
Sinodalidade não é palavra nova, mas tem vindo a adquirir protagonismo nos dias que correm, pela proposta do papa Francisco como linha de força orientadora para a realização do próximo Sínodo dos Bispos, inicialmente previsto para 2022 mas agora agendado para Outubro de 2023.
Por M. Correia Fernandes
A reflexão que temos vindo a divulgar sobre este tema é composta por numerosas fórmulas que visam realizar o sentido da palavra e das suas componentes de ação. Sínodo é palavra de origem grega, composta de dois termos: o prefixo Syn (que traduz a ideia de conjunto e simultaneidade) e o substantivo odos, que designa caminho. Este caminho, originariamente físico, torna-se agora simbolicamente pessoal e comunitário, envolvendo as pessoas e toda a Igreja.
Na sequência da apresentação deste tema no número anterior da Voz Portucalense, propomos hoje um conjunto de cinco pontos de incidência, que complementam o sentido e o conteúdo desta dimensão que importa desenvolver, a partir da reflexão produzida pelo Cardeal António Marto, que propõe o desenvolvimento nas comunidades de uma pedagogia sinodal.
Essa pedagogia sinodal orienta-se para valorizar os carismas, os ministérios e serviços de todos os fiéis, procurando integrá-los na comunhão eclesial, edificando e cuidando de um trabalho pastoral em rede. Este é um repto que deve ser assumido por toda a Igreja (hierarquia, movimentos, congregações religiosas, organizações laicais, movimentos vocacionais, ação social). O Sínodo é assim entendido não apenas como uma reunião ou encontro de Cardeais, Bispos, sacerdotes e alguns peritos convidados, mas encontro de toda a comunidade cristã e humana, procurando aliar também as forças sociais marcadas pelo espírito dos grandes valores humanos da solidariedade, da justiça e do bem comum. Procura superar-se aquele dado que mostra que muitos sectores, serviços e movimentos pastorais operam por vezes isoladamente no seu campo e no seu universo, ignorando-se sem procurar colaboração.
Entre as atitudes em que o estilo sinodal se deve concretizar, a primeira deve ser a de escutar com interesse e respeito o dom dos outros, os jovens e as famílias, as questões nascidas das situações reais da vida.
Desta forma, o estilo sinodal postula um trabalho em equipa, nas situações a analisar e nas tarefas a realizar, como programar, distribuir e delegar os projetos e os gestos construtivos, valorizando o carisma de cada grupo ou movimento.
Por outro lado, a comunhão eclesial reclama que pessoas e organismos se preocupem antes de mais com o bem da Igreja como povo de Deus, integrando as orientações diocesanas, como membros unidos do mesmo corpo e com os mesmos ideais.
A concretização de uma pedagogia sinodal realiza-se igualmente através do bom funcionamento dos Conselhos Pastorais nos vários níveis da Igreja (paroquiais, vicariais e diocesanos), pela participação conjugada de todas as equipas de pastoral.
O Papa Francisco já em 2017 propunha: “Caminhar em conjunto é a via constitutiva da Igreja; o código (“la cifra”) que permite interpretar a realidade com os olhos e o coração de Deus; a condição para seguir o Senhor Jesus e tornar-se servos da vida neste tempo ferido. A respiração e a caminhada sinodal revelam-nos aquilo que somos e o dinamismo de comunhão que anima as nossas decisões. Apenas neste horizonte podemos renovar verdadeiramente a nossa pastoral e adequá-la à missão da Igreja no mundo de hoje; só assim poderemos enfrentar a complexidade deste nosso tempo, reconhecer o percurso realizado e a decisão de o continuar com determinação” (Discurso na abertura da 70.ª assembleia geral da Conferência Episcopal Italiana, maio de 2017).
Esta é também mensagem sua: “Escutemos, discutamos em grupo, mas sobretudo prestemos atenção ao que o Espírito Santo tem para nos dizer”. Palavras que completam as de 1915, referidas na edição anterior: “A Igreja não é outra coisa que caminhar juntos”.
E lembramos também as palavras do Cardeal António Marto: “A partir da forte ênfase espiritual entenderemos facilmente a diferença entre sinodalidade e parlamentarismo ou engenharia institucional, ou politização de poderes por fações ou grupos”.
Construção da sinodalidade: seja um projeto em desenvolvimento!