Domingo XVIII do Tempo Comum

1 de Agosto de 2021

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Êxodo                                                                                 Ex 16,2-4.12-15

«Apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa, fina como a geada sobre a terra».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 77 (78)

O Senhor deu-lhes o pão do céu.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios                                     Ef 4,17.20-24

«Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras».

 

Aclamação ao Evangelho            Mt 4,4b

Nem só de pão vive o homem,

mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                            Jo 6,24-35

«Subiram todos para as barcas e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus».

«Vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados».

«Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede»

 

Viver a Palavra

Atravessamos um contexto social e cultural marcado por rápidas e profundas transformações e se há uma constante no tempo em que vivemos é estar em estado permanente de mudança. Na verdade, no coração de cada homem e de cada mulher reside uma insatisfação que o faz partir à procura de um garante de estabilidade e equilíbrio que lhe ofereça um horizonte de plenitude e de sentido. Contudo, tantas vezes gastamos o nosso tempo e as nossas energias naquilo que não é capaz de satisfazer a verdade que o nosso coração anseia. Acredito que mesmo quando alguém entra num caminho mais árduo e exigente por escolhas menos acertadas e desviantes, o faz procurando o bem e a verdade, mas erra o alvo e os objectivos saem frustrados.

Num contexto marcado pela diversificação e a diferenciação, a proposta da fé emerge como uma entre tantas outras e o itinerário crente torna-se mais exigente, pois pode carecer de atracção e entusiasmo diante de tantas propostas aparentemente mais atractivas e entusiasmantes. Há, de facto, no coração humano um desejo de vida nova que tantas vezes é camuflado e aliviado pelas mudanças exteriores. Basta ver como na publicidade, repetidas vezes, surgem propostas de mudança de vida pela transformação da aparência física, com dietas e operações estéticas que procuram uma eterna juventude ou uma mudança de vida que rompa com o passado. «Sinta-se bem consigo mesmo!» é refrão que caracteriza uma sociedade do bem-estar que procura a satisfação imediata e a auto-realização pessoal. A proposta da vida cristã convida a percorrer o itinerário que nos conduz do «bem-estar» ao «bem-maior», isto é, à procura de um horizonte de plenitude e felicidade que nos faz entrar num caminho de renovação interior que cria em nós um modo novo de ser e de estar porque nos abre a um modo novo de servir e amar: «renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras».

As grandes transformações que o mundo anseia começam a partir de dentro, a partir do coração de cada homem e de cada mulher, e manifestam-se na vida concreta que o amor de Deus faz florescer quando a humanidade pela fé adere livremente à proposta que Deus lhe dirige. Não é uma mudança interior porque acontece no íntimo da pessoa e aí fica resguardada e escondida, mas interior porque nasce de uma opção fundamental que começa no íntimo do homem e se manifesta exteriormente, pela coerência de vida, nas acções concretas, no modo de ser e de estar no mundo.

Aquela multidão que procura Jesus, precisa ainda de purificar as motivações da procura. A frontalidade das palavras de Jesus – «vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados» – é o convite a recentrar a nossa procura. A procura daquela multidão está ainda centrada na lógica da satisfação das necessidades mais imediatas e prementes e não na gratuidade de Deus que nos oferece muito mais do que o nosso coração deseja e nos desconcerta pelo excesso de graça que recebemos. Enquanto procuramos coisas que possam preencher os nossos vazios, Deus oferece-nos uma Pessoa, Jesus Cristo, feito pão partido e repartido, que sustenta a nossa caminhada.

Para atravessar o limiar que nos oferece vida nova e verdadeira é necessário acolher a vida plena e eterna que nos oferece o Pão que desceu do Céu, conscientes que a obra de Deus não se realiza pela conjugação do verbo fazer, mas pela capacidade de deixar Deus acontecer nas nossas vidas pela fé que depositamos no Seu amor e na Sua graça.

 

Homiliário patrístico

Das Catequeses de Jerusalém (Séc. IV)

Existiam, na Antiga Aliança, os pães da proposição; mas esses, precisamente porque diziam respeito à Antiga Aliança, tiveram o seu fim. Na Nova Aliança, porém, trata-se de um pão do Céu e de uma bebida de salvação, que santificam a alma e o corpo. Como o pão é próprio para a vida do corpo, assim o Verbo o é para a vida da alma.

Por isso, não deves olhar para o pão e vinho eucarísticos como se fossem elementos simples e vulgares. São realmente o Corpo e o Sangue de Cristo, segundo a afirmação do Senhor. Muito embora os sentidos te sugiram outra coisa, tens a firme certeza do que te ensina a fé.

Se foste bem instruído pela doutrina da fé, acreditas firmemente que o que parece pão não é pão, muito embora seja sensível ao gosto, mas é o Corpo de Cristo; e o que parece vinho não é vinho, ainda que tenha esse sabor, mas é o Sangue de Cristo. Já antigamente, bem a propósito, dizia David nos salmos: O pão fortalece o coração do homem, e o óleo faz brilhar no seu rosto a alegria. Fortifica, portanto, o teu coração, tomando esse pão espiritual, que fará brilhar a alegria no rosto da tua alma.

Oxalá que, de rosto iluminado por uma consciência pura e reflectindo como num espelho a glória do Senhor, possas caminhar de glória em glória, em Cristo Jesus, Nosso Senhor, a quem seja dada honra, poder e glória pelos séculos sem fim. Ámen.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. Do Domingo XVII ao Domingo XXI do Tempo Comum, interrompemos a leitura do Evangelho de S. Marcos, evangelista deste Ano Litúrgico, para escutarmos o capítulo seis do Evangelho de S. João. O capítulo do Pão da Vida, como tantas vezes é designado, é o convite a recentrar a vida cristã na Eucaristia e descobrir em Jesus, Pão Vivo descido do Céu, o alimento que sacia a nossa fome e oferece novo sentido e configuração à nossa vida. Que estes Domingos sejam a oportunidade de caminharmos juntos renovando a consciência que a Eucaristia é «fonte e centro da vida cristã» (LG 11) e, preparando o novo ano pastoral, que possa ser a oportunidade de criativamente criar um dinamismo de escuta dos fiéis sobre o modo de colocar em prática um dos desafios do novo plano diocesano de pastoral: «ressurgir da pandemia: voltando com alegria à comunidade e à Eucaristia».

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, ter em consideração as diferentes intervenções em discurso directo que devem ser articuladas com o texto narrativo, tendo particular atenção nas introduções ao discurso directo. A frase final deve ser lida afirmativa e pausadamente como conclusão de todo o texto. A proclamação da segunda leitura deve ser marcada pelo tom exortativo, tendo especial atenção às formas verbais no modo imperativo.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: Vinde e contemplai as obra do Senhor – A. Cartageno (NRMS 84 | IC, p. 593); Salmo Responsorial: O Senhor deu-lhes o pão do céu (Sl 77) – M. Luís (SRML, p. 230-231); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Nem só de pão vive o homem – M. Carneiro (CN 51); Ofertório: O Senhor fez-Se alimento – A. Cartageno (CN 733); Comunhão: Saciastes o vosso povo – F. Silva (NRMS 90-91| CEC II, p. 90-91); Pós-Comunhão: Bendito seja Cristo, meu Senhor –  Popular (CN 253); Final: Bendito seja Deus – M. Simões (CN 251).