Mosteiro de Grijó recebe recriação de S. Teotónio e de D. Rodrigo Sanches

No fim de semana de 27 e 28 de agosto o Mosteiro de Grijó e sua monumental fachada clássica constituiu um enquadramento oportuno e valorizador para uma recriação de acontecimentos ligados a duas figuras que mantêm relação com o Mosteiro: São Teotónio, que foi fundador e notável prior do Mosteiro de Coimbra,  e D. Rodrigo Sanches, o filho bastardo do rei D. Sancho I, cujo túmulo, que está classificado como monumento nacional (1910) e se encontra agora em lugar nobre numa das capelas do claustro do Mosteiro de S. Salvador.

A recriação dos acontecimentos ligados às duas figuras foi apresentada pelo grupo “Décadas de Sonho, Eventos e recriações Históricas”, que tem sede em S. João de Ver (Feira). Os dois acontecimentos o espetáculo os reuniu sob tema “Lides de Gaia”.

A apresentação associou dois momentos históricos: o do relacionamento em Coimbra de D. Afonso Henriques com o Bispo D. Teotónio, que foi seu conselheiro e por quem o primeiro Rei de Portugal dedicou especial veneração e acolhimento; e o quadro das lutas entre os partidários do Rei D. Sancho II e o pretendente e futuro Rei D. Afonso III, cujo campo de ação se situou em Vila Nova da Gaia, possivelmente nas proximidades do Mosteiro.

Este D. Rodrigo Sanches, bastardo do Rei D. Sancho I, filho de Maria Pais da Ribeira, nos Cancioneiros medievais chamada “a Ribeirinha”, está assinalado num epitáfio que estaria destinado ao seu túmulo, como “príncipe digno de todo o louvor, honrado e sem engano”. (Ver O Mosteiro de S. Salvador de Grijó, por Deolinda Maria Pedrosa Moreira). O seu  túmulo, em pedra de Ançã, teria sido encomendado por sua irmã Constança Sanches e vindo de Coimbra por volta de 1263.

O Bispo S. Teotónio (1082-1162) está representado numa escultura existente no altar mor do Mosteiro, ao lado de Santo Agostinho. Foi prior da Sé de Viseu, de cuja diocese é venerado patrono, tendo renunciado a ser Bispo, razão pela qual a sua estátua tem a mitra aos pés, embora o báculo na mão.

Importa realçar a oportunidade do evento, pelo seu conteúdo histórico e dimensão cultural e pela qualidade da sua apresentação. Sendo um grupo amador, o conjunto do espetáculo foi notavelmente construído, quer pelo elenco de atores (o grupo desenvolve uma escola de teatro), quer pelo jogo de luminotecnia bem conseguido, aproveitando a frontaria do mosteiro e os adereços fabricados (o palco, a torre e mesmo a utilização de cavalos ajaezados convenientemente). Os acontecimentos históricos foram comentados cenicamente por coreografias juvenis que recriavam as festas, os cantos e encenações populares do tempo.

A apresentação dos dados históricos foi recriada de duas formas: por atores, homens e mulheres, que apresentavam narrativamente o acontecimento e por outros atores que interpretavam os acontecimentos através das suas personagens: o Rei e seus súbditos, o Bispo e seus acompanhantes.

Realça-se um dado histórico: o Bispo obteve do rei, que acedia às suas propostas, o perdão para um grupo de cristãos moçárabes a quem as forças reais queriam condenar e cuja libertação o Bispo solicitou: eis um sinal sugestivo para muitas guerras em que o respeito pela pessoas se deve sobrepor à vingança.

O conflito que conduziu à morte de D. Rodrigo Sanches resultou do conflito entre partidários do Rei D. Sancho II, contestado por causa da profunda crise económica e social que abalou o reino em virtude da escassez da alimentos e produtos, a quem o Papa havia retirado o direito à governação, tendo sido destituído em 24 de julho de 1245, pela Bula Grandi non immerito que depõe oficialmente Sancho II do governo do reino, e Afonso torna-se regente, abdicando da sua condição de Conde de Bolonha e assumindo depois a condição de rei de Portugal.

Foram estes os principais acontecimentos dramatizados e interpretados pelo grupo “Décadas de Sonho”, através da associação de duas dimensões complementares, a narrativa e a dramática. A encenação foi de Paulo Santos, com a equipa técnica de Miguel Ferreira e Tomé, e guarda-roupa de Paulo Gama, e o elenco de Joana Forjaz Pereira. Contou com o apoio da Paróquia de S. Salvador de Grijó, da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e da Junta de Freguesia de Grijó e Sermonde. No final o Pároco António Coelho de Oliveira transmitiu um agradecimento ao grupo, ao bispo D. Armando, à Câmara Municipal e à Junta de Freguesia e à participação de todos os presentes.

As imagens mostram momentos desta apresentação que, segundo afirma o próprio grupo, foi visto diretamente por mais de 300 pessoa e se encontra disponível no youtube, na página da paróquia de Grijó. O grupo anuncia a sua participação de 8 a 10 de outubro, em Pombal, com reconstituição de ambiente medieval.

CF