“A atual crise climática diz muito sobre quem somos e como vemos e tratamos a criação de Deus. Estamos diante de uma justiça implacável: a perda da biodiversidade, a degradação ambiental e as mudanças climáticas são as consequências inevitáveis de nossas ações, pois temos avidamente consumido mais recursos da Terra do que o planeta pode suportar.
Por Joaquim Armindo
Mas também enfrentamos uma injustiça profunda: as pessoas que suportam as consequências mais catastróficas desses abusos são as mais pobres do planeta e aquelas que tiveram a menor responsabilidade por causá-los. Servimos a um Deus de justiça, que se deleita na criação e cria cada pessoa à imagem e semelhança de Deus, mas que também ouve o clamor dos pobres.” – esta uma das afirmações que contém a mensagem conjunta para a Proteção da Criação, que, pela primeira vez, juntou o Sua Santidade Papa Francisco (Igreja Católica Romana), Sua Santidade Bartolomeu I (Igreja Ortodoxa), e o Arcebispo de Cantuária Sua Graça Justin Welby (Comunhão Anglicana). Uma bonita mensagem por dois motivos: um primeiro ser a primeira vez que os três hierarcas se juntam para falar sobre este tema “Tempo da Criação”, e um segundo pela substância que se extrai dos conteúdos. Só um senão, é se ele é ignorado nas diferentes igrejas particulares – dioceses, leia-se – e, concomitantemente, em cada paróquia ou movimento; isto é o mais importante da mensagem, que fosse lida e compreendida e ativada no quotidiano dos cristãos e das cristãs.
A mensagem depois de fazer referência à Sustentabilidade – nas suas vertentes, económica, social e ambiental-, e de chamar à atenção para este grito dos pobres, conduz-nos a uma trajetória biunívoca: não se calará o Grito da Terra sem calar o Grito dos Pobres, e o contrário também é uma verdade, por isso a referência à Sustentabilidade. Mais diz: que já hoje estamos a pagar a nossa incoerência respeitante à Criação, cujos desastres naturais têm tido um custo elevado, com deslocamentos de milhões de pessoas, mas no dia de amanhã as crianças e os adolescentes de hoje, assumirão as consequências dos maus-tratos que são infligidos nestes tempos à Criação, no seu todo.
O “imperativo da cooperação” levou estes altos signatários a escreverem ao mundo, e aos cristãos em particular, para que sintamos o quão vulneráveis somos – veja-se o COVID -19 -, e a apelarem para juntos vencermos as crises eu se deparam: “sanitária, ambiental, alimentar, e económica e social, todas profundamente interligadas.”