Tempo da Criação: União com a cultura

Defender a Criação, organizar um Tempo da Criação, é um manancial que não se esgota num mês, mas faz bem que as Igrejas das várias tradições se unam e declarem que é uma ação urgente defender o Planeta e o Cosmos, porque são a nossa Casa.

Por Joaquim Armindo

Defendo o diálogo ecuménico de todos os seres viventes e não me escuso na defesa da nossa relação – sempre ecológica -, com os seres inertes, eles que nos contam histórias das vidas dos nossos antepassados. Tudo é um diálogo, porque tudo está interligado. O tempo está ligado às marés encapeladas dos mares, e estes fornecem bens para a nossa alimentação. O crime que se observa nas alterações climáticas está ligado ao crime contra a humanidade. O negacionismo climático – respeito todas as posições -, é cada vez mais triturado pela consciência das populações. Os povos amazónicos e outros povos aborígenes sabem quanto lhes custa um dito “crescimento”, a que alguns chamam “desenvolvimento”, dos que destroem, em nome do crescimento económico, as suas florestas e, mais, a sua forma de viver, os seus costumes, as suas vidas.

Por isso este Tempo da Criação é também um Tempo Cultural, de defesa de uma ecologia cultural, ligada aos povos. No fazer desenvolver o conceito ecológico que não estamos sós, com os nossos apetites madrastos. A cultura e a sua defesa, a história dos povos, são fulcrais para compreendermos a infinitude da nossa vida na sua espiritualidade. Que se limpem as praias e os montes, são atividades que fazem muito bem, mas, sobretudo, que não esqueçamos que a Criação precisa de um envolvimento cultural, para que ninguém suje, ninguém seja criminoso ao pensar que pode destruir a Casa Comum.

A celebração deste mês deve ser sobretudo uma “celebração cultural”, ninguém destrói a sua casa se estiver consciente de que ela é sua. Só através desta ecologia cultural poderemos obstar às alterações climáticas, se formos a tempo!, só a partir dela compreendemos o papel dos passaritos, das rãs ou das estrelas e da lua. Por isso, este tempo é além do mais um Tempo Cultural, para defesa da Criação; sabemos que na Criação, no seu âmago, reside a Cultura, mas distraímo-nos ao passar ao lado dela.

As Igrejas fazem bem em lembrar um Tempo da Criação, se não esquecerem o Tempo Cultural que nela reside, capaz de transformar as mentalidades dos homens dos poderes, sobretudo do dinheiro. Se assim fizerem estaremos a caminhar para aquela Infinitude que ainda não compreendemos bem, mas que reside no nosso Jesus, o Deus – Connosco.