Por M. Correia Fernandes
- Recebi pela hodierna via mais frequente para quem anda de celular na mão (abrasileiremos também o telemóvel nacional para o celular brasileiro – eles sempre são mais falantes do português), uma interessante mensagem que vem de encontro a propostas que por aqui temos humildemente feito, reconhecendo que de pouco servem para atendimento comum, mas salve-se a intenção.
Afirmava então a mensagem:
Não é Burnout, é esgotamento (físico ou mental, causado por excesso de trabalho)
Não é Challange, é desafio
Não é Charmoso, é adorável, encantador cativante fascinante
Não é Closets, é armário, arrumos despensa cubículo
Não é Coach, é treinador, instrutor [Nem Coaching, orientação, indicação]
Não é Em stock é em armazém, em reserva
Não é Fake, é falso
Não é Full-time, é tempo completo, integral
Não é Know-how, é saber fazer, ou conhecimento teórico-prático
Não é Like, é gosto
Não é Link, é ligação
Não é Outdoors, é cartazes exteriores, de rua
Não é Part-time, é tempo parcial, meio tempo
Não é Startup, é nova empresa, empresa iniciante
Não é Stress, é tensão
Não é Take-away, é para levar
Não é Voucher, é vale (de desconto)
Não é Workshop, é sessão, seminário ou curso de curta duração [ou grupo de trabalho].
Podíamos encontrar outras designações que todos os dias vão surgindo, como o Streaming (transmissão), Input (entrada), Offshores (longe ou ao largo da costa), Online (em linha), Facebook (?) e desde logo a moderna Taskforce, ainda que digna de louvor (pela ação, não pelo nome), e por aí adiante.
Reparamos que muitas desta novidades linguísticas nascidas do inglês/americano, têm também origem no latim, como o in e o on, o line (do latim linea), o time (do latim tempus), a force e grande número de palavras da linguagem quotidiana e técnica em inglês.
Estranho é que o nome oficial dos vales de desconto proporcionados pelo Estado português no sistema de incentivos designado IVoucher seja uma promoção do próprio Estado, cuja missão deve ser também a defesa da língua portuguesa, em vez da promoção da língua inglesa através dos habilidosos técnicos dos gabinetes ministeriais.
Parece porém que os organismos oficiais, bem como os líderes (cá está outro) políticos parecem ser mais promotores de termos de origem inglesa do que a tradução dos conceitos em termos de origem portuguesa. Falar estrangeiro torna-se chic a valer, como disse já o Eça de Queiroz, que embarcou e exemplificou já o sistema.
- Num dos últimos dias, não sem espanto, embora razoável e justificado, um desafio de futebol entre uma equipa portuguesa (o Braga) e outra europeia foi dirigido por uma mulher árbitro. Alguns lhe chamaram árbitra, de forma razoável, porque é o feminino natural de árbitro segundo as normas da construção do feminino em português. Lembrei-me logo da semelhança com a forma maestro, que quando exercida por mulheres, muitos teimam em chamar maestrina (o feminino de maestrino, maestro pretensioso e de baixa classe). Pela mesma ordem Falsa) de ideias, às mulheres árbitros se chamaria de arbitrinas (!). Desconfio que ainda vai pegar, como pegou a forma insensata de paralímpicos, para designar os jogos de pessoas com limitações físicas ou psíquicas, à semelhança e na continuação dos Jogos Olímpicos e que obviamente se chamariam corretamente paraolímpicos, ou quando muito parolímpicos. São os dramas da linguagem por imposição americana.
Agora só me sinto mais que nunca confundido é por continuar a ouvir as gentes de Lisboa, sejam ministros, sejam políticos, sejam agentes do universo mediático a repetirem o púrque (em vez de porque) ou rúbrica, em vez de rubrica, ou a soltarem gargalhadas por aquilo que os próprios dizem. São feitios.
- Façamos higiene visual
As nossas ruas encheram-se de cartazes de publicidade eleitoral. Estão por todo o lado, e assim continuam. Constituem um mau exemplo de poluição. A poluição não é apenas orgânica, mas também sonora e visual. Por isso, uma ação civicamente ecológica é proposta aos partidos e organizações políticas eleitorais: como aproveitaram a oportunidade da publicidade, aproveitem também a oportunidade da ecologia Equilíbrio da natureza é também o equilíbrio das pessoas e do senso comum. Já que não há essa obrigatoriedade legal, usem ao menos usem a do senso comum, e retirem dos olhares da população a propaganda que não serve para nada.
Usem pois a ecologia do senso comum.