
8 de Agosto de 2021
Indicação das leituras
Leitura do Primeiro Livro dos Reis 1 Reis 19,4-8
«Fortalecido com aquele alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb».
Salmo Responsorial Salmo 33 (34)
Saboreai e vede como o Senhor é bom.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios Ef 4,30-5,2
«Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente».
Aclamação ao Evangelho Jo 6,51
Eu sou o pão vivo que desceu do Céu, diz o Senhor;
Quem comer deste pão viverá eternamente.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João Jo 6,41-51
«Eu sou o pão que desceu do Céu».
«Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia».
«O pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo»
Viver a Palavra
«Somos aquilo que comemos!».
Esta expressão é popularmente repetida e hoje aparece frequentemente ligada a planos alimentares e programas nutricionais, para sublinhar que o que comemos diz muito sobre nós, sobre o que somos e sobre aquilo que defendemos. Esta frase que parece recentemente inventada por algum publicitário remonta a Hipócrates, pai da medicina, que há mais de 2500 anos divulgou esta ideia, acrescentando: «que o vosso alimento seja o vosso primeiro medicamento».
Sabemos que a alimentação é fundamental para uma vida saudável e, hoje mais do que nunca, sabemos do impacto que as nossas escolhas alimentares têm na nossa vida. Conscientes que esta página não se destina a reflectir sobre planos alimentares e nutricionais, estas linhas servem apenas de prelúdio para tomarmos consciência que o «Pão vivo que desceu do Céu» não só sustenta a nossa caminhada como a configura e lhe aponta o rumo a traçar.
Como Elias temos consciência que temos um longo caminho a percorrer, ainda que tantas vezes possamos ser vencidos pelo desânimo e procuremos um junípero onde carpir as nossas misérias e soltar o nosso último suspiro. Também não nos contentamos com um pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água que entremeie o estado de apatia ou letargia em que nos encontramos, como se estivéssemos resignados a comer, beber e dormir até que o curso dos dias ache o seu fim.
Somos filhos do Deus do amor e da vida, chamados a inscrever a nossa existência num horizonte de eternidade que preenche de sentido os dias e as horas do nosso caminhar. Por isso, como nos exorta S. Paulo: «seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade». Afastemos de nós o que nos afasta de Deus e dos irmãos e sejamos construtores de uma vida verdadeiramente plena que possa fazer ecoar no coração de cada homem e de cada mulher as palavras que cantamos no Salmo: «saboreai e vede como o Senhor é bom».
Na verdade, é isto mesmo que nos revela Jesus: o nosso Deus bom e misericordioso é um Deus que somos chamados a saborear. A Sua vida entregue sem medida é pão partido e repartido para a redenção do mundo. Apresentando-se como o «Pão que desceu do Céu», Jesus depara-se com a perplexidade e admiração dos judeus que murmuram entre si sobre a loucura destas palavras. Um homem que se apresenta como alimento e, mais ainda, um alimento que vem do céu, quando eles até conhecem bem o Seu pai e Sua mãe.
Acostumados a estas palavras, não nos sentimos interpelar com a força que elas deveriam provocar em nós. Não somos alimentados por um pão qualquer, tampouco somos alimentados pelo maná que não evitou a morte daqueles que o comeram. Somos nutridos pelo Pão Vivo descido do Céu, pelo alimento que oferece vida em plenitude e prenhe de eternidade.
Jesus desce do céu, faz-se pão e oferece-se em alimento. Este é o dinamismo da incarnação que deve moldar a vida de todos aqueles que dele se alimentam: descer, fazer-se pão e oferecer-se. Nestas três formas verbais encontramos os pilares de uma vida verdadeiramente eucarística. Na verdade, se quando ingerimos algum alimento, os seus nutrientes são assimilados pelo nosso organismo, também todas as vezes que nos alimentamos do Pão da Eucaristia somos chamados a configurar a nossa vida com a vida Daquele que se quer fazer presente em nós.
Homiliário patrístico
Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir,
sobre a Oração Dominical (Séc. III)
Continuando a oração, suplicamos: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Isto pode entender-se no sentido espiritual ou literal, porque num e noutro sentido aproveita à nossa salvação. Mas o pão da vida é Cristo; e este pão não é o pão de todos, mas o nosso. E assim como chamamos Pai nosso, porque Ele é Pai dos que O conhecem e crêem n’Ele, também dizemos o pão nosso, porque Cristo é o pão daqueles que recebem o seu Corpo.
E pedimos que nos seja dado cada dia este pão, a nós que vivemos em Cristo e todos os dias recebemos a sua Eucaristia como alimento da salvação, para não suceder que, por algum pecado grave, sejamos privados da comunhão do pão celeste e nos separemos do Corpo de Cristo. Ele mesmo proclamou: Eu sou o pão da vida, que desci do Céu. Se alguém comer do meu pão, viverá eternamente. E o pão que eu hei-de dar é a minha carne pela vida do mundo.
Portanto, se Ele afirma que viverão eternamente os que comerem do seu pão, é evidente que possuem a vida aqueles que recebem o seu Corpo e participam rectamente na Eucaristia; mas ao mesmo tempo ensina que, ao contrário, é de temer, e devemos orar para que assim não suceda, que, abstendo-se da Eucaristia, alguns se separem do Corpo de Cristo e fiquem privados da salvação, como Ele próprio adverte: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Por isso, pedimos que nos seja dado cada dia o nosso pão, isto é, Cristo, para que nós, que permanecemos e vivemos em Cristo, não nos afastemos do seu Corpo que nos santifica.
Indicações litúrgico-pastorais
- Neste Domingo XIX do Tempo Comum tem início em Portugal a Semana Nacional da Mobilidade Humana. O tempo de férias e descanso não pode permitir esquecer quantos por motivações tão diferentes têm de se deslocar e fazer a experiência de serem estrangeiros e peregrinos. As comunidades cristãs devem estar atentas e criar processos de acolhimento e integração para que possamos traçar o «Rumo a um nóscada vez maior», como escreve o Papa na sua mensagem para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, a celebrar no dia 26 de Setembro. Nesta mensagem, o Santo Padre propõe a construção de uma Igreja cada vez mais católica e um mundo mais inclusivo. A oração proposta pelo Papa, no final da mensagem, pode ser distribuída pelos fiéis e ser rezada nas diversas Eucaristias desta semana, convidando as pessoas a terem essa intenção presente na sua oração pessoal.
- Para os leitores: na primeira leitura, deve ter-se em atenção à palavra «junípero» que se repete duas vezes durante a leitura, para uma correcta acentuação da palavra. Deve ter-se também em consideração as frases curtas e as intervenções em discurso directo, para uma leitura articulada e fluente. Na segunda leitura, estar atento às formas verbais na forma imperativa que evidenciam o tom exortativo que deve pautar a proclamação deste texto. Deve haver ainda um especial cuidado com a proclamação enumeração presente no texto: «azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade».
Sugestões de cânticos:
Entrada: Lembrai-Vos, Senhor, da vossa aliança – Az. Oliveira (NCT 89); Salmo Responsorial: Saboreai e vede como o Senhor é bom (Sl 33) – M. Luís (SRML, p. 232-233); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu sou o pão vivo que desceu do Céu – I. Rodrigues (CN 59); Ofertório: Onde há caridade verdadeira – C. Silva (CN 767); Comunhão: Eu sou o Pão vivo descido do Céu – C. Silva (NRMS 36 | CEC II, p. 103); Pós-Comunhão: Jerusalém, louva o teu Senhor – C. Silva (CEC II 98); Final: Louvai o Senhor, louvai – J. Santos (CN 591).