Amarante: homenagem das paróquias ao padre Manuel Vilar

Foi em Ansiães, uma das paróquias em que o Padre Manuel de Almeida Sousa Vilar prestou serviço pastoral ao longo de mais de quarenta anos. Fora nomeado pelo Bispo D. António Ferreira Gomes em 5 de fevereiro de 1979 (como vigário ecónomo – pároco – de Candemil, Anciães (sic), Bustelo e Várzea (a que mais tarde associou também Aboadela) e iniciou a sua atividade pastoral em 4 de março de 1979, 1.º domingo da Quaresma. Faleceu, vítima de doença oncológica, em 13 de agosto de 2019, cumpriram-se já dois anos.

Foi num espaço desportivo de Ansiães, entre o arvoredo envolvente das faldas do Marão, sob a ameaça de uma chuva que se afastou, que aquelas paróquias o recordaram, numa sessão em que a simplicidade se associou à emotividade de uma recordação fagueira.

A Associação PROGUEDIR – Associação para o desenvolvimento Rural do Marão Ocidental, organizou um volume com o título Uma Narrativa em Memórias, Irmão entre irmãos – Padre Manuel Vilar, com um conjunto de depoimentos recolhidos, organizados e coordenados por Marília Cerqueira Guedes, onde ao longo de 250 páginas se reúnem, com dados históricos da sua presença, testemunhos eloquentes e simples de quase uma centena de pessoas, entre relatos de eventos, mensagens pessoais, lembranças de iniciativas, e sobretudo de presença saudosa, em palavras onde se revela a admiração e a gartidão. Ilustrado com numerosas fotografias reveladoras de um percurso pastoral de quarenta anos, bem como da sua origem familiar e do tempo de formação, o volume foi disponibilizado mediante oferta voluntária.

Avulta o testemunho do Bispo Armando Esteves, que mal chegado ao Porto acompanhou na sua primeira visita pastoral a última ação do P. Manuel Vilar, em que conta: “Foi o único padre a quem dei uma ordem! Numa noite em que não estava nada bem de saúde, após o jantar, “mandei-o ficar em casa e apareci sozinho em Ansiães para falar e depois confessar os jovens que iriam ser crismados. Obedeceu, sabe Deus com que transtorno interior!”, e acrescenta: “Um líder na verdadeira acepção da palavra que não precisava de gritar ou mandar: fazia e ensinava a fazer, caminhava e ensinava a caminhar”.

Na sessão ao ar livre ouviram-se palavras de Américo Miranda, da Associação Progredir, de Marília Gudes, coordenadora do livro de memória, do deputado Luís Ramos, que fez a apresentação do livro e de D. Armando Esteves. Presentes o presidente da Câmara de Amarante, e os Presidentes das Juntas de Freguesia próximas.

Registo as palavras de abertura de Patrícia Silva:

“Várias são as pessoas que cruzam os nossos caminhos mas… há quem passe nas nossas vidas…há quem fique nas nossas vidas… e há quem transforme as nossas vidas… E o senhor padre Vilar transformou a vida de tanta gente…

Alguém aqui presente disse uma vez que onde quer que o senhor Padre Vilar entrasse enchia o espaço simplesmente com a sua presença. E isso é verdade! Para quem o conheceu bem, sabe que se ele aqui estivesse, não estaria neste palco, mas sim no meio de todos vós (um irmão entre irmãos, como nos diz o livro), a percorrer o espaço com o seu casaco pelos ombros, e neste dia de chuva, com o seu chapéu na cabeça, a espalhar um sorriso rasgado até às orelhas, a levantar cachopos pelos cotovelos, a dar palmadas na testa de tantos e a arrancar gargalhadas com o seu sentido de humor tão característico. Certamente subiria ao palco e diria a quantos estão aqui “Não tendes mais nada para fazer, pois não?”

Pois é, senhor Padre Vilar, hoje somos nós que enchemos este espaço e lhe respondemos: Estamos aqui para lhe agradecer, para lhe dizer o quanto gostamos de si e para divulgar o valor da sua obra através deste livro!”

Estas palavras resumem o que ali foi dito e o que está escrito no livro, e também o que ele próprio escreveu nos jornais locais, como os editoriais da “Águia do Marão”, “um espaço onde possam revelar-se os talentos que por cá existem”. Esta capacidade de atenção às gentes e às idades foi uma das notas da sua presença e da sua ação pastoral. “Com a exigência e a sabedoria de mestre, com a afeição e fervor de pai e com o interagir natural de irmão, o nosso padre Vilar passou como um rasto de luz, mas o seu brilho continuará…” (Marília Cerqueira Guedes).

Vários colegas o lembraram com palavras e com o coração, como lembrou Serafim Ascensão: “Encheu o altar, encheu montes e vales, entrou na vida das pessoas… como pessoa humana, natural, simples e humilde, dedicado ao seu ministério até à exaustão”.

Recordamos também o Manuel Vilar como uma visita frequente das segundas feiras na Livraria da Fundação Voz Portucalense: vinha pelas novidades impressas, mas vinha também para o diálogo e a presença. Por isso também nós, estimulados pela grandeza emocionada das palavras do livro de homenagem, pela quantidade e qualidade dos testemunhos, recordamos a sua memória como um dom de Deus.

CF