
Partilho, neste espaço, os temas que me inspiram a continuar o caminho de construção do Reino de Deus, bem como aqueles que me poderão deixar mais inquieta nesse mesmo caminho.
Por Sofia Salgado Pinto*
Por uma via ou outra, são temas que não me deixam ficar instalada e que me impelem à reflexão/ação. E começo por um conjunto de temas que são para mim sinais de esperança. Esperança de que este mundo em que vivemos pode ser melhor. Esperança nas pessoas e na sua capacidade de ação.
Hoje, o tema é a Economia de Francisco. A “Voz Portucalense”, publicou alguns artigos sobre a Economia de Francisco, aquando da realização dos eventos mundiais e também no seu rescaldo. Eu trago aqui, aquilo que para mim tem especial significado e que é sinal de Esperança. O ser um movimento de jovens, que promove o encontro e a discussão de temas críticos para a sociedade e a sua economia, tendo por referência o Evangelho e o respeito pela Criação.
A Economia de Francisco (EoF), começa por ser um apelo do Papa Francisco aos jovens para se encontrarem e para pensarem numa economia diferente, uma “que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, que cuida do meio e não o devasta”. Para pensarem no que permite mudar a economia atual e atribuir uma alma à Economia de amanhã. E porque precisamos de uma outra Economia? O mundo em que vivemos tem muitas pessoas que vivem na margem, que são excluídos. Há fome, pobreza, falta de água, falta de educação acessível a todos, etc. O mundo produz alimentos suficientes, mas há muitas pessoas a morrer à fome. Sabemos que esta forma económica, de acesso aos recursos, da sua transformação e distribuição, não serve, não é sustentável, nem agora nem no futuro!
O nome internacional do movimento é “The Economy of Francesco”. E propositadamente se mantém Francesco em italiano, para remeter para Francesco de Assisis, o santo (S. Francisco de Assis) que há 800 anos assumiu o seu papel na reconstrução da casa de Deus, e que o fez a partir do respeito pela natureza e pela sua grandiosidade e, na humildade do cuidado a cada irmão.
E então, o Papa faz um apelo aos jovens. Não pede um novo modelo económico ou uma nova filosofia, mas apela à ação! E este apelo é feito a todos os jovens economistas, empreendedores, ativistas, e a todos os interessados. O Papa Francisco terá certamente acesso aos melhores pensadores e especialistas económicos, mas resolveu pedir aos jovens, interessados nesta matéria, sendo ou não especialistas no tema. O que releva não é o expertise, mas a articulação de saberes diferentes e de olhares. E o apelo é feito aos jovens, pois precisamos de um “olhar novo”, que acredite, que seja criativo, que não defenda o status quo, que não diga “isso aqui não funciona”, mas que possa questionar “e como é que isso funcionaria aqui? Ou que outra solução poderíamos encontrar? E para quem pensa que os jovens não querem saber ou estão distantes dos problemas, sou testemunha de que são muitos e em muitas geografias, os jovens que já estão envolvidos e empenhados neste movimento. Que belo sinal de esperança!
E interessante é, também, que o Papa apela ao “encontro” e ao caminhar em conjunto. O Papa não desafia os prémios nobéis a encontrar o melhor modelo económico, mas sim ao trabalho em conjunto e em “encontro” que permitirá compreender a raiz dos problemas e caminhar para a solução e para a melhor solução para cada problema.
O primeiro encontro mundial da EoF realizou-se em novembro de 2020. Realiza-se no dia 2 de outubro, este fim de semana, um segundo encontro internacional onde o grupo português também participará. A nível global, o encontro será feito por meios virtuais. Em Portugal, os jovens vão estar juntos, no convento do Varatojo, a partir de onde participarão e assistirão ao encontro mundial, mas também, onde terão tempo para pensar caminhos para uma economia nova.
A mensagem do Papa Francisco, no final do encontro mundial, em novembro de 2020, apelou a que cada um seja fermento a partir do lugar em que está. Que ao sair desta crise, o façamos de uma melhor forma, usando as oportunidades de mudança que ela nos traz, para o bem. Não escolhamos atalhos. No cuidar da casa comum, não há atalhos, mas caminhos que se fazem por completo.
Sabemos que o futuro continuará a ser imprevisível, mas que em comunidade da EoF saibamos construir um Nós que não exclua ninguém. Que privilégio tem sido acompanhar este caminho da EoF Portugal!
*docente da Católica Porto Business School