
Parece que se abrem horizontes de boas esperanças. Reduzem-se as limitações e aguarda-se a normalidade do relacionamento humano e social. Dos males da pandemia três há que têm marcado as pessoas e a sociedade: as ausências, o afastamento e o desconhecimento no relacionamento humano. Quantas vezes nos falam ou nos pedem uma palavra sem que saibamos de quem ouvimos ou a quem dirigimos as palavras.
Por M. Correia Fernandes
A proposta apresentada pelo Bispo da Diocese da celebração da Missa Crismal em 11 de setembro, adiada do seu contexto pascal, pode permitir um contacto de todos, embora continue mascarado. Ela surge também no contexto do início do Plano Pastoral elaborado para 2021/2022. A afirmação do seu título “Levanta-te! Juntos por um caminho novo” constitui uma proposta de esperança e de abertura para a retoma das habituais formas de relacionamento. Na proposta do Bispo Manuel Linda, acentuam-se três dimensões para este futuro de agora: “a necessidade de reconfigurar a comunidade eclesial, a urgência de envolver toda a Igreja com as famílias na preparação da Jornada Mundial da Juventude e a valorização da “sinodalidade”, atitude e forma de ser Igreja.
Todos sabemos que o panorama das nossas atividades e vivências eclesiais se modificou nos últimos dois anos: a situação das pessoas não é a mesma, as formas de agir não são as mesmas, e como a ação conduz ao entendimento das coisas e da vida, as formas de pensar e de reagir não são as mesmas. As nossas famílias e as nossas habituais comunidades de encontro e de ação deslaçaram o seu relacionamento e a sua presença.
As propostas pastorais sugerem “ressurgir da pandemia”, renovar o tecido das comunidades cristãs, revitalizar os grupos e a formação, criando novas propostas de ação, exercer uma “criatividade pastoral”, acentuando a vivência das famílias cristãs como fermento inspirador de todas as comunidades e de toda convivência humana. Os cristãos na sociedade, particularmente neste tempo de eleições autárquicas, devem tornar-se exemplo de empenhamento na vida social, cultural, política, orientados sempre para o bem comum e para o sentido da construção. São positivas muitas mensagens eleitorais, mas importa desbravar os caminhos que a elas conduzam.
Os cristãos que atuam na sociedade, tal como os responsáveis da Igreja e da Fé, terão de confrontar-se com novos paradigmas de presença e de ação, em confronto com as propostas de uma cultura que importa humanizar, para valorização do sentido ético das atuações, seguindo as sugestões da ecologia humana do papa Francisco.
Importa agora fomentar a retoma da celebração presencial da Eucaristia, simplificar processos e normas, promover e valorizar o encontro e o diálogo perdido, lembrar que é na participação e na celebração que se afirma a vivência cristã e o modelo de presença no mundo. O papel da formação evangélica e do acolhimento das famílias deverá tornar um novo gérmen de vida cristã e de vivência quotidiana.
Nestes dias em que entramos em campanha eleitoral para as autarquias, vale a pena lembrar o sentido desse gesto, reafirmado já por mensagens dos bispos portugueses: os autarcas não devem ter por fito o exercício do poder mas a dinâmica do serviço. A ação dos cristãos na ação política deve tornar-se politicamente inspiradora. Vai neste sentido a afirmação do Papa Francisco: “O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre os indivíduos, mas também «as macro-relações como relacionamentos sociais, económicos, políticos». (Laudato Sì, n. 231).
Para os cristãos, importa pois revitalizar o sentido da participação nas celebrações, nas atitudes, no trabalho e nas ações de intervenção na comunidade humana. É neste sentido que o Papa fala de “amor político”, uma nova expressão do estar no mundo, na família, na ação politica, na intervenção social.
Não esquecer: “Com efeito a Eucaristia é, por si mesma, um acto de amor cósmico. Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo» (Ib. n. 236).