Domingo XXV do Tempo Comum

Foto: Rui Saraiva

19 de Setembro de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro da Sabedoria                                                                            Sab 2,12.17-20

«Se o justo é filho de Deus, Deus o protegerá e o livrará das mãos dos seus adversários».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 53 (54)

O Senhor sustenta a minha vida.

 

Leitura da Epístola de São Tiago                                                                       Tg 3,16–4,3

«O fruto da justiça semeia-se na paz, para aqueles que praticam a paz».

 

Aclamação ao Evangelho           cf. 2 Tes 2,14

Deus chamou-nos por meio do Evangelho,

para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos                       Mc 9,30-37

«Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia».

«O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».

«Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe»

 

Viver a Palavra

Caminhamos com Jesus como aprendizes na escola da arte de amar e vemos o Mestre fazer-se presente e próximo das nossas dúvidas, anseios e desejos tantas vezes marcados pelos nossos esquemas calculistas e ambiciosos. Jesus é o pedagogo paciente que uma vez mais anuncia a vontade do Pai: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Repete pela segunda vez e ainda há-de comunicá-lo no Evangelho de Marcos uma terceira vez. Jesus anuncia novamente o desígnio do Pai porque o que é importante deve ser repetido e nós como os discípulos precisamos de o ouvir de novo, porque temos dificuldade em acolhê-lo. A nível antropológico repete-se o que é essencial e vital e a nível teológico a repetição reformula o acontecimento fundamental da salvação.

Surpreende-me sempre este espanto e escândalo dos discípulos e ainda mais o medo de interrogar Jesus. Eles caminham com Jesus desde a Galileia, viram os seus milagres e prodígios: os cegos a ver, os coxos a andar, a filha de Jairo a ressuscitar, uma multidão saciada com cinco pães e dois peixes… Escutaram as Suas palavras cheias de amor e misericórdia e contemplaram o modo como Jesus acolhia aqueles que vinham ao Seu encontro. Contudo, homens como nós, os discípulos têm dificuldade em escutar até ao fim. Jesus não disse apenas que irá sofrer e morrer, anuncia também que, três dias depois de morto, ressuscitará. Contudo, estamos diante de uma linguagem nova que parece incompreensível para os nossos ouvidos e conceitos.

Jesus é o Servo fiel e obediente à voz do Pai a quem armam ciladas «porque incomoda» e a quem querem matar para verem «se as Suas palavras são verdadeiras». Jesus faz ecoar na Sua vida as palavras do salmista: «o Senhor sustenta a minha vida» e caminha confiante, fiel e obediente ao projecto do Pai.

A Sua vida entregue é o convite a superar os nossos desejos de grandeza, pois tantas vezes como os discípulos perdemo-nos e ocupamo-nos em discussões inúteis, tal como nos recordava o Papa Bento XVI: «nós, que somos pequeninos, aspiramos a parecer grandes, a ser os primeiros; enquanto Deus, que é realmente grande, não tem medo de se humilhar e de se fazer último». Por isso, Jesus não os repreende, mas como o pai de família senta-se com eles para lhes recordar a nova lógica do amor, da humildade e da bondade e não se limita a fazê-lo com palavras: «tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a». Jesus conhece no silêncio as preocupações dos discípulos e está atento aos seus anseios e sonhos. Jesus irrompe na nossa vida e convida-nos a perder para ganhar: cala os nossos jogos de interesses com a serenidade da humildade. Jesus, abraçando-nos como crianças, pois ainda temos tanto para aprender, ensina-nos que «na corrida do amor chega primeiro quem se esqueceu de si para que os outros também cheguem».

A nova lógica do amor impele-nos a sair de nós próprios para acolher o outro e inscreve a nossa vida na verdadeira sabedoria de que fala S. Tiago. Sabedoria que vem do alto e que não se compadece de invejas e ciúmes, rivalidades e competitividade, mas se vive pela generosidade, misericórdia, bondade e fraternidade.

 

Homiliário patrístico

Do Livro de São Gregório de Nissa, bispo,

sobre a vida cristã (Séc. IV)

Quem despreza totalmente as seduções da vida terrena e rejeita toda a glória mundana, sentir-se-á também movido a renunciar à própria vida. Renunciar à própria vida significa não buscar nunca a própria vontade, mas seguir sempre a vontade de Deus como sua única norma segura, e depois nada possuir que não seja necessário ou comum. Quem assim procede está livre e disponível para cumprir o que lhe mandarem os superiores, realizando-o prontamente, com alegria e esperança, como bom servo de Cristo, redimido para o bem comum de seus irmãos. Isto é o que quer também o Senhor quando diz: Quem quiser ser o primeiro e o maior entre vós, seja o último de todos e o servo de todos.

É necessário, porém, que tal servidão entre os homens seja gratuita, e aquele que a exerce há-de submeter-se a todos e servir os seus irmãos como se fosse devedor de todos e cada um deles. Na verdade, quem está constituído em autoridade deve esforçar-se por trabalhar mais que os outros pelo bem comum e ser para os súbditos um exemplo de humildade e uma imagem de serviço, considerando os seus irmãos como um tesouro que lhe foi confiado por Deus.

Por isso, os superiores devem comportar-se com a solicitude de bons educadores, como quem trata crianças de tenra idade que seus pais lhe confiaram.

Se vos sentirdes assim vinculados uns aos outros, tanto os súbditos como os mestres, aqueles obedecendo com satisfação às ordens e preceitos, estes promovendo com alegria os irmãos ao estado de perfeição, se assim procurais honrar-vos mutuamente, então a vossa vida na terra será semelhante à dos Anjos no Céu.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O mês de Setembro marca o recomeço de tantas actividades e ritmos laborais, escolares e pastorais. O Evangelho que a Liturgia da Palavra deste Domingo nos oferece é um bom ponto de partida para este tempo de projecção e programação. O anúncio da paixão e morte de Jesus com a garantia da ressurreição, bem como o convite à humildade e ao serviço são coordenadas fundamentais para pensar e renovar a acção eclesial, começando pela acção concreta de cada agente evangelizador.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura é um longo discurso dos ímpios que incita a armarem ciladas aos justos e condená-los à morte. A proclamação deste texto deve valorizar as formas verbais que marcam o ritmo e o tom da leitura. Na segunda leitura, deve haver um especial cuidado na proclamação da enumeração das características da sabedoria e nas frases interrogativas presente no texto. Além disso, é necessário ter em consideração as afirmações finais que estabelecem uma dinâmica de causa/efeito que deve ser clara na proclamação da leitura.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: Eu darei ao meu povo a salvação – A. Cartageno (CEC II 119); Salmo Responsorial: O Senhor receberá a minha vida (Sl 53) – M. Luís (SRML, p. 244-245); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Deus chamou-nos por meio do Evangelho – M. Carneiro (CN 51); Ofertório: Pedi e recebereis – A. Oliveira (CN 799); Comunhão: Tornai-vos como crianças – A. Cartageno (CN 968); Pós-Comunhão: Quem quiser ser grande – F. Santos (CP II, p. 190| CP II, p. 306); Final: Quero bendizer-vos – A. Cartageno (CN 850).