destinado a crianças pobres.

O Instituto tinha como finalidade “ministrar educação religiosa, moral e cívica à mocidade desde os oito anos de idade, aliar a esse ensino a instrução literária, artística, profissional e militar; incutir no espírito dos mancebos os sentimentos do brio, pundonor, ordem e amor à Pátria; prepará-los para a conquista do pão por meio de um trabalho honesto e produtivo”. Centenas de crianças receberam instrução gratuita, aprendizagem de ofícios e instrução militar.

Esta dimensão permitia que participassem em paradas e festas no Norte, com suas fardas e armas cedidas pelo Ministério da Guerra. Alinhavam numa banda marcial completa. A instituição nascente terminou abruptamente com a implantação da República em 1910. Era presidente da Assembleia geral o bispo António Barroso.

Faziam parte da Comissão protetora ministros, o Conde de Samodães, o governador civil Adolfo da Cunha Pimentel, entre outras personalidades. Tinha sede na Igreja do antigo convento dos carmelitas e estabeleceu-se em casa alugada na rua do Triunfo, 226, em frente ao Palácio de Cristal, onde se realizaram vistosas quermesses, dia 2 e 3 de maio de 1908, para conseguir fundos.

Estas eram animadas pelas pessoas generosas da alta sociedade portuense, cujos nomes estão registados no livro mencionado, junto com curiosas fotografias. Conseguiram a significativa soma de um conto e novecentos e treze mil e trezentos reis.

Previa-se adquirir terreno e edifício próprio “amplo, desafogado, higiénico, balneários, oficinas de artes e ofícios, aulas teóricas e práticas de instrução primária, secundária e especial, com cursos comerciais e industriais”, um teatro infantil para 2.000 crianças, uma grande parada, recreios e campos de jogos.

O opúsculo transcreve excertos do livro de visitantes com elogios à obra e ao seu infatigável e visionário fundador. D. Manuel II, de visita ao Porto, a 1 de dezembro de 1908, é recebido na instituição.

A obra tinha internato e externato e necessitava de recursos materiais. Daí a publicação do apelo, referido no opúsculo ilustrado e datado de 1 de julho de 1909.

A curta vida do Instituto não permite verificar os resultados promissores que logo se vislumbraram. O P. Pinto Abreu vai a Roma em 1910 e o Núncio apresenta-o em carta ao Secretário de Estado Cardeal Rafael Merry del Val como “sacerdote pio, exemplar e zeloso” para ser abençoado pelo Papa. Refere que o padre percorrera várias cidades da Europa e tem sonho de se deslocar ao Brasil para recolher fundos.

O P. Pinto Abreu com um irmão fundaria o Colégio Vasco da Gama e seria professor de línguas em colégios portuenses.

*bispo e delegado do Conselho Pontifício da Cultura