Lembrando D. António Barroso

Como disse D. António Francisco, “um hino de gratidão, rezado com fé, anuncia sempre uma hora de esperança.” Assim o cremos.

Por João Alves Dias

Quando passa o 103º aniversário da morte de D. António Barroso, recordo o ‘Te Deum’  que, na Sé, o Coro Gregoriano do Porto cantou no ‘Dia da Voz Portucalense’ de 2014, fazendo memoria do que, 100 anos antes, havia solenizado o seu regresso à Casa-Mãe da Diocese após o primeiro exílio.

D. António Francisco dos Santos presidiu com o báculo e a mitra que tinham sido oferecidos ao nosso Prelado ‘Venerável’. Na pagela comemorativa, entregue aos participantes que enchiam a Catedral, inscreveu-se uma breve resenha biográfica:

– 21/2/1899, D. António Barroso é nomeado bispo do Porto. – 2/8/1899, chega ao Porto. Na igreja de Santo Ildefonso organiza-se o cortejo a pé que o conduz até à Sé. – 23/4/1901, em nome do episcopado, entrega ao Rei uma carta coletiva sobre as congregações religiosas. Começa o seu calvário. – 24/12/1910, é publicada a Pastoral Coletiva dos bispos portugueses. O Governo proíbe a sua leitura. – 2/3/1911, em carta, D. António defende a leitura da Pastoral Coletiva. – 7/3/1911, o Governo destitui-o das funções de bispo do Porto e proíbe a sua presença em qualquer parcela da diocese. Começa o seu primeiro exílio no Colégio de Cernache de Bonjardim donde passará para Remelhe. – 12/6/1913, é julgado no tribunal de S. João Novo por ter vindo a Custóias ser padrinho, em representação do Papa Pio X. É absolvido. – 3/4/1914, amnistiado, regressa ao Porto e vai viver para o Paço de Sacais, no Bonfim. – 4/4/1914, solene ‘Te Deum’ na Sé. – 7/8/1917, é condenado a dois anos fora da diocese e distritos limítrofes, por ter autorizado três senhoras de uma associação religiosa a viverem juntas em Vila Boa de Quires. O 2.º exílio passa-o em Coimbra. – 20/12/1917, anulado o castigo, regressa ao Paço de Sacais onde morre em 31/8/1918.

Estes apontamentos foram enriquecidos com algumas notas da imprensa da época que agora relembro

– “Ei-lo que volta. Traz do exílio mais brancos os cabelos. Há todavia na sua face o mesmo sorriso afável e bom que atrai os corações e na luz dos seus olhos vibra ainda a centelha fina do brilhantíssimo espírito que o tom firme da voz revela.” (Lusitânia)

-“A caridade exerceu-a tão largamente, como o seu coração lho pedia. O preceito do Evangelho recebeu do ilustre Prelado a máxima consagração.” (O Primeiro de Janeiro)

– “O paço episcopal do Porto passou a ser o doce refúgio de quantos desventurados se acolhiam sob a protecção de D. António Barroso.” (O Comércio do Porto)

– “D. António Barroso era, para os crentes, um santo. O seu nome perdurará, luminoso e vivo como o nome cristalino e glorioso de um grande português.” (Voz Pública)

– “Nele a devoção religiosa era uma derivação do seu carácter, assentando no fundo de uma alma de clara bondade, onde acordavam os sentimentos da mais exaltada moral.” (O Primeiro de Janeiro)

–“ Escrevei na memória o seu nome e lembrança/E guardai para a vida a sua bela herança/De piedade, orações e sorrisos de Pai.” (A Ilustração Católica)

Animam-nos as palavras do papa Francisco: “A memória é uma dimensão da nossa fé. A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida. O crente é, fundamentalmente, uma pessoa que faz memória.”

“Fazei isto em minha memória. (Lc 22,19)”