Mensagem (131): Elites fermentadoras

O tempo não é a soma de átomos, de momentos parcelares e pontuais. É antes o grande horizonte no qual se exerce a ação do homem, na correspondência (ou não!) ao plano de Deus. Inerente ao tempo está um sentido e uma direção. O tempo é uma espécie de folha em branco na qual a nossa liberdade escreve ações de salvação ou condenação. E Deus quer que sejam sempre e só ações de bondade e de bem.

Logo no início da história, registo desse tempo, diz-se que o seu significado consiste na colaboração com Deus na obra de aperfeiçoamento do mundo: “Crescei, multiplicai-vos, enchei e aperfeiçoai a terra” (Gn 1, 28). Claro que esta participação humana não se refere só à agricultura ou às construções, mas a uma sociedade e história que, na liberdade, promovam o plano de Deus: sentir-se filha deste Pai comum, assumir a lei da fraternidade universal e exercer um domínio consciente e respeitador sobre a natureza, casa comum desta e das futuras gerações.

Jesus tipifica a execução do plano divino: sob a moção do Espírito, faz da sua existência uma obra de melhoramento do mundo ao “pregar o Evangelho aos pobres, proclamar a libertação dos aprisionados e a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos e anunciar o tempo da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). Ele é o único Salvador porque reconduz à verdadeira direção uma história do mundo que teima em seguir outro rumo. Para isso viveu e por isso morreu.

Não pode ser outra a atuação dos cristãos, aqueles que, inseridos em Cristo “como o ramo na videira” (Jo 15, 5), vivem da seiva que é Ele mesmo: copiam-Lhe não só o nome, mas também os critérios de atuação e o zelo pela implementação do plano de Deus. Quer a título individual, quer associados com outros. Na certeza de que a junção em grupo ou comunidade potencia enormemente a ação e a torna muito mais eficaz do que a mera soma das obras de cada um.

Que o nosso mundo precisa disto, parece ser algo sem necessidade de demonstração. Mas foi sempre assim. O nosso tempo não é pior que os outros. Por isso, é sempre imprescindível a presença cristã no mundo, mormente por intermédio de minorias cultas, disponíveis, «espirituais», animadas do espírito evangélico. Verdadeiras elites que funcionem como fermento na massa. Ou «mensageiros de Deus» que, captando o espírito do tempo, ajudem o tempo a captar o Espírito de Deus.

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